![]() |
Mundo Educação/Uol |
A Matemática Maia
O sistema numérico maia era vigesimal (base 20), o que o
diferencia dos sistemas decimais mais comuns. Essa base numérica, combinada com
o uso de símbolos simples — pontos para unidades, barras para o número cinco e
uma concha para representar o zero — permitia realizar cálculos complexos com
notável eficiência.
O uso do zero, inclusive, é um dos legados mais
extraordinários da matemática maia. Enquanto outras grandes civilizações ainda
não haviam desenvolvido esse conceito de forma plena, os maias já o utilizavam
de maneira funcional por volta do século IV d.C. Esse avanço foi crucial para a
elaboração de seus calendários e registros cronológicos.
A matemática maia não era meramente abstrata; ela tinha
aplicações práticas diretas na organização do tempo, na arquitetura e até nos
rituais religiosos. Seus cálculos envolviam grandes períodos de tempo e serviam
para prever fenômenos astronômicos, calcular alinhamentos arquitetônicos e
planejar ciclos agrícolas.
A Arquitetura como Espelho do Cosmos
A arquitetura maia é uma expressão concreta da sua
cosmologia. Cidades inteiras foram planejadas em harmonia com o movimento dos
astros. Templos, observatórios e pirâmides não apenas serviam a funções
cerimoniais ou administrativas, mas também reproduziam, em pedra, os princípios
da ordem celestial.
Um exemplo notável é o templo das Inscrições, em Palenque,
que além de abrigar o túmulo do rei Pakal, contém inscrições detalhadas com
datas da Contagem Longa. Já a pirâmide de El Castillo, em Chichén Itzá, não é
apenas um centro cerimonial, mas um sofisticado marcador de tempo: durante os
equinócios, o jogo de luz e sombra cria a ilusão de uma serpente descendo a
escadaria, em alusão ao deus Kukulcán.
A orientação e disposição dos edifícios refletiam uma visão
tripartida do universo: o mundo superior (céu), o mundo intermediário (terra) e
o mundo inferior (Xibalbá). Escadarias representavam eixos cósmicos que ligavam
essas esferas, reforçando o papel sagrado da arquitetura.
Cidade, Tempo e Divindade
Cada cidade maia era construída com um propósito espiritual.
As praças centrais, os templos e os observatórios seguiam uma lógica simbólica
e funcional, onde cada ângulo e cada alinhamento tinha um significado. Isso
evidencia o grau de integração entre ciência, arte e religião na vida
cotidiana.
As maquetes do universo que os maias erguiam em pedra eram,
ao mesmo tempo, centros administrativos, palcos de rituais e instrumentos de
observação astronômica. Assim, a arquitetura se torna também um tipo de
escritura — uma maneira de eternizar sua visão de mundo e de marcar sua
passagem pelo tempo.
Conclusão
Matemática e arquitetura foram, para os maias, formas
complementares de ordenar o mundo e de se conectar com o sagrado. Por meio de
números e construções, eles moldaram uma civilização onde ciência, estética e
espiritualidade se entrelaçam de forma harmoniosa. Cada templo, cada número,
cada pedra revela a genialidade de um povo que enxergava no cálculo e na
simetria uma expressão do divino.
Referências Bibliográficas
- Coe,
Michael D. The Maya. Thames & Hudson, 2011.
- Martin,
Simon; Grube, Nikolai. Chronicle of the Maya Kings and Queens.
Thames & Hudson, 2008.
- Milbrath,
Susan. Star Gods of the Maya: Astronomy in Art, Folklore, and Calendars.
University of Texas Press, 1999.
- Aveni,
Anthony F. Skywatchers. University of Texas Press, 2001.
- Miller,
Mary; Taube, Karl. An Illustrated Dictionary of the Gods and Symbols of
Ancient Mexico and the Maya. Thames & Hudson, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário