O Pioneiro da Imprensa Brasileira: O Correio
Braziliense
Entre 1808 e 1822, Hipólito da Costa publicou o Correio
Braziliense em Londres, um periódico que desafiava as restrições à imprensa
vigentes no Brasil Colônia e, posteriormente, no Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves. Embora editado à distância, o jornal tinha como público-alvo
principal a elite letrada brasileira e portuguesa, circulando clandestinamente
e moldando opiniões.
Hipólito, com sua visão privilegiada da Europa em plena
efervescência napoleônica e iluminista, oferecia aos seus leitores análises
profundas sobre a política internacional, a economia global e os avanços
científicos e sociais. Mais do que informar, o Correio Braziliense
buscava educar e incitar a reflexão, plantando as sementes de um pensamento
crítico e moderno.
A Voz Iluminista de Londres: Crítica e Propostas para o
Brasil
Em suas edições, Hipólito da Costa difundiu ardentemente os
princípios do Iluminismo: a razão, a liberdade de expressão, a meritocracia e a
busca pelo bem comum. Ele acreditava que o Brasil possuía um potencial imenso,
mas que este estava tolhido por um sistema colonial arcaico e por uma
administração muitas vezes ineficiente.
Não se tratava de uma crítica meramente destrutiva. Hipólito
apresentava soluções e propostas concretas para o desenvolvimento do Brasil.
Ele defendia a modernização da agricultura, a diversificação da economia para
além da monocultura, a abertura de mercados e a melhoria da educação. Via a
criação de instituições científicas e culturais como pilares para o progresso
da na nação.
Formando a Consciência Política à Distância
Apesar da distância geográfica, o Correio Braziliense
exerceu uma influência notável sobre a elite brasileira e sobre o próprio
governo joanino. Suas análises sobre a administração de Dom João VI, embora por
vezes críticas, eram fundamentadas e buscavam o aprimoramento. Ele debatia
temas cruciais como a administração da justiça, as finanças públicas e a
relação entre a metrópole e a colônia.
Ao dar voz a essas discussões e ao apresentar modelos de
governança e desenvolvimento europeus, Hipólito da Costa contribuiu
significativamente para a formação de uma consciência política autônoma no
Brasil. Ele ajudou a forjar uma identidade nacional que, aos poucos, se
desvinculava de Portugal, preparando o terreno intelectual para os movimentos
de Independência que culminariam em 1822, curiosamente, no mesmo ano em que o Correio
Braziliense encerrou suas publicações.
Legado de um Intelectual Visionário
O papel de Hipólito da Costa na história brasileira é
inegável. Como jornalista, diplomatista e intelectual, ele soube usar o poder
da palavra para influenciar o destino de uma nação em formação. Sua atuação à
distância não diminuiu seu impacto; pelo contrário, permitiu-lhe uma
perspectiva mais ampla e uma liberdade de expressão que dificilmente
encontraria no Brasil da época. Hipólito da Costa é, portanto, uma figura
central para entender não só a imprensa brasileira, mas também a gestação das
ideias que pavimentaram o caminho para a Independência e para a construção do
Brasil moderno.
Referências Bibliográficas
- COSTA,
Hipólito da. Correio Braziliense ou Armazém Literário.
Reprodução fac-similar. Brasília: Senado Federal, 2007. (Coleção Clássicos
da Democracia).
- SODRÉ,
Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro:
Mauad, 1999.
- RICUPERO,
Bernardo. O Iluminismo no Brasil: Hipólito da Costa e o Correio
Braziliense. São Paulo: Hucitec, 2000.
- BARRETO,
Luís. Hipólito da Costa: um brasileiro em Londres. Rio de
Janeiro: Funarte, 1998.
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