No prefácio à edição britânica, Ferguson reflete sobre o
declínio aparente da supremacia ocidental na década de 2010, inspirado por
viagens à China e pela crise financeira de 2008. Ele questiona se estamos no
fim de 500 anos de domínio europeu e norte-americano, prevendo que a China pode
superar os EUA em PIB em uma década (uma previsão que, em 2025, ganha contornos
ainda mais reais). A introdução, "A Pergunta de Rasselas", inspirada
no conto de Samuel Johnson, define civilização não como alta cultura (como em
Kenneth Clark), mas como um conjunto de instituições que elevam a qualidade de
vida: cidades, leis, ciência e economia.
Os capítulos exploram os "seis aplicativos":
- Competição:
Ferguson contrasta o Yangtze chinês (símbolo de um império centralizado e
estagnado) com o Tâmisa inglês (de um reino fragmentado e inovador). A
fragmentação europeia fomentou rivalidades que impulsionaram o capitalismo
e os Estados-nação, enquanto a China, apesar de sua engenharia avançada
(como o Grande Canal), sufocou o comércio exterior.
- Ciência:
Aqui, o autor destaca a Revolução Científica ocidental, de microscópios a
inovações militares, contrastando com o conservadorismo otomano e chinês.
Ele usa anedotas como as "excursões do Tanzimat" para mostrar
como o Islã resistiu à ciência moderna.
- Propriedade:
Direitos de propriedade e o Estado de direito permitiram estabilidade e
crescimento no Ocidente, diferentemente da América Latina colonial, onde
elites corruptas perpetuaram desigualdades.
- Medicina:
Avanços ocidentais em saúde (de vacinas a saneamento) estenderam a
expectativa de vida, enquanto epidemias e superstições assolaram o
Oriente.
- Consumo:
A sociedade de consumo ocidental, com sua ênfase em bens materiais,
alimentou a Revolução Industrial, espalhando jeans e pijamas pelo mundo.
- Trabalho:
A ética protestante do trabalho, somada à educação, criou coesão em
sociedades dinâmicas.
Ferguson não romantiza o Ocidente: reconhece seus
"irmãos rivais" – nobreza e torpeza, como escravidão e imperialismo.
Ele critica o relativismo cultural e usa contra-argumentos para refutar teses
como a de Jared Diamond (geografia) ou Max Weber (confucionismo). O tom é
provocativo, com micro-histórias vívidas, como a vida curta de Henrique V ou o
colapso da dinastia Ming. No entanto, o livro peca por eurocentrismo sutil e
omissões (pouco sobre gênero ou meio ambiente), e algumas previsões parecem
datadas pós-2010.
Em resumo, Civilização é uma obra
instigante para quem busca entender o "porquê" da modernidade.
Ferguson, com erudição e ironia, argumenta que o declínio ocidental não é
inevitável, mas depende de preservar esses "aplicativos". Nota: 4,5/5
– essencial para historiadores e curiosos, mas exige leitura atenta para captar
as nuances contrafactuais.
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