Radio Evangélica

terça-feira, 23 de setembro de 2025

O Papel Multifacetado das Mulheres na Sociedade Asteca

A sociedade asteca, complexa e estratificada, é frequentemente lembrada por sua estrutura guerreira e dominada por homens. Contudo, uma análise mais aprofundada revela que as mulheres astecas desempenhavam papéis vitais e multifacetados, essenciais para a manutenção e o florescimento do império. Longe de serem meras figuras secundárias, elas exerciam influência significativa em esferas domésticas, econômicas, religiosas e até políticas, embora de formas distintas às dos homens.

A Esfera Doméstica e a Produção Familiar

O lar era o centro da vida da mulher asteca e sua responsabilidade primordial. A educação das filhas recaía sobre elas, ensinando-lhes as artes da fiação, tecelagem, culinária e o cuidado com as crianças. A produção de tortilhas, base da dieta asteca, era uma tarefa diária e laboriosa, que começava ao amanhecer. A fiação e a tecelagem de algodão e fibras de agave não eram apenas atividades domésticas, mas também cruciais para a economia familiar e imperial, pois os têxteis eram utilizados como vestuário, tributo e até moeda de troca. A habilidade de uma mulher em tecer era um forte indicador de seu valor e status social.

Contribuições Econômicas e Mercados

Além do ambiente doméstico, muitas mulheres astecas participavam ativamente da economia externa. Eram comerciantes, vendendo produtos agrícolas, artesanato, aves, e os próprios tecidos que produziam nos vibrantes mercados (tianquiztli) astecas. Algumas mulheres, inclusive, se especializavam em ofícios como a fabricação de chocolate, a produção de sal ou a criação de aves. Essa participação econômica lhes conferia um grau de autonomia e contribuía diretamente para a riqueza de suas famílias e da comunidade. A existência de mulheres comerciantes era tão comum que figuras femininas eram frequentemente retratadas nos códices realizando essas atividades.

Poder Religioso e Espiritual

A religião permeava todos os aspectos da vida asteca, e as mulheres tinham papéis importantes nesse domínio. Elas atuavam como sacerdotisas, curandeiras, adivinhas e parteiras. As parteiras (tlamatlquiticitl) eram especialmente reverenciadas, pois auxiliavam no nascimento, rito de passagem considerado tão perigoso e valente quanto uma batalha. Elas também tinham conhecimento de ervas medicinais e rituais de cura. Em diversos cultos, como o dedicado à deusa da fertilidade Toci (Nossa Avó), mulheres desempenhavam funções cerimoniais centrais, demonstrando sua conexão com os ciclos da vida e da terra.

Educação e Status Social

As meninas astecas recebiam educação formal, embora diferente da dos meninos. Enquanto os meninos de elite frequentavam o calmecac para se tornarem sacerdotes ou guerreiros, e os de origem comum o telpochcalli para a formação militar, as meninas podiam ser educadas no ichpochcalli, onde aprendiam rituais religiosos, cantos, danças e aperfeiçoavam suas habilidades domésticas e artesanais. A linhagem e a capacidade de dar à luz herdeiros eram cruciais para as mulheres da elite, conferindo-lhes status e, por vezes, influência indireta em assuntos políticos através de seus maridos e filhos.

Conclusão

Embora a sociedade asteca fosse patriarcal e hierárquica, o papel das mulheres estava longe de ser marginal. Elas eram pilares da família, da economia e da vida religiosa. Sua capacidade de gerar e nutrir a vida, de produzir bens essenciais e de mediar o contato com o divino as tornava indispensáveis. Compreender a complexidade de suas funções é fundamental para uma visão completa e justa da rica tapeçaria cultural e social do império asteca.

 

Referências Bibliográficas

BERDAN, Frances F. The Aztecs of Central Mexico: An Imperial Society. 2. ed. Belmont, CA: Wadsworth, 2005.

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LÓPEZ AUSTIN, Alfredo; LÓPEZ LUJÁN, Leonardo. O Passado Indígena. Tradução de Julio Pimentel Pinto. São Paulo: EDUSP, 2018.

QUEZADA, Noemí. La mujer mexica. Estudios de Cultura Náhuatl, México, v. 18, p. 37-53, 1986. Disponível em: https://www.historicas.unam.mx/publicaciones/revistas/nahuatl/pdf/ecn18/280.pdf. Acesso em: 22 set. 2025.

SAHAGÚN, Bernardino de. Historia general de las cosas de Nueva España. 3. ed. Cidade do México: Porrúa, 1985.

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