O início do Terceiro Período Intermediário: divisão e
rivalidade
Com o fim do Novo Império e a morte de Ramsés XI, o Egito
mergulhou em um novo ciclo de instabilidade. O poder real tornou-se cada vez
mais simbólico, e o país foi, mais uma vez, dividido. No norte, a cidade
de Tânis se tornou a capital da XXI Dinastia, enquanto no sul, o
poder estava nas mãos dos Sumos Sacerdotes de Amon, em Tebas.
Essa divisão de poder entre a autoridade secular e a religiosa se estendeu por
grande parte do período.
A autoridade dos faraós da XXI Dinastia era limitada, e
muitos deles eram controlados pelos sacerdotes, que detinham terras, riquezas e
influência sobre a população. A descentralização política se acentuou com o
surgimento de novas dinastias locais, como a XXII Dinastia, de origem
líbia.
A influência dos líbios e a XXII Dinastia
Durante o Terceiro Período Intermediário, o Egito passou a
ser governado, em parte, por dinastias de origem líbia. Esses grupos,
inicialmente integrados ao exército egípcio como mercenários, acabaram por
assumir posições de poder. A XXII Dinastia, fundada por Sheshonq I,
foi uma das mais significativas desse período.
Sheshonq I conseguiu reunificar momentaneamente o Egito e
estendeu sua influência até o Levante, sendo identificado por alguns estudiosos
como o "Shishak" mencionado na Bíblia, que saqueou Jerusalém. No
entanto, após seu reinado, o país voltou a se fragmentar com a ascensão de
dinastias concorrentes, como a XXIII e a XXIV.
A XXV Dinastia: o renascimento núbio
Um dos episódios mais notáveis do Terceiro Período
Intermediário foi a ascensão da XXV Dinastia, de origem núbia,
também conhecida como a dinastia dos faraós negros. Vindos do Reino de
Cuxe (atual Sudão), os reis núbios viam o Egito como uma terra sagrada e
buscavam restaurar suas antigas tradições.
Sob o comando de faraós como Piye (ou Piânqui) e Taharqa,
os núbios conquistaram o Egito e promoveram um renascimento cultural,
revalorizando os templos e os cultos tradicionais. A XXV Dinastia tentou
restaurar a unidade e a grandiosidade do Egito, mas enfrentou resistência de
dinastias locais e a crescente ameaça do Império Assírio.
A invasão assíria e o fim do Terceiro Período
Intermediário
No século VII a.C., os assírios, liderados por reis como Assurbanípal,
iniciaram uma série de invasões no Egito. Tebas foi saqueada em 663 a.C.,
marcando o colapso definitivo da influência núbia. Os assírios instalaram no
trono faraós aliados, dando início à XXVI Dinastia, conhecida como Dinastia
Saíta, e encerrando o Terceiro Período Intermediário.
Conclusão
O Terceiro Período Intermediário foi um tempo de transição e
redefinição para o Egito. Apesar da fragmentação e das invasões, o país manteve
sua identidade cultural e religiosa, mesmo sob o domínio de líderes
estrangeiros. A presença dos líbios e núbios, bem como o impacto das invasões
assírias, moldaram um Egito cada vez mais conectado com o mundo afro-asiático.
No próximo artigo, exploraremos a Dinastia Saíta e a breve restauração do poder
egípcio antes do domínio persa.
Referências Bibliográficas
- Bard,
Kathryn A. An Introduction to the Archaeology of Ancient Egypt.
Blackwell Publishing, 2007.
- Wilkinson,
Toby. The Rise and Fall of Ancient Egypt. Random House, 2010.
- Shaw,
Ian (Ed.). The Oxford History of Ancient Egypt. Oxford University
Press, 2000.
- Redford,
Donald B. Egypt, Canaan, and Israel in Ancient Times. Princeton
University Press, 1992.
- Morkot,
Robert. The Black Pharaohs: Egypt's Nubian Rulers. The Rubicon
Press, 2000.
Nenhum comentário:
Postar um comentário