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quinta-feira, 17 de abril de 2025

Matemática e Arquitetura Maia: Precisão e Simbolismo

Mundo Educação/Uol
Se a astronomia maia impressiona pela sofisticação, sua matemática e arquitetura não ficam atrás. Estas duas áreas do saber se entrelaçam de maneira notável, revelando um povo que não apenas observava o cosmos, mas que também o refletia em suas construções e em sua concepção de mundo. Para os maias, a matemática era uma linguagem sagrada — um meio de compreender tanto os ciclos naturais quanto os propósitos divinos.

A Matemática Maia

O sistema numérico maia era vigesimal (base 20), o que o diferencia dos sistemas decimais mais comuns. Essa base numérica, combinada com o uso de símbolos simples — pontos para unidades, barras para o número cinco e uma concha para representar o zero — permitia realizar cálculos complexos com notável eficiência.

O uso do zero, inclusive, é um dos legados mais extraordinários da matemática maia. Enquanto outras grandes civilizações ainda não haviam desenvolvido esse conceito de forma plena, os maias já o utilizavam de maneira funcional por volta do século IV d.C. Esse avanço foi crucial para a elaboração de seus calendários e registros cronológicos.

A matemática maia não era meramente abstrata; ela tinha aplicações práticas diretas na organização do tempo, na arquitetura e até nos rituais religiosos. Seus cálculos envolviam grandes períodos de tempo e serviam para prever fenômenos astronômicos, calcular alinhamentos arquitetônicos e planejar ciclos agrícolas.

A Arquitetura como Espelho do Cosmos

A arquitetura maia é uma expressão concreta da sua cosmologia. Cidades inteiras foram planejadas em harmonia com o movimento dos astros. Templos, observatórios e pirâmides não apenas serviam a funções cerimoniais ou administrativas, mas também reproduziam, em pedra, os princípios da ordem celestial.

Um exemplo notável é o templo das Inscrições, em Palenque, que além de abrigar o túmulo do rei Pakal, contém inscrições detalhadas com datas da Contagem Longa. Já a pirâmide de El Castillo, em Chichén Itzá, não é apenas um centro cerimonial, mas um sofisticado marcador de tempo: durante os equinócios, o jogo de luz e sombra cria a ilusão de uma serpente descendo a escadaria, em alusão ao deus Kukulcán.

A orientação e disposição dos edifícios refletiam uma visão tripartida do universo: o mundo superior (céu), o mundo intermediário (terra) e o mundo inferior (Xibalbá). Escadarias representavam eixos cósmicos que ligavam essas esferas, reforçando o papel sagrado da arquitetura.

Cidade, Tempo e Divindade

Cada cidade maia era construída com um propósito espiritual. As praças centrais, os templos e os observatórios seguiam uma lógica simbólica e funcional, onde cada ângulo e cada alinhamento tinha um significado. Isso evidencia o grau de integração entre ciência, arte e religião na vida cotidiana.

As maquetes do universo que os maias erguiam em pedra eram, ao mesmo tempo, centros administrativos, palcos de rituais e instrumentos de observação astronômica. Assim, a arquitetura se torna também um tipo de escritura — uma maneira de eternizar sua visão de mundo e de marcar sua passagem pelo tempo.

Conclusão

Matemática e arquitetura foram, para os maias, formas complementares de ordenar o mundo e de se conectar com o sagrado. Por meio de números e construções, eles moldaram uma civilização onde ciência, estética e espiritualidade se entrelaçam de forma harmoniosa. Cada templo, cada número, cada pedra revela a genialidade de um povo que enxergava no cálculo e na simetria uma expressão do divino.

Referências Bibliográficas

  • Coe, Michael D. The Maya. Thames & Hudson, 2011.
  • Martin, Simon; Grube, Nikolai. Chronicle of the Maya Kings and Queens. Thames & Hudson, 2008.
  • Milbrath, Susan. Star Gods of the Maya: Astronomy in Art, Folklore, and Calendars. University of Texas Press, 1999.
  • Aveni, Anthony F. Skywatchers. University of Texas Press, 2001.
  • Miller, Mary; Taube, Karl. An Illustrated Dictionary of the Gods and Symbols of Ancient Mexico and the Maya. Thames & Hudson, 1993.

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