Uma Cidade de Engenheiros e Artistas
O apogeu de Palenque ocorreu durante o Período Clássico
Tardio (cerca de 600 a 800 d.C.). Durante essa era, a cidade floresceu sob o
governo de uma poderosa dinastia, cujo mais famoso governante foi K'inich
Janaab' Pakal, ou Pakal, o Grande. A arquitetura de Palenque é distinta,
caracterizada por edifícios com telhados em estilo "mansarda",
grandes pátios e uma decoração refinada em estuque.
As principais estruturas testemunham o avançado conhecimento
maia:
- O
Palácio: Um complexo de edifícios interligados, pátios e corredores
que servia como centro administrativo e residência da elite. Sua
característica mais icônica é a torre de quatro andares, que se acredita
ter sido usada como torre de observação astronômica e militar.
- O
Grupo das Cruzes: Composto pelo Templo da Cruz, Templo da Cruz Foliada
e Templo do Sol, este conjunto de templos sobre pirâmides escalonadas
celebra a ascensão ao trono de K'inich Kan B'alam II, filho de Pakal. Seus
painéis internos contêm longas narrativas mitológicas e dinásticas.
- O
Aqueduto: Uma impressionante obra de engenharia que canalizava o rio
Otulum por baixo da praça principal da cidade, demonstrando um controle
sofisticado dos recursos hídricos para evitar inundações e fornecer água
potável.
O Templo das Inscrições e o Segredo de Pakal
A estrutura mais emblemática de Palenque é, sem dúvida, o
Templo das Inscrições. Por décadas, acreditava-se que as pirâmides
mesoamericanas eram apenas bases para templos, ao contrário das egípcias, que
serviam como tumbas. Essa visão mudou drasticamente em 1952.
Após quatro anos de escavações, o arqueólogo mexicano
Alberto Ruz Lhuillier descobriu uma passagem secreta no chão do templo. Ao
remover uma laje triangular, ele revelou uma escadaria repleta de escombros que
descia para o coração da pirâmide. No fundo, encontrou uma cripta selada, e
dentro dela, um dos achados mais espetaculares da arqueologia mundial: o
sarcófago de K'inich Janaab' Pakal.
A tampa do sarcófago, uma laje de cinco toneladas, é uma
obra-prima da arte maia. Ela retrata Pakal na posição de renascimento,
emergindo das mandíbulas do "Monstro da Terra" e ascendendo como uma
divindade associada ao milho, em um complexo simbolismo cosmológico. A
descoberta provou que os lordes maias, assim como os faraós, poderiam ser
enterrados em monumentos grandiosos. Os painéis de hieróglifos que dão nome ao
templo narram a história da dinastia de Palenque ao longo de quase duzentos anos.
O Declínio e o Legado
Como muitas outras cidades maias das terras baixas do sul,
Palenque entrou em declínio no início do século IX e foi gradualmente
abandonada à selva. As causas exatas ainda são debatidas por especialistas, com
teorias que incluem guerras intensificadas, degradação ambiental, secas
prolongadas e colapso das rotas comerciais.
Hoje, Palenque permanece como uma janela inestimável para a
vida política, religiosa e social da civilização maia. Estima-se que menos de
10% da cidade tenha sido escavada, o que significa que a selva de Chiapas ainda
guarda inúmeros segredos. A sofisticação de sua arte, a complexidade de sua
escrita e a genialidade de sua engenharia garantem a Palenque um lugar de
destaque no panteão das grandes realizações da humanidade.
Referências Bibliográficas
COE, Michael D. The Maya.
9. ed. London: Thames & Hudson, 2015.
MARTIN, Simon; GRUBE, Nikolai. Chronicle
of the Maya Kings and Queens: Deciphering the Dynasties of the Ancient Maya.
2. ed. London: Thames & Hudson, 2008.
RUZ LHUILLIER, Alberto. El
Templo de las Inscripciones, Palenque. México, D.F.: Fondo de Cultura
Económica, 1973. (Colección Científica, 7).
SCHELE, Linda; FREIDEL, David. A
Forest of Kings: The Untold Story of the Ancient Maya. New York: William
Morrow and Company, 1990.
UNESCO. Pre-Hispanic City and
National Park of Palenque. UNESCO World Heritage Centre. Disponível em: https://whc.unesco.org/en/list/411.
Acesso em: 24 set. 2025.
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