Radio Evangélica

domingo, 6 de abril de 2025

O Terceiro Período Intermediário e o declínio do poder faraônico do Egito

Dando sequência à nossa série sobre o Egito Antigo, exploramos agora o Terceiro Período Intermediário (c. 1069 – 664 a.C.), uma fase marcada por fragmentação política, invasões estrangeiras e profundas transformações na estrutura de poder do Egito. Este período, embora frequentemente visto como um tempo de decadência, também revela a complexidade e a resiliência da civilização egípcia diante das mudanças históricas.

O início do Terceiro Período Intermediário: divisão e rivalidade

Com o fim do Novo Império e a morte de Ramsés XI, o Egito mergulhou em um novo ciclo de instabilidade. O poder real tornou-se cada vez mais simbólico, e o país foi, mais uma vez, dividido. No norte, a cidade de Tânis se tornou a capital da XXI Dinastia, enquanto no sul, o poder estava nas mãos dos Sumos Sacerdotes de Amon, em Tebas. Essa divisão de poder entre a autoridade secular e a religiosa se estendeu por grande parte do período.

A autoridade dos faraós da XXI Dinastia era limitada, e muitos deles eram controlados pelos sacerdotes, que detinham terras, riquezas e influência sobre a população. A descentralização política se acentuou com o surgimento de novas dinastias locais, como a XXII Dinastia, de origem líbia.

A influência dos líbios e a XXII Dinastia

Durante o Terceiro Período Intermediário, o Egito passou a ser governado, em parte, por dinastias de origem líbia. Esses grupos, inicialmente integrados ao exército egípcio como mercenários, acabaram por assumir posições de poder. A XXII Dinastia, fundada por Sheshonq I, foi uma das mais significativas desse período.

Sheshonq I conseguiu reunificar momentaneamente o Egito e estendeu sua influência até o Levante, sendo identificado por alguns estudiosos como o "Shishak" mencionado na Bíblia, que saqueou Jerusalém. No entanto, após seu reinado, o país voltou a se fragmentar com a ascensão de dinastias concorrentes, como a XXIII e a XXIV.

A XXV Dinastia: o renascimento núbio

Um dos episódios mais notáveis do Terceiro Período Intermediário foi a ascensão da XXV Dinastia, de origem núbia, também conhecida como a dinastia dos faraós negros. Vindos do Reino de Cuxe (atual Sudão), os reis núbios viam o Egito como uma terra sagrada e buscavam restaurar suas antigas tradições.

Sob o comando de faraós como Piye (ou Piânqui) e Taharqa, os núbios conquistaram o Egito e promoveram um renascimento cultural, revalorizando os templos e os cultos tradicionais. A XXV Dinastia tentou restaurar a unidade e a grandiosidade do Egito, mas enfrentou resistência de dinastias locais e a crescente ameaça do Império Assírio.

A invasão assíria e o fim do Terceiro Período Intermediário

No século VII a.C., os assírios, liderados por reis como Assurbanípal, iniciaram uma série de invasões no Egito. Tebas foi saqueada em 663 a.C., marcando o colapso definitivo da influência núbia. Os assírios instalaram no trono faraós aliados, dando início à XXVI Dinastia, conhecida como Dinastia Saíta, e encerrando o Terceiro Período Intermediário.

Conclusão

O Terceiro Período Intermediário foi um tempo de transição e redefinição para o Egito. Apesar da fragmentação e das invasões, o país manteve sua identidade cultural e religiosa, mesmo sob o domínio de líderes estrangeiros. A presença dos líbios e núbios, bem como o impacto das invasões assírias, moldaram um Egito cada vez mais conectado com o mundo afro-asiático. No próximo artigo, exploraremos a Dinastia Saíta e a breve restauração do poder egípcio antes do domínio persa.

Referências Bibliográficas

  • Bard, Kathryn A. An Introduction to the Archaeology of Ancient Egypt. Blackwell Publishing, 2007.
  • Wilkinson, Toby. The Rise and Fall of Ancient Egypt. Random House, 2010.
  • Shaw, Ian (Ed.). The Oxford History of Ancient Egypt. Oxford University Press, 2000.
  • Redford, Donald B. Egypt, Canaan, and Israel in Ancient Times. Princeton University Press, 1992.
  • Morkot, Robert. The Black Pharaohs: Egypt's Nubian Rulers. The Rubicon Press, 2000.

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