A Esfera Doméstica e a Produção Familiar
O lar era o centro da vida da mulher asteca e sua
responsabilidade primordial. A educação das filhas recaía sobre elas,
ensinando-lhes as artes da fiação, tecelagem, culinária e o cuidado com as
crianças. A produção de tortilhas, base da dieta asteca, era uma tarefa diária
e laboriosa, que começava ao amanhecer. A fiação e a tecelagem de algodão e
fibras de agave não eram apenas atividades domésticas, mas também cruciais para
a economia familiar e imperial, pois os têxteis eram utilizados como vestuário,
tributo e até moeda de troca. A habilidade de uma mulher em tecer era um forte
indicador de seu valor e status social.
Contribuições Econômicas e Mercados
Além do ambiente doméstico, muitas mulheres astecas
participavam ativamente da economia externa. Eram comerciantes, vendendo
produtos agrícolas, artesanato, aves, e os próprios tecidos que produziam nos
vibrantes mercados (tianquiztli) astecas. Algumas mulheres, inclusive, se
especializavam em ofícios como a fabricação de chocolate, a produção de sal ou
a criação de aves. Essa participação econômica lhes conferia um grau de
autonomia e contribuía diretamente para a riqueza de suas famílias e da
comunidade. A existência de mulheres comerciantes era tão comum que figuras
femininas eram frequentemente retratadas nos códices realizando essas
atividades.
Poder Religioso e Espiritual
A religião permeava todos os aspectos da vida asteca, e as
mulheres tinham papéis importantes nesse domínio. Elas atuavam como
sacerdotisas, curandeiras, adivinhas e parteiras. As parteiras
(tlamatlquiticitl) eram especialmente reverenciadas, pois auxiliavam no
nascimento, rito de passagem considerado tão perigoso e valente quanto uma
batalha. Elas também tinham conhecimento de ervas medicinais e rituais de cura.
Em diversos cultos, como o dedicado à deusa da fertilidade Toci (Nossa Avó),
mulheres desempenhavam funções cerimoniais centrais, demonstrando sua conexão
com os ciclos da vida e da terra.
Educação e Status Social
As meninas astecas recebiam educação formal, embora
diferente da dos meninos. Enquanto os meninos de elite frequentavam o calmecac
para se tornarem sacerdotes ou guerreiros, e os de origem comum o telpochcalli
para a formação militar, as meninas podiam ser educadas no ichpochcalli, onde
aprendiam rituais religiosos, cantos, danças e aperfeiçoavam suas habilidades
domésticas e artesanais. A linhagem e a capacidade de dar à luz herdeiros eram
cruciais para as mulheres da elite, conferindo-lhes status e, por vezes,
influência indireta em assuntos políticos através de seus maridos e filhos.
Conclusão
Embora a sociedade asteca fosse patriarcal e hierárquica, o
papel das mulheres estava longe de ser marginal. Elas eram pilares da família,
da economia e da vida religiosa. Sua capacidade de gerar e nutrir a vida, de
produzir bens essenciais e de mediar o contato com o divino as tornava
indispensáveis. Compreender a complexidade de suas funções é fundamental para
uma visão completa e justa da rica tapeçaria cultural e social do império
asteca.
Referências Bibliográficas
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Imperial Society. 2. ed. Belmont, CA: Wadsworth, 2005.
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Acesso em: 22 set. 2025.
SAHAGÚN, Bernardino de. Historia general de las cosas de
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