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domingo, 20 de abril de 2025

Tiradentes Não Foi Enforcado? Uma Releitura Historiográfica com Base em Evidências Documentais e Silêncios Arquivísticos

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A execução de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, em 1792, consolidou-se como um marco simbólico da repressão portuguesa aos movimentos emancipacionistas coloniais. Entretanto, uma análise crítica da documentação da época revela silêncios significativos e contradições que colocam em dúvida a versão oficial de seu enforcamento. Este artigo propõe uma releitura historiográfica, explorando a hipótese de que Tiradentes não foi executado, mas sim retirado do cenário público por interesses políticos da Coroa portuguesa.

Introdução

O processo de mitificação de Tiradentes, transformando-o de réu subversivo em mártir da liberdade, foi forjado em camadas de discurso político, moral e ideológico. A versão consagrada – enforcamento seguido de esquartejamento – repousa sobre documentos cuja autenticidade, consistência e integridade têm sido postas em questão. O objetivo deste artigo é analisar criticamente os registros disponíveis e os silêncios históricos, a fim de sustentar a tese de que a execução pública de Tiradentes pode ter sido um artifício de dissuasão política e não um fato histórico comprovado.

A Narrativa Oficial: Fontes e Contradições

Os Autos da Devassa da Inconfidência Mineira constituem a principal fonte primária sobre o julgamento e a sentença de Tiradentes (SANTOS, 1992). No entanto, não há registro visual contemporâneo da execução, tampouco existe certidão de óbito, algo comum na burocracia colonial da época, especialmente para execuções públicas.

Além disso, o relatório do alferes português João de Almeida Melo e Castro, então governador do Rio de Janeiro, é vago quanto aos detalhes da execução. As informações posteriores que circularam na imprensa e nos livros do século XIX são fortemente marcadas por interpretações simbólicas e políticas, e não baseadas em observações diretas (GURGEL, 1995).

Os Silêncios do Arquivo: Onde Está o Corpo?

Não há registros confiáveis do paradeiro dos restos mortais de Tiradentes. Os documentos informam que partes de seu corpo foram enviadas a cidades de Minas Gerais para "servirem de exemplo", mas nenhuma dessas cidades guardou qualquer fragmento, relato ou evidência física do ocorrido. É curioso que, embora se afirme que sua cabeça foi exposta em Vila Rica (atual Ouro Preto), não há testemunhos diretos sobre o evento – apenas relatos muito posteriores e ambíguos (CORRÊA, 2002).

Hipóteses Revisionistas: Exílio, Colaboração ou Morte Oculta

Autores como José Antônio Corrêa e outros pesquisadores alternativos propõem que Tiradentes teria sido exilado ou colocado sob identidade protegida por ter colaborado durante os interrogatórios. De fato, a devassa revela que ele assumiu sozinho a responsabilidade por diversos pontos da conspiração, poupando figuras influentes da elite mineira. Essa atitude pode ter sido parte de um acordo com a Coroa.

Além disso, não há relatos fidedignos de sua execução, apesar de ela supostamente ter ocorrido na presença de uma multidão. Como observa Lilia Schwarcz, a iconografia de Tiradentes foi construída a posteriori com forte inspiração religiosa e cívica, sem base documental concreta (SCHWARCZ, 1993).

A Construção do Mito Republicano

Com a Proclamação da República, a imagem de Tiradentes foi apropriada como símbolo máximo do patriotismo. Seu rosto foi reinventado, sua barba comparada à de Cristo e sua morte transformada em sacrifício. Esse processo de sacralização apagou as dúvidas históricas e solidificou a versão oficial, como aponta o historiador Evaldo Cabral de Mello: "a República precisou de um mártir, e Tiradentes foi moldado para esse papel" (MELLO, 2004).

Considerações Finais

As inconsistências documentais, a ausência de provas físicas e o uso político da imagem de Tiradentes indicam que há margem sólida para se duvidar da versão oficial da execução. Este artigo não nega completamente a possibilidade do enforcamento, mas propõe que a versão dominante foi cuidadosamente construída — e talvez fabricada — por razões políticas, tanto pela monarquia portuguesa quanto pela república brasileira.

Referências Bibliográficas

  • CORRÊA, José Antônio. Tiradentes: Verdade e Mistério. Belo Horizonte: Editora Independente, 2002.
  • GURGEL, Cláudio. A Construção da Imagem de Tiradentes. Revista Brasileira de História, n. 30, p. 89-104, 1995.
  • MELLO, Evaldo Cabral de. Tiradentes: Uma Biografia. Rio de Janeiro: Record, 2004.
  • SANTOS, Antônio dos (org.). Autos da Devassa: Inconfidência Mineira. Brasília: Senado Federal, 1992.
  • SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
  • VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História Geral do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1940.

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