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segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Resenha: Civilização: Ocidente x Oriente – Niall Ferguson

Niall Ferguson, historiador britânico renomado por obras como Império e A Ascensão do Dinheiro, mergulha em Civilização: Ocidente x Oriente (edição brasileira pela Editora Planeta, 2012, tradução de Janaína Marcoantonio) no enigma central da história moderna: por que o Ocidente, a partir de 1500, dominou o mundo, superando impérios como o chinês da dinastia Ming ou o otomano? O livro, baseado em uma série de TV da BBC, não é uma narrativa cronológica tradicional, mas uma análise comparativa afiada, dividida em seis capítulos temáticos que Ferguson batiza de "aplicativos incríveis" – uma metáfora digital para as instituições que impulsionaram o Ocidente.

No prefácio à edição britânica, Ferguson reflete sobre o declínio aparente da supremacia ocidental na década de 2010, inspirado por viagens à China e pela crise financeira de 2008. Ele questiona se estamos no fim de 500 anos de domínio europeu e norte-americano, prevendo que a China pode superar os EUA em PIB em uma década (uma previsão que, em 2025, ganha contornos ainda mais reais). A introdução, "A Pergunta de Rasselas", inspirada no conto de Samuel Johnson, define civilização não como alta cultura (como em Kenneth Clark), mas como um conjunto de instituições que elevam a qualidade de vida: cidades, leis, ciência e economia.

Os capítulos exploram os "seis aplicativos":

  1. Competição: Ferguson contrasta o Yangtze chinês (símbolo de um império centralizado e estagnado) com o Tâmisa inglês (de um reino fragmentado e inovador). A fragmentação europeia fomentou rivalidades que impulsionaram o capitalismo e os Estados-nação, enquanto a China, apesar de sua engenharia avançada (como o Grande Canal), sufocou o comércio exterior.
  2. Ciência: Aqui, o autor destaca a Revolução Científica ocidental, de microscópios a inovações militares, contrastando com o conservadorismo otomano e chinês. Ele usa anedotas como as "excursões do Tanzimat" para mostrar como o Islã resistiu à ciência moderna.
  3. Propriedade: Direitos de propriedade e o Estado de direito permitiram estabilidade e crescimento no Ocidente, diferentemente da América Latina colonial, onde elites corruptas perpetuaram desigualdades.
  4. Medicina: Avanços ocidentais em saúde (de vacinas a saneamento) estenderam a expectativa de vida, enquanto epidemias e superstições assolaram o Oriente.
  5. Consumo: A sociedade de consumo ocidental, com sua ênfase em bens materiais, alimentou a Revolução Industrial, espalhando jeans e pijamas pelo mundo.
  6. Trabalho: A ética protestante do trabalho, somada à educação, criou coesão em sociedades dinâmicas.

Ferguson não romantiza o Ocidente: reconhece seus "irmãos rivais" – nobreza e torpeza, como escravidão e imperialismo. Ele critica o relativismo cultural e usa contra-argumentos para refutar teses como a de Jared Diamond (geografia) ou Max Weber (confucionismo). O tom é provocativo, com micro-histórias vívidas, como a vida curta de Henrique V ou o colapso da dinastia Ming. No entanto, o livro peca por eurocentrismo sutil e omissões (pouco sobre gênero ou meio ambiente), e algumas previsões parecem datadas pós-2010.

Em resumo, Civilização é uma obra instigante para quem busca entender o "porquê" da modernidade. Ferguson, com erudição e ironia, argumenta que o declínio ocidental não é inevitável, mas depende de preservar esses "aplicativos". Nota: 4,5/5 – essencial para historiadores e curiosos, mas exige leitura atenta para captar as nuances contrafactuais.

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