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terça-feira, 2 de dezembro de 2025

O Declínio dos Elétricos e a Ascensão da Gasolina: Uma Virada Histórica (1912–1960)

Imagem desenvolvida por IA
No início do século XX, o cenário automotivo era muito mais diversificado do que muitos imaginam. Longe de ser uma novidade exclusiva do século XXI, os carros elétricos eram concorrentes populares, disputando o mercado com os veículos a vapor e os incipientes modelos a gasolina. Eles eram silenciosos, limpos e fáceis de dirigir, características que os tornavam atraentes, especialmente para o uso urbano. No entanto, em poucas décadas, os carros elétricos praticamente desapareceram das ruas.

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A Invenção que Mudou Tudo: O Adeus à Manivela

Um dos maiores obstáculos dos primeiros carros a gasolina era seu método de partida. O motorista precisava girar uma manivela manual na frente do veículo, um processo trabalhoso, sujo e perigoso. O "coice" do motor — um contragolpe inesperado da manivela — era uma causa comum de fraturas e outras lesões graves. Essa dificuldade era a principal desvantagem da combustão em comparação com os elétricos, que ligavam com um simples apertar de botão.

Tudo mudou em 1912, quando a Cadillac introduziu o motor de arranque elétrico. A inovação foi desenvolvida por Charles Kettering, motivado por uma tragédia pessoal: a morte de um amigo próximo devido a complicações de um ferimento causado por uma manivela. O invento de Kettering eliminou o perigo e o esforço físico, tornando a partida de um carro a gasolina tão simples quanto a de um elétrico. De repente, a maior vantagem de conveniência dos veículos a bateria foi neutralizada.

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A Revolução de Henry Ford: O Carro para as Massas

Enquanto os carros elétricos eram produzidos de forma quase artesanal e vistos como itens de luxo para a alta sociedade, Henry Ford estava prestes a mudar a indústria para sempre.

Com a introdução do Ford Modelo T em 1908 e, fundamentalmente, a implementação da linha de montagem móvel em 1913, Ford revolucionou a produção. Ele conseguiu reduzir o tempo de fabricação de um chassi de 12,5 horas para apenas 93 minutos. Consequentemente, o preço do Modelo T despencou, tornando-o acessível para a classe média e transformando o carro em um meio de transporte de massa. Os fabricantes de carros elétricos, presos a métodos caros e lentos, simplesmente não conseguiam competir com essa escala.

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Petróleo Barato e Estradas para o Futuro

A virada econômica foi impulsionada pela descoberta de vastas reservas de energia. O marco inicial foi o gigantesco poço de Spindletop, no Texas, em 1901, que inundou o mercado com petróleo barato e tornou a gasolina um combustível abundante e acessível.

Paralelamente, o governo americano começou a investir pesadamente na infraestrutura viária. O ápice desse movimento foi o Federal-Aid Highway Act de 1956, assinado pelo presidente Eisenhower, que criou o Sistema de Rodovias Interestaduais. Essas novas estradas incentivaram viagens de longa distância, para as quais os carros a gasolina — com autonomia superior e reabastecimento rápido — eram perfeitos. Os carros elétricos, com alcance limitado, ficaram restritos às cidades, perdendo a batalha pela liberdade que a "estrada aberta" representava.

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Conclusão

A conveniência do motor de partida elétrico, a acessibilidade radical do Ford Modelo T e a dupla imbatível de combustível barato com uma infraestrutura em expansão criaram uma "tempestade perfeita". Essa confluência de eventos selou o destino dos carros elétricos por mais de meio século.

A história nos mostra que a tecnologia dominante não é necessariamente a "melhor" em termos absolutos, mas aquela que se encaixa em um ecossistema de preço, conveniência e infraestrutura. Hoje, enquanto vemos os carros elétricos ressurgirem, essa lição do passado é mais relevante do que nunca, lembrando-nos de que a história da indústria automotiva é um ciclo contínuo de inovação e disrupção.

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Referências Bibliográficas

BRINKLEY, Douglas. Wheels for the World: Henry Ford, His Company, and a Century of Progress. New York: Penguin Books, 2004.
KIRSCH, David A. The Electric Vehicle and the Burden of History. New Jersey: Rutgers University Press, 2000.

YERGIN, Daniel. The Prize: The Epic Quest for Oil, Money, and Power. New York: Simon & Schuster, 1991.