Radio Evangélica

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A Democracia Coroada: A Singular Engenharia Política do Império do Brasil

"A Democracia Coroada: Teoria Política do Império do Brasil", uma obra seminal de João Camillo de Oliveira Torres, que se revela indispensável para a compreensão da formação política e institucional do Brasil. Este livro desafia interpretações simplistas e mergulha na complexidade do Império, revelando como a monarquia brasileira logrou ser um sistema singular, dotado de características democráticas profundas para seu tempo.

Oliveira Torres introduz a tese central de que o Império brasileiro não foi uma monarquia absolutista ou meramente um anacronismo europeu em terras tropicais, mas sim uma "democracia coroada". Esta formulação, aparentemente paradoxal, é meticulosamente desenvolvida ao longo da obra, demonstrando como o sistema político imperial buscou conciliar a estabilidade e a unidade proporcionadas por uma Coroa hereditária com os princípios liberais e representativos emergentes do século XIX.

A obra se estrutura em uma análise detalhada das raízes ideológicas e históricas do Império, seguida por um exame aprofundado de suas instituições e, finalmente, pela evolução de suas fases de desenvolvimento.

Raízes Ideológicas e Históricas: O autor remonta as origens do regime imperial às tradições da realeza portuguesa medieval, caracterizada por uma monarquia limitada e uma forte noção de justiça e lei consuetudinária, onde o rei governava, mas a nação se administrava. A Independência do Brasil, nesse sentido, é apresentada não como uma ruptura radical, mas como uma "revolução legítima", impulsionada pela vontade conjunta do povo e do Príncipe Regente D. Pedro I, visando a preservação da unidade e a adoção de um sistema constitucional representativo. Oliveira Torres explora a influência de pensadores como Benjamin Constant, que defendia o "Poder Moderador" como uma força neutra e imparcial, essencial para o equilíbrio dos demais poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), e de Filangieri, cujas ideias reformistas contribuíram para a visão de uma Coroa atenta às necessidades sociais. A discussão sobre "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" é particularmente rica, contextualizando os ideais liberais da época e a peculiar "democracia racial" brasileira, que, apesar da escravidão, tendia a uma homogeneização social e jurídica notável em comparação com outros contextos.

As Instituições Imperiais: O coração da "democracia coroada" reside na teoria do Estado Imperial, onde a soberania é delegada tanto ao Imperador quanto à Assembleia Geral, formando uma "Nação Brasileira" que transcende a soma dos cidadãos atuais. O Poder Moderador, delegado "privativamente" ao Imperador, é dissecado como a "chave de toda a organização política", destinado a velar pela harmonia e equilíbrio entre os poderes. Oliveira Torres argumenta que esse poder, embora pessoal ao monarca, era exercido de forma institucional, atuando como um árbitro suprapartidário, especialmente evidente na atuação de D. Pedro II. A evolução do Parlamentarismo é tratada com nuance, mostrando como, apesar de não ser explicitamente previsto na Constituição, o regime de gabinete se consolidou na prática, com o Imperador frequentemente intervindo para assegurar a alternância partidária e a representatividade em face de eleições nem sempre autênticas.

O Poder Legislativo é analisado em suas duas câmaras – a Câmara dos Deputados (representando a opinião pública atual) e o Senado (representando a tradição e a experiência, com membros vitalícios). O autor destaca a interdependência desses órgãos e a complexidade do processo legislativo. A organização militar e a estrutura jurídica também são abordadas, revelando como as forças armadas e o judiciário se integraram (ou não) na dinâmica política, com a reforma do Código de Processo Criminal (Lei de 1841) sendo um marco da centralização e da profissionalização da justiça e polícia, em contraste com a descentralização do Código de 1832.

A obra não negligencia os direitos civis e políticos dos cidadãos, enfatizando que, embora limitados pela existência da escravidão, esses direitos eram amplos e inovadores para a época, com a Constituição de 1824 garantindo liberdades individuais e jurídicas que rivalizavam com as de nações mais avançadas. A análise do sistema eleitoral e dos partidos políticos é crucial, desmistificando a ideia de partidos homogêneos e revelando a complexa teia de alianças e rivalidades que, apesar das deficiências eleitorais da época (como o "coronelismo" embrionário), buscavam legitimidade e influência.

Fases do Desenvolvimento e Causas da República: O livro acompanha a trajetória do Império, desde a elaboração da Constituição e o Ato Adicional (que concedeu autonomia às províncias), passando pela Regência e o Segundo Reinado, até as "questões" que culminaram na Proclamação da República. As "questões militar, religiosa, servil e federal" são detalhadamente examinadas não apenas como causas isoladas, mas como tensões inerentes a um sistema em constante adaptação. Oliveira Torres argumenta que o "poder pessoal" de D. Pedro II, frequentemente criticado pelos liberais da época, era, na verdade, uma manifestação da função moderadora do Imperador, atuando como um baluarte contra as oligarquias e a ineficiência do sistema eleitoral. A ascensão de uma nova classe média urbana e o início da industrialização são apontados como forças sociais que, ao buscar uma representação política mais alinhada com seus interesses, contribuíram para a transição para a República.

Conclusão da Obra: "A Democracia Coroada" é um trabalho de fôlego que desvenda a engenharia política do Brasil Imperial com erudição e perspicácia. João Camillo de Oliveira Torres nos oferece uma visão multifacetada e profundamente brasileira de um regime que, em sua complexidade e capacidade de conciliar princípios aparentemente opostos, forjou a identidade institucional do país. Sua análise é um convite à reflexão sobre a resiliência das instituições e a contínua busca brasileira por equilíbrio entre autoridade e liberdade.

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