Tenochtitlán: A Cidade Flutuante do Império Asteca
Antes da chegada dos europeus, Tenochtitlán era uma das
maiores e mais sofisticadas cidades do mundo. Edificada sobre ilhas no Lago
Texcoco, no vale do México, era um prodígio de engenharia e urbanismo, com
canais, pontes, templos imponentes e um sistema de chinampas (ilhas artificiais
para agricultura) que sustentava uma população estimada em centenas de milhares
de habitantes. Centro político, religioso e econômico do Império Asteca, a
cidade exibia uma riqueza cultural e material impressionante, refletindo a
complexidade de uma civilização hierarquizada e guerreira.
A Chegada de Cortés e o Choque de Mundos
Em 1519, Hernán Cortés, um explorador espanhol ambicioso e
determinado, desembarcou na costa do atual México com uma pequena expedição.
Seu objetivo era a conquista e a busca por riquezas. O encontro entre os
espanhóis e os astecas representou um choque cultural sem precedentes. Os
astecas, liderados pelo imperador Moctezuma II, inicialmente tentaram conciliar
e entender os recém-chegados, influenciados por profecias e pela aparência
incomum dos "deuses brancos" montados em estranhos animais (cavalos).
Contudo, Cortés rapidamente percebeu a fragilidade da coesão
interna do império asteca. Os astecas exerciam domínio sobre inúmeras outras
etnias mesoamericanas, que frequentemente sofriam com o pagamento de tributos e
a exigência de sacrifícios humanos. Cortés soube explorar essas tensões,
formando alianças estratégicas com povos inimigos dos astecas, como os
tlaxcaltecas, que se tornaram seus mais leais e numerosos aliados indígenas. A
superioridade tecnológica espanhola — armaduras, armas de fogo (arcabuzes e
canhões), cavalos e cães de guerra — aliada às doenças europeias, como a
varíola, que começaram a devastar as populações nativas, foram fatores
decisivos.
A Estratégia da Conquista: De Moctezuma à Noche Triste
A entrada de Cortés em Tenochtitlán foi inicialmente
pacífica, com Moctezuma recebendo os espanhóis na cidade. Contudo, a astúcia de
Cortés o levou a aprisionar Moctezuma dentro de seu próprio palácio,
utilizando-o como um fantoche para controlar o império. A situação
deteriorou-se quando Pedro de Alvarado, um dos capitães de Cortés, realizou um
massacre durante uma cerimônia religiosa asteca no Templo Mayor, provocando a
revolta da população.
A essa altura, Cortés havia saído da cidade para enfrentar
uma expedição espanhola enviada de Cuba para prendê-lo. Ao retornar, encontrou
Tenochtitlán em caos. Em 30 de junho de 1520, durante a tentativa de fuga dos
espanhóis e seus aliados indígenas da cidade, ocorreu a famosa "Noche
Triste" (Noite Triste), na qual centenas de espanhóis e milhares de
aliados indígenas foram mortos pelos astecas. Foi uma derrota amarga para
Cortés, que, no entanto, não desistiu.
O Cerco Final e a Queda do Império
Após a "Noche Triste", Cortés e seus aliados
reagruparam-se. Ele ordenou a construção de bergantins (pequenos navios de
guerra) que poderiam navegar no Lago Texcoco, permitindo um cerco naval à
ilha-capital. Em maio de 1521, com o apoio massivo de seus aliados indígenas
(cujas forças superavam em muito as dos espanhóis), Cortés iniciou o cerco a
Tenochtitlán.
O cerco durou 93 dias e foi brutal. A falta de comida e
água, combinada com a epidemia de varíola que já dizimava a população asteca
(matando inclusive o sucessor de Moctezuma, Cuitláhuac, e seu sucessor,
Cuauhtémoc, o último tlatoani asteca, que resistiu bravamente), enfraqueceu a
defesa da cidade. Os combates eram ferozes, rua por rua, casa por casa. Em 13
de agosto de 1521, Tenochtitlán caiu. Cuauhtémoc foi capturado, marcando o fim
do Império Asteca.
Legado e Consequências
A queda de Tenochtitlán não foi apenas a conquista de uma
cidade, mas a desestruturação de um sistema social, político e religioso
milenar. Inaugurou a era da colonização espanhola no México, com a fundação da
Nova Espanha sobre as ruínas do império asteca. Este evento teve consequências
demográficas catastróficas para as populações indígenas, mas também levou à
formação de uma nova sociedade, miscigenada, que é a base do México moderno. A
conquista de Tenochtitlán permanece como um símbolo poderoso da complexidade
dos encontros culturais, das ambições humanas e da resiliência dos povos diante
de adversidades monumentais.
Referências Bibliográficas
- DÍAZ
DEL CASTILLO, Bernal. História Verdadeira da Conquista da Nova
Espanha. Tradução de Manoel Bandeira. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
(Relato de um soldado que participou da expedição de Cortés).
- LEÓN-PORTILLA,
Miguel (Org.). A Visão dos Vencidos: Relações Indígenas da
Conquista. Tradução de Augusto Ângelo Zavala. Porto Alegre: L&PM
Pocket, 2017. (Compilação de relatos náuatles sobre a conquista,
oferecendo a perspectiva dos povos originários).
- RESTALL,
Matthew. Seven Myths of the Spanish Conquest. Oxford: Oxford
University Press, 2003. (Análise crítica de mitos e concepções errôneas
sobre a conquista).
- PRESCOTT,
William H. History of the Conquest of Mexico. New York: Dover
Publications, 2011. (Obra clássica sobre o tema, embora escrita no século
XIX e, portanto, com algumas perspectivas datadas).
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