I. A Sombra do Império Aquemênida: O Domínio Persa
A primeira grande subjugação do Egito por uma potência
estrangeira de longa duração ocorreu em 525 a.C., quando Cambises II, rei do
Império Persa Aquemênida, derrotou Psamético III na Batalha de Pelúsio. Este
evento não apenas consolidou o Egito como uma satrapia persa, mas também marcou
o fim da XXVI Dinastia e, para muitos, o último suspiro de um Egito
verdadeiramente independente.
Sob o domínio persa, o Egito foi administrado por um
sátrapa, geralmente um nobre persa, auxiliado por uma burocracia que integrava
elementos egípcios. Embora os persas tenham, em alguns momentos, respeitado as
tradições e a religião egípcias, como evidenciado pelo faraó Dario I, que se
apresentou como um legítimo faraó, houve também períodos de opressão e saques,
especialmente durante a primeira conquista. Templos foram profanados, e a
cultura egípcia foi muitas vezes secundarizada.
O Egito oscilou entre períodos de subjugação total e breves
ressurgimentos de autonomia, com dinastias nativas que tentaram, sem sucesso
duradouro, restaurar a glória faraônica. A segunda conquista persa, em 343
a.C., por Artaxerxes III, foi ainda mais brutal, cimentando o controle persa
até a chegada de uma nova força: os gregos.
II. O Legado de Alexandre e o Reinado Ptolemaico: A
Hellenização do Egito
A chegada de Alexandre, o Grande, em 332 a.C., foi,
ironicamente, vista por muitos egípcios como uma libertação do jugo persa.
Alexandre foi recebido como um libertador e coroado faraó no templo de Ptah, em
Mênfis, um gesto estratégico para legitimar seu poder. Ele fundou Alexandria,
uma cidade portuária que se tornaria um dos maiores centros intelectuais e
comerciais do mundo helenístico.
Após a morte de Alexandre, seu general Ptolemeu assumiu o
controle do Egito, inaugurando a Dinastia Ptolemaica, que governaria o país por
quase três séculos (305-30 a.C.). Os Ptolemeus, de origem grega, adotaram
muitos dos costumes faraônicos, apresentando-se como faraós e construindo
templos no estilo egípcio, como o de Ísis em Filas e o de Hórus em Edfu. No
entanto, a administração era helenística, com o grego como língua oficial e uma
elite dominante de gregos e macedônios.
Alexandria floresceu como um centro de cultura, ciência e
comércio, com sua famosa Biblioteca e o Farol, uma das Sete Maravilhas do Mundo
Antigo. Contudo, a população egípcia nativa frequentemente sofria com a pesada
tributação e a exploração econômica. A fusão cultural foi notável, criando o
culto a Serápis, uma divindade sincrética que combinava Osíris e Apis com
características gregas. O período ptolomaico culminaria com a figura
carismática de Cleópatra VII, a última rainha a governar o Egito com o título
de faraó, cujo destino estaria intrinsecamente ligado à ascensão de Roma.
III. O Celeiro do Império: O Egito sob Domínio Romano
A morte de Cleópatra VII e Marco Antônio na Batalha de Ácio,
em 31 a.C., e a subsequente entrada de Otaviano (futuro imperador Augusto) em
Alexandria em 30 a.C., marcaram o fim definitivo da autonomia faraônica e o
início do domínio romano sobre o Egito. Diferente dos persas e ptolomeus, os
romanos não incorporaram o Egito como uma província comum, mas sim como uma
possessão pessoal do imperador (Província Romana do Egito), administrada por um
prefeito equestre, não por um senador, dada sua importância estratégica e
econômica.
O principal interesse de Roma no Egito era seu vasto
potencial agrícola, especialmente a produção de grãos, que se tornou essencial
para alimentar a população da capital imperial. A administração romana foi
altamente burocrática e exploradora, focada na extração de recursos através de
pesados impostos. A língua latina era usada na administração superior, mas o
grego permaneceu a língua franca entre a elite, enquanto o egípcio demótico
persistia entre a população local.
Sob o domínio romano, a cultura egípcia tradicional
continuou a declinar. Embora alguns imperadores tenham, a princípio, mantido as
aparências de faraós para a população egípcia, a religião nativa foi
gradualmente suplantada pelo culto imperial romano e, mais tarde, pelo
cristianismo, que ganhou força significativa no Egito a partir do século I d.C.
Templos egípcios deixaram de ser construídos em grande escala, e as antigas
práticas religiosas foram lentamente abandonadas em favor da nova fé. O Egito
se tornou uma província integral do Império Romano e, posteriormente, do
Império Bizantino, perdendo completamente sua identidade política e cultural
milenar.
Conclusão: O Legado de uma Era de Transições
Os três milênios de autonomia faraônica do Egito terminaram
com a sucessão de dominações persa, grega e romana. Cada uma dessas potências
deixou sua marca, seja na arquitetura, na administração, na língua ou na
religião. Os persas introduziram uma forma de governo imperial centralizada; os
gregos legaram uma cultura helenística vibrante e uma nova capital, Alexandria;
e os romanos consolidaram o Egito como um celeiro vital e um ponto estratégico
em seu vasto império.
Ao longo desses séculos, a essência do Egito antigo foi
diluída, mas nunca completamente apagada. Elementos de sua rica herança
cultural e religiosa persistiram, adaptando-se e misturando-se com as
influências estrangeiras. O crepúsculo dos faraós não foi o fim do Egito, mas
sim o início de uma nova fase em sua longa e complexa história, moldada por
invasores que, embora tivessem vindo para conquistar, acabaram por se tornar
parte de seu intrincado mosaico histórico.
Referências Bibliográficas
- BOWMAN,
Alan K. Egypt After the Pharaohs: 332 BC - AD 642. From Alexander
to the Arab Conquest. University of California Press, 1996.
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- MARTIN,
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Yale University Press, 2009. (Para contexto do período helenístico).
- ROSE,
John. The Roman Empire: A Very Short Introduction. Oxford
University Press, 2014. (Para contexto do período romano no Egito).
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