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Origem e Contexto Histórico
A máquina de costura Turtleback, assim chamada devido ao seu
formato curvo que lembrava o casco de uma tartaruga, foi desenvolvida por Isaac
Merritt Singer (1811–1875), um inventor e empreendedor americano. Embora Singer
não tenha inventado a máquina de costura — ideia que remonta a 1760, com
protótipos de Barthélemy Thimonnier em 1830 —, ele aprimorou significativamente
os modelos existentes. Segundo Chaline (2014), Singer conheceu uma máquina de
costura na oficina de Orson Phelps em 1850 e, em apenas onze dias, propôs
modificações que resultaram em um dispositivo prático e eficiente, patenteado
em 1851 (patente nº 8294). Essas melhorias incluíam uma agulha reta (em vez de
curva), um pedal para acionamento e um calcador que acompanhava o tecido,
tornando a costura mais rápida e acessível.
O contexto da Revolução Industrial foi crucial para o
sucesso da Turtleback. A demanda por roupas prontas crescia, e as máquinas de
costura manuais eram lentas e ineficientes. A Turtleback, projetada para uso
doméstico, permitiu que donas de casa e costureiras produzissem roupas com
maior rapidez, reduzindo custos e tempo. Além disso, a Singer Corporation,
fundada em 1851 por Isaac Singer e Edward Clark, introduziu inovações
comerciais, como o sistema de vendas a prazo, que tornou a máquina acessível a famílias
de classe média.
Características Técnicas
A Turtleback se destacava por sua simplicidade e robustez.
De acordo com Chaline (2014), a máquina incorporava o ponto de pesponto duplo
(lockstitch), desenvolvido por Elias Howe, que garantia costuras firmes e
duráveis. Outras características incluíam:
- Mecanismo
de pedal: Permitia o acionamento contínuo, liberando as mãos da costureira
para guiar o tecido.
- Agulha
reta: Facilitava a precisão e a consistência dos pontos.
- Estrutura
compacta: Apesar de robusta, era leve o suficiente para uso doméstico,
pesando cerca de 20 kg.
- Design
funcional: O formato curvo não era apenas estético, mas otimizava o espaço
e a ergonomia.
Essas inovações tornaram a Turtleback um símbolo de
praticidade, distinguindo-a de modelos industriais maiores e mais complexos.
Impacto Social e Econômico
A Turtleback revolucionou a dinâmica do lar e da indústria
têxtil. Chaline (2014) destaca que a máquina permitiu que mulheres,
especialmente donas de casa, contribuíssem para a renda familiar ao realizar
trabalhos de costura em casa. Isso foi um passo significativo rumo à
independência financeira feminina, já que muitas começaram a aceitar encomendas
de roupas, transformando a costura em uma fonte de sustento.
Economicamente, a Turtleback consolidou a Singer como líder
de mercado. A empresa adotou estratégias de marketing agressivas, como
demonstrações porta a porta e franquias internacionais, expandindo para países
como França, Inglaterra e Brasil. Em 1890, a Singer detinha 80% do mercado
global de máquinas de costura. A introdução do sistema de crédito, pioneiro na
época, permitiu que famílias adquirissem a máquina sem comprometer suas
finanças, ampliando ainda mais sua penetração no mercado.
No Brasil, a Singer estabeleceu seu primeiro ponto de vendas
em 1858, no Rio de Janeiro, e inaugurou a primeira fábrica de máquinas de
costura da América Latina em Campinas, São Paulo, em 1955. A Turtleback e seus
modelos subsequentes se tornaram parte do cotidiano brasileiro, muitas vezes
passados de geração em geração como heranças familiares.
A “Guerra das Máquinas de Costura”
O sucesso da Turtleback não veio sem controvérsias. Elias
Howe, detentor da patente do ponto de pesponto duplo, processou Singer e outros
fabricantes por violação de patente, desencadeando a chamada “Guerra das
Máquinas de Costura” (1851–1856). Segundo Chaline (2014), o conflito foi
resolvido em 1856, quando Singer, Howe e outros produtores unificaram suas
patentes, formando um pool que evitou batalhas judiciais prolongadas. Esse
acordo permitiu que a Singer continuasse a inovar e dominar o mercado.
Conclusão
A máquina de costura Singer Turtleback foi mais do que uma
inovação tecnológica; foi um catalisador de mudanças sociais, econômicas e
culturais. Ao tornar a costura acessível ao lar, ela empoderou mulheres,
impulsionou a indústria têxtil e estabeleceu a Singer como um ícone global.
Como descrito por Chaline (2014), a Turtleback é um exemplo de como uma máquina
pode transformar a forma como vivemos, trabalhamos e nos expressamos. Sua
influência perdura até hoje, com máquinas Singer ainda sendo valorizadas por
costureiros e artesãos em todo o mundo.
Referências Bibliográficas
- CHALINE,
Eric. 50 Máquinas que Mudaram o Rumo da História. Tradução de Fabiano
Moraes. Rio de Janeiro: Sextante, 2014.
- SINGER.
Nossa História. Disponível em: http://www.singer.com.br/nossa-historia/.
Acesso em: 27 abr. 2025.
- MONTELEONE,
J. A História das Máquinas de Costura: Um Anúncio Brasileiro Vende uma
Máquina de Costura Americana. São Paulo: USP, 2012. Disponível em: https://docplayer.com.br/13385204-A-historia-das-maquinas-de-costura-um-anuncio-brasileiro-vende-uma-maquina-de-costura-americana-por-joana-monteleone-1.html.
- AUDACES.
História da Costura: Veja a Linha do Tempo até os Dias de Hoje. 2014.
Disponível em: https://audaces.com/historia-da-costura.
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