Radio Evangélica

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

João Pessoa: Uma Celebração de História, Fé e Identidade em 5 de Agosto

Ministério do Turismo
No coração do Nordeste brasileiro, onde o sol toca o continente americano pela primeira vez a cada amanhecer, a cidade de João Pessoa celebra seu aniversário em 5 de agosto. A data, no entanto, carrega um duplo e profundo significado que transcende a mera fundação de uma capital. É um dia que entrelaça a saga da colonização portuguesa, a devoção religiosa e as transformações políticas que moldaram a identidade da Paraíba. Comemorar o 5 de agosto é revisitar as camadas de uma história rica, marcada por nomes distintos e uma resiliência notável.

A Fundação às Margens do Sanhauá

A história oficial começa em 5 de agosto de 1585. Naquele dia, os colonizadores portugueses, liderados por figuras como o ouvidor-geral Martim Leitão e o conquistador João Tavares, estabeleceram um núcleo de povoamento às margens do Rio Sanhauá. A cidade não nasceu na costa, como muitas de suas contemporâneas, mas estrategicamente posicionada em uma colina fluvial para se defender de ataques e facilitar o controle do território.

A fundação ocorreu em um contexto de conflito, com o objetivo de consolidar o domínio português na capitania da Paraíba, expulsando os franceses que mantinham alianças comerciais com os indígenas Potiguaras. O nome original do assentamento foi Cidade de Nossa Senhora das Neves, uma homenagem à santa do dia, cuja festa litúrgica coincidia com a data da fundação. Esta escolha marcou desde o início a forte conexão entre o poder temporal e a fé católica, uma característica intrínseca à colonização do Brasil.

Os Múltiplos Nomes: Um Retrato das Reviravoltas Políticas

Poucas cidades brasileiras tiveram tantos nomes quanto João Pessoa, e cada um deles é um testemunho de uma era específica de sua história:

          1.      Nossa Senhora das Neves (1585): O nome batismal, de conotação puramente religiosa.

  1. Filipéia de Nossa Senhora das Neves (1588): Três anos após a fundação, a cidade foi rebatizada em homenagem ao Rei Filipe II da Espanha, que também governava Portugal durante a União Ibérica (1580-1640). O nome "Filipéia" refletia a submissão e a lealdade à coroa hispânica.                                                                                                                                                                             
  2. Frederikstad (Frederica) (1634-1654): Durante a ocupação holandesa no Nordeste, a cidade foi tomada e renomeada em honra a Frederico Henrique, Príncipe de Orange. Este período deixou marcas na arquitetura e na organização urbana da região.                                                                                                                                                                                                                                
  3. Parahyba do Norte (1654): Após a expulsão dos holandeses, a cidade assumiu o nome da capitania, "Parahyba" (mais tarde, Paraíba). Este nome perdurou por quase três séculos, consolidando sua identidade como a capital do estado.                                                                       
  4. João Pessoa (1930): A mudança mais recente e controversa ocorreu em 4 de setembro de 1930. A cidade foi renomeada em homenagem a João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, presidente (governador) do estado assassinado em Recife em 26 de julho do mesmo ano. Seu assassinato foi o estopim para a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. A mudança, realizada no calor dos acontecimentos políticos, imortalizou João Pessoa como um mártir do movimento revolucionário, mas também gerou debates que persistem até hoje sobre a sobreposição da história política recente à tradição secular.

 A Devoção a Nossa Senhora das Neves

Paralelamente à história cívica, o 5 de agosto é o dia da padroeira de João Pessoa e do estado da Paraíba, Nossa Senhora das Neves. A tradição católica conta que, no século IV, um casal romano sem herdeiros decidiu dedicar sua fortuna à Virgem Maria. Em um sonho, ela lhes pediu que construíssem uma igreja no local onde nevasse em pleno verão romano. Na manhã de 5 de agosto, o Monte Esquilino, em Roma, amanheceu coberto de neve, e ali foi erguida a Basílica de Santa Maria Maior.

Em João Pessoa, a data é marcada por celebrações religiosas que culminam em uma grande procissão, reunindo milhares de fiéis. A Festa das Neves é uma das mais tradicionais do estado, com eventos culturais, feiras e shows que ocupam o centro histórico, reforçando a dimensão popular e devocional do aniversário da cidade.

Conclusão: Uma Capital entre o Passado e o Futuro

Celebrar o aniversário de João Pessoa é, portanto, uma oportunidade para refletir sobre sua complexa jornada. É reconhecer a bravura dos primeiros habitantes, as disputas geopolíticas que definiram seu destino, a fé que lhe deu o primeiro nome e a turbulência política que lhe conferiu o nome atual. Hoje, a cidade se destaca não apenas por sua história, mas por sua qualidade de vida, suas praias urbanas bem preservadas e seu título de uma das capitais mais verdes do mundo. O dia 5 de agosto serve como um lembrete de que a identidade de João Pessoa foi, e continua a ser, forjada na confluência da história, da fé e da constante capacidade de se reinventar.

Referências Bibliográficas

Nota: As referências abaixo são obras clássicas e fontes institucionais que fundamentam o estudo da história de João Pessoa e da Paraíba, recomendadas para aprofundamento.

  1. ALMEIDA, Horácio de. História da Paraíba. 2 vols. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 1997.
    • Obra fundamental e um dos mais completos levantamentos sobre a história do estado, desde a pré-história até o século XX.
  2. LEAL, Wills. A Paraíba e seus Problemas. 3ª Edição. João Pessoa: A União, 2000.
    • Oferece um panorama geográfico, social e histórico do estado, com análises sobre a formação de seus principais núcleos urbanos.
  3. MELLO, José Octávio de Arruda. História da Paraíba: Lutas e Resistência. João Pessoa: Editora Universitária, 1997.
    • Focado nos processos de conflito e nos movimentos sociais que marcaram a trajetória paraibana.
  4. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). Processo de Tombamento do Centro Histórico de João Pessoa. Disponível nos arquivos digitais e físicos do IPHAN.
    • Documentação que detalha a importância histórica e arquitetônica da área central da cidade, incluindo informações sobre sua fundação e evolução urbana.
  5. PONTES, François. Filipéia, Frederica, Paraíba: Os Nomes da Cidade de João Pessoa. João Pessoa: Ideia, 2008.
    • Livro específico sobre a interessante questão dos múltiplos nomes da capital paraibana, analisando os contextos de cada mudança.

 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário