Radio Evangélica

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

O Custo da Indiferença: Quando o "Urgente" Ofusca o "Importante"

Em nossa rotina diária, a lista de afazeres parece infinita. Projetos de trabalho, metas financeiras, compromissos acadêmicos e a constante pressão por produtividade dominam nossa atenção. Vivemos em uma cultura que glorifica a ocupação, onde "estar ocupado" é frequentemente visto como sinônimo de "ser importante". Mas, no meio dessa agitação, corremos um risco sutil e perigoso: o risco da indiferença.

Uma das passagens mais provocativas sobre esse tema se encontra no Evangelho de Mateus, em uma parábola contada por Jesus. Em Mateus 22:5, lemos uma resposta desconcertante a um convite grandioso:

"Mas eles não lhes deram atenção e se foram, um para o seu campo, e outro para os seus negócios."

Este versículo, embora breve, carrega o peso de uma verdade universal e atemporal sobre as prioridades humanas.

Desvendando a Parábola: Mais do que uma Recusa

A passagem está na Parábola das Bodas. Um rei prepara um suntuoso banquete de casamento para seu filho – um evento de máxima honra e celebração. Ele envia seus servos para chamar os convidados, mas a reação é de puro desinteresse.

O ponto crucial aqui não é uma oposição hostil ou uma impossibilidade genuína de comparecer. A resposta foi a indiferença. Os convidados não argumentaram, não se revoltaram; eles simplesmente ignoraram o convite e voltaram para suas rotinas. O campo (o trabalho braçal, a subsistência) e os negócios (o comércio, a ambição financeira) foram considerados mais importantes do que a honra de estar na presença do rei.

No simbolismo da parábola, o Rei é Deus, o banquete é a oferta da salvação, da comunhão e do Reino dos Céus, e os convidados somos nós. O convite é a graça divina estendida a todos.

O "Campo" e os "Negócios" do Século XXI

Hoje, nossos "campos" e "negócios" assumiram formas diversas e sofisticadas. Eles são:

  • Nossa carreira: A busca por promoções, o crescimento profissional e a construção de um legado.
  • Nossos projetos: As metas de expansão, os empreendimentos autônomos e a busca por inovação.
  • Nossos estudos: A aquisição de novas habilidades e o aprimoramento contínuo.
  • Nossas finanças: A administração de investimentos e a busca por segurança material.
  • Nossas distrações: As redes sociais, o entretenimento sob demanda e os passatempos que consomem nosso tempo livre.

Nenhuma dessas atividades é inerentemente má. Pelo contrário, são partes legítimas e necessárias da vida. O perigo descrito por Jesus não reside no ato de trabalhar ou de administrar negócios, mas em permitir que essas atividades nos tornem surdos a convites de ordem superior.

A Tragédia da Indiferença

A indiferença é mais traiçoeira que a rejeição declarada. A rejeição exige uma decisão consciente, um posicionamento. A indiferença, por outro lado, é passiva. Ela se disfarça de responsabilidade, de prudência, de "apenas viver a vida".

Quantas vezes o convite para um momento de silêncio e reflexão é ignorado em favor de mais uma hora de trabalho? Quantas vezes a oportunidade de uma conversa profunda com um familiar é adiada por causa de um e-mail "urgente"? Quantas vezes o chamado para servir a um propósito maior é abafado pelo ruído de nossas próprias ambições?

O convite do Rei continua a ser feito. Ele se manifesta no anseio por significado, na necessidade de paz interior, nos momentos de quietude que nos convidam à introspecção e na oportunidade de cultivar relacionamentos que nutrem a alma.

Conclusão: Onde Está a Sua Atenção?

A reflexão proposta por Mateus 22:5 não é um chamado para abandonar nossas responsabilidades, mas sim para reordenar nossas prioridades. É um convite para auditar nossa própria vida e perguntar: o que, de fato, está recebendo a minha atenção primária?

O grande risco não é odiar o banquete, mas amarmos tanto nosso "campo" e nossos "negócios" a ponto de nem notarmos que fomos convidados para algo infinitamente maior. A tragédia final dos convidados da parábola não foi a de serem barrados na porta, mas a de nunca terem chegado perto dela, ocupados demais com o que consideravam mais importante.

Que possamos ter a sabedoria para administrar nossos campos e negócios com excelência, sem permitir que eles nos impeçam de ouvir e aceitar os convites que verdadeiramente dão sentido à nossa jornada. A questão final não é se o convite foi feito, mas se daremos atenção a ele.

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