Forma de Governo: Uma Monarquia Absoluta com Nuances
A forma de governo de Omã é uma monarquia absoluta e
hereditária. O chefe de Estado e de Governo é o Sultão, que
concentra os poderes executivo, legislativo e judiciário. Atualmente, o país é
liderado pelo Sultão Haitham bin Tariq Al Said, que sucedeu seu primo, o
aclamado Sultão Qaboos bin Said, em 2020.
As principais características do sistema de governo são:
- Poder
Centralizado: O Sultão atua como Primeiro-Ministro, Ministro da
Defesa, Ministro das Finanças, Ministro das Relações Exteriores e
Presidente do Banco Central. Ele nomeia e demite ministros, aprova e
promulga leis por meio de decretos reais, e é o comandante-em-chefe das
Forças Armadas.
- O
Estatuto Básico do Estado: Promulgado em 1996 e atualizado
significativamente em 2021, este documento funciona como a constituição do
país. Ele define a natureza do Estado, os direitos e deveres dos cidadãos
e a estrutura de governo.
- Mecanismo
de Sucessão: Historicamente, a sucessão era decidida pela família real
dentro de três dias após a morte do Sultão. Caso não houvesse consenso, um
envelope lacrado com a escolha do Sultão anterior seria aberto. Em 2021, o
Sultão Haitham alterou o Estatuto Básico, estabelecendo pela primeira vez
a posição de Príncipe Herdeiro, nomeando seu filho mais velho, Theyazin
bin Haitham, para a função. Essa mudança visa garantir uma transição
de poder mais estável e previsível.
Embora absoluto, o poder do Sultão é exercido com base na
consulta e em uma profunda compreensão das tradições tribais e religiosas do
país.
Religião: O Pilar do Ibadismo
A identidade de Omã é indissociável de sua vertente
majoritária do Islã: o Ibadismo. Diferente das vertentes Sunitas e
Xiitas, predominantes no resto do mundo islâmico, o Ibadismo é conhecido por
sua ênfase na tolerância, pragmatismo e moderação.
- Origens
e Princípios: O Ibadismo é uma das mais antigas escolas do Islã,
surgida menos de 50 anos após a morte do Profeta Maomé. Seus seguidores
acreditam que a liderança da comunidade muçulmana (o Imamato) não deve ser
baseada em linhagem (como no Xiismo) ou em pertencimento tribal (como na
sucessão Sunita inicial), mas sim na piedade e no conhecimento teológico
do candidato, que idealmente deveria ser eleito.
- Impacto
na Sociedade e Política: Essa tradição de moderação se reflete na
política interna e externa de Omã. O país garante a liberdade de culto
para outras religiões, e é comum ver igrejas cristãs e templos hindus
operando livremente em Mascate. Externamente, a abordagem ibadita influencia
a postura de neutralidade e mediação de Omã em conflitos regionais,
permitindo que o Sultanato mantenha boas relações tanto com o Irã quanto
com a Arábia Saudita e os Estados Unidos.
O Islã é a religião oficial do Estado, e a Sharia (lei
islâmica) é uma fonte de legislação, mas sua aplicação é temperada pelos
princípios ibaditas de tolerância.
O Parlamento (Majlis Oman): Um Sistema Consultivo
Para equilibrar o poder absoluto do Sultão com alguma forma
de participação popular, Omã possui um parlamento bicameral chamado Majlis
Oman. É crucial entender que seu papel é primariamente consultivo,
não legislativo no sentido ocidental. Ele aconselha o Sultão, mas não possui
poder de veto final sobre suas decisões.
O Majlis Oman é composto por duas câmaras:
1. Majlis al-Shura (Conselho Consultivo)
- Composição:
É a câmara baixa, composta por 86 membros eleitos por sufrágio universal
direto (homens e mulheres acima de 21 anos podem votar). Cada província (wilayat)
elege um ou dois representantes, dependendo de sua população. O mandato é
de quatro anos.
- Funções:
- Revisar
e propor emendas a projetos de lei elaborados pelo Conselho de Ministros
antes de serem enviados ao Sultão.
- Propor
novas leis por iniciativa própria.
- Convocar
ministros para interrogatórios sobre suas áreas de atuação.
- Analisar
os planos de desenvolvimento e o orçamento anual do Estado.
Apesar dessas prerrogativas, suas propostas e emendas são
recomendações.
2. Majlis al-Dawla (Conselho de Estado)
- Composição:
É a câmara alta, cujos membros são nomeados diretamente pelo Sultão. É
composta por ex-ministros, ex-embaixadores, juízes aposentados, acadêmicos
e figuras proeminentes da sociedade omani. Seu número de membros não pode
exceder o do Majlis al-Shura.
- Funções:
- Atuar
como um corpo de revisão e aconselhamento. Ele analisa as leis e
propostas aprovadas pelo Majlis al-Shura e oferece seu parecer ao Sultão.
- Conduzir
estudos e fazer recomendações sobre temas de importância nacional.
O processo legislativo geralmente flui do Conselho de
Ministros para o Majlis al-Shura, depois para o Majlis al-Dawla, e finalmente
para o Sultão para aprovação final. Em caso de divergência entre as duas
câmaras, uma comissão conjunta pode ser formada, mas a palavra final é sempre
do Sultão.
Conclusão
A monarquia de Omã apresenta um modelo fascinante de
governança que mescla a autoridade centralizada de um Sultão absoluto com as
tradições consultivas do Ibadismo e a participação popular estruturada através
do Majlis Oman. Essa estrutura tripla — poder monárquico, identidade religiosa
tolerante e instituições parlamentares consultivas — tem sido a chave para a
notável estabilidade do país e sua capacidade de navegar pelas complexidades do
Oriente Médio, projetando um caminho de modernização que respeita profundamente
sua herança cultural.
Referências Bibliográficas
- Valeri,
Marc. (2017). Oman: Politics and Society in the Qaboos State.
Hurst & Company.
- Um
livro essencial que analisa a construção do Estado omani moderno sob o
Sultão Qaboos, detalhando a estrutura política e social.
- Peterson,
J.E. (2007). Historical Dictionary of Oman. Scarecrow Press.
- Uma
obra de referência abrangente sobre a história, política, economia e
cultura de Omã, útil para entender as raízes históricas das instituições
atuais.
- Ulrichsen,
Kristian Coates. (2017). The Gulf States in International Political
Economy. Palgrave Macmillan.
- Oferece
contexto sobre como a estrutura política de Omã se encaixa no panorama
mais amplo da economia política do Golfo, incluindo suas estratégias de
diversificação e política externa.
- Government
of Oman. Basic Statute of the State. Royal Decree 6/2021.
- O
documento legal primário que define a forma de governo, os poderes do
Sultão, a criação do cargo de Príncipe Herdeiro e as funções do Majlis
Oman. Disponível em portais oficiais do governo omani.
- Hoffman,
Valerie J. (2012). The Essentials of Ibadi Islam. Syracuse
University Press.
- Uma
análise acadêmica detalhada sobre a teologia, história e práticas do
Ibadismo, fundamental para compreender sua influência na sociedade e
política de Omã.
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