O Espetáculo de Tlatelolco
Para os astecas, o mercado (chamado tianquiztli em
náuatle) era muito mais do que um local de compras; era a espinha dorsal da
vida social. Enquanto Tenochtitlán era o centro político, sua cidade-irmã, Tlatelolco,
abrigava o maior mercado das Américas.
Quando os espanhóis chegaram em 1519, ficaram atônitos. Eles
esperavam encontrar selvageria, mas encontraram uma civilização sofisticada. O
soldado e cronista Bernal Díaz del Castillo registrou o choque europeu:
"Ficamos maravilhados com a multidão de pessoas e a
quantidade de mercadorias... e com a boa ordem e o controle que eram
mantidos."
Estima-se que, nos dias de pico (a cada cinco dias), entre 40.000
e 60.000 pessoas circulavam por ali. O ruído das negociações podia ser
ouvido a quilômetros de distância, uma cacofonia de línguas e dialetos de todo
o império.
Uma Organização Impecável
O caos era apenas aparente. O mercado era um exemplo de
urbanismo e logística, dividido em "ruas" temáticas. O visitante não
precisava procurar muito para encontrar o que desejava. As seções eram
rigorosamente separadas:
- Metais
e Luxo: Áreas exclusivas para ouro, prata e pedras preciosas.
- Aves
e Plumas: Venda de penas de pássaros exóticos (como o Quetzal),
essenciais para os trajes da nobreza.
- Alimentação:
A maior seção, com montanhas de milho, feijão, pimentas, tomates, peixes
frescos trazidos das lagoas e carnes (incluindo perus e cães criados para
consumo).
- Manufaturados:
Tecidos de algodão, cerâmicas complexas e ferramentas de obsidiana (vidro
vulcânico) afiadas como bisturis.
Dinheiro que dá em Árvore? A Economia Asteca
Como funcionava o pagamento? A base era o escambo (troca
direta), mas para facilitar a vida, os astecas desenvolveram um sistema de
"moedas-mercadoria" fascinante. Se você fosse às compras em
Tlatelolco, levaria na bolsa:
- Grãos
de Cacau: O "trocado" do dia a dia. Usado para comprar
frutas ou vegetais.
- Quachtli:
Pedaços de tecido de algodão padronizados. Eram como as notas de valor
médio.
- Canudos
de Ouro: Penas de ganso transparentes cheias de pó de ouro. Eram
usadas para grandes transações, como comprar escravos ou joias caras.
Juízes e Espiões: A Ordem Rigorosa
A segurança era levada a sério. Um tribunal com três
magistrados ficava de plantão no próprio mercado para resolver disputas na
hora. Vendeu gato por lebre? Roubou uma mercadoria? A punição era imediata e
severa, podendo variar da destruição dos bens do fraudador até a pena de morte.
Além disso, o mercado era o palco dos Pochteca. Eles
eram comerciantes de elite que viajavam longas distâncias buscando itens de
luxo. Mas tinham uma função secreta: atuavam como espiões do Imperador
(Tlatoani), trazendo notícias de terras distantes e observando o humor da
população no mercado.
Conclusão
Os mercados de Tenochtitlán e Tlatelolco eram o microcosmo
do Império Asteca: vibrantes, organizados e implacáveis. Eles provam que, muito
antes da chegada europeia, existia no México uma economia complexa que
conectava povos e culturas. O mercado não era apenas onde se comprava comida;
era onde a sociedade asteca se via no espelho.
Referências Bibliográficas
BERDAN, Frances F. The Aztecs of Central Mexico:
An Imperial Society. 1982.
CORTÉS, Hernán. Cartas de Relación. (Relatos
enviados ao Rei Carlos V, 1519-1526).
DÍAZ DEL CASTILLO, Bernal. História verdadeira da
conquista da Nova Espanha. (c. 1568).
SOUSTELLE, Jacques. A Vida Cotidiana dos Astecas
às vésperas da Conquista Espanhola. 1955.
