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A Fundação às Margens do Sanhauá
A história oficial começa em 5 de agosto de 1585. Naquele
dia, os colonizadores portugueses, liderados por figuras como o ouvidor-geral
Martim Leitão e o conquistador João Tavares, estabeleceram um núcleo de
povoamento às margens do Rio Sanhauá. A cidade não nasceu na costa, como muitas
de suas contemporâneas, mas estrategicamente posicionada em uma colina fluvial
para se defender de ataques e facilitar o controle do território.
A fundação ocorreu em um contexto de conflito, com o
objetivo de consolidar o domínio português na capitania da Paraíba, expulsando
os franceses que mantinham alianças comerciais com os indígenas Potiguaras. O
nome original do assentamento foi Cidade de Nossa Senhora das Neves, uma
homenagem à santa do dia, cuja festa litúrgica coincidia com a data da
fundação. Esta escolha marcou desde o início a forte conexão entre o poder
temporal e a fé católica, uma característica intrínseca à colonização do
Brasil.
Os Múltiplos Nomes: Um Retrato das Reviravoltas Políticas
Poucas cidades brasileiras tiveram tantos nomes quanto João Pessoa, e cada um deles é um testemunho de uma era específica de sua história:
1. Nossa Senhora das Neves (1585): O nome batismal, de conotação puramente religiosa.
- Filipéia
de Nossa Senhora das Neves (1588): Três anos após a fundação, a cidade
foi rebatizada em homenagem ao Rei Filipe II da Espanha, que também
governava Portugal durante a União Ibérica (1580-1640). O nome
"Filipéia" refletia a submissão e a lealdade à coroa hispânica.
- Frederikstad
(Frederica) (1634-1654): Durante a ocupação holandesa no Nordeste, a
cidade foi tomada e renomeada em honra a Frederico Henrique, Príncipe de
Orange. Este período deixou marcas na arquitetura e na organização urbana
da região.
- Parahyba
do Norte (1654): Após a expulsão dos holandeses, a cidade assumiu o
nome da capitania, "Parahyba" (mais tarde, Paraíba). Este nome
perdurou por quase três séculos, consolidando sua identidade como a
capital do estado.
- João
Pessoa (1930): A mudança mais recente e controversa ocorreu em 4 de
setembro de 1930. A cidade foi renomeada em homenagem a João Pessoa
Cavalcanti de Albuquerque, presidente (governador) do estado assassinado
em Recife em 26 de julho do mesmo ano. Seu assassinato foi o estopim para
a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. A mudança,
realizada no calor dos acontecimentos políticos, imortalizou João Pessoa
como um mártir do movimento revolucionário, mas também gerou debates que
persistem até hoje sobre a sobreposição da história política recente à
tradição secular.
A Devoção a Nossa Senhora das Neves
Paralelamente à história cívica, o 5 de agosto é o dia da
padroeira de João Pessoa e do estado da Paraíba, Nossa Senhora das Neves.
A tradição católica conta que, no século IV, um casal romano sem herdeiros
decidiu dedicar sua fortuna à Virgem Maria. Em um sonho, ela lhes pediu que
construíssem uma igreja no local onde nevasse em pleno verão romano. Na manhã
de 5 de agosto, o Monte Esquilino, em Roma, amanheceu coberto de neve, e ali
foi erguida a Basílica de Santa Maria Maior.
Em João Pessoa, a data é marcada por celebrações religiosas
que culminam em uma grande procissão, reunindo milhares de fiéis. A Festa das
Neves é uma das mais tradicionais do estado, com eventos culturais, feiras e
shows que ocupam o centro histórico, reforçando a dimensão popular e devocional
do aniversário da cidade.
Conclusão: Uma Capital entre o Passado e o Futuro
Celebrar o aniversário de João Pessoa é, portanto, uma
oportunidade para refletir sobre sua complexa jornada. É reconhecer a bravura
dos primeiros habitantes, as disputas geopolíticas que definiram seu destino, a
fé que lhe deu o primeiro nome e a turbulência política que lhe conferiu o nome
atual. Hoje, a cidade se destaca não apenas por sua história, mas por sua
qualidade de vida, suas praias urbanas bem preservadas e seu título de uma das
capitais mais verdes do mundo. O dia 5 de agosto serve como um lembrete de que
a identidade de João Pessoa foi, e continua a ser, forjada na confluência da
história, da fé e da constante capacidade de se reinventar.
Referências Bibliográficas
Nota: As referências abaixo são obras clássicas e
fontes institucionais que fundamentam o estudo da história de João Pessoa e da
Paraíba, recomendadas para aprofundamento.
- ALMEIDA,
Horácio de. História da Paraíba. 2 vols. João Pessoa: Editora
Universitária/UFPB, 1997.
- Obra
fundamental e um dos mais completos levantamentos sobre a história do
estado, desde a pré-história até o século XX.
- LEAL,
Wills. A Paraíba e seus Problemas. 3ª Edição. João Pessoa: A União,
2000.
- Oferece
um panorama geográfico, social e histórico do estado, com análises sobre
a formação de seus principais núcleos urbanos.
- MELLO,
José Octávio de Arruda. História da Paraíba: Lutas e Resistência.
João Pessoa: Editora Universitária, 1997.
- Focado
nos processos de conflito e nos movimentos sociais que marcaram a
trajetória paraibana.
- INSTITUTO
DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). Processo de
Tombamento do Centro Histórico de João Pessoa. Disponível nos arquivos
digitais e físicos do IPHAN.
- Documentação
que detalha a importância histórica e arquitetônica da área central da
cidade, incluindo informações sobre sua fundação e evolução urbana.
- PONTES,
François. Filipéia, Frederica, Paraíba: Os Nomes da Cidade de João
Pessoa. João Pessoa: Ideia, 2008.
- Livro
específico sobre a interessante questão dos múltiplos nomes da capital
paraibana, analisando os contextos de cada mudança.
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