1. A Origem: Onde e Como Surgiu?
Localização Geográfica
A civilização maia floresceu na região que hoje
compreende o sudeste do México (os estados de Yucatán, Campeche, Quintana Roo,
Tabasco e Chiapas), toda a Guatemala e o Belize, além das porções ocidentais de
Honduras e El Salvador. Este vasto território não é homogêneo; divide-se em
três zonas geográficas distintas que influenciaram o desenvolvimento de suas
cidades:
- As
Terras Altas (Highlands): Ao sul, uma região montanhosa com cadeias
vulcânicas. Fornecia recursos valiosos como jade, obsidiana e basalto,
essenciais para o comércio e a fabricação de ferramentas e objetos de
prestígio.
- As
Terras Baixas do Sul (Southern Lowlands): Abrangendo o norte da
Guatemala (a região de Petén) e áreas adjacentes. Caracterizada por uma
densa floresta tropical, foi o berço das maiores e mais poderosas
cidades-estado do Período Clássico.
- As
Terras Baixas do Norte (Northern Lowlands): Correspondente à Península
de Yucatán, uma área mais seca e com solo calcário poroso, resultando em
poucos rios de superfície e a formação de poços naturais de água,
conhecidos como cenotes, que foram vitais para o estabelecimento de
assentamentos.
O Processo de Formação (Como Surgiu)
A ascensão da civilização maia é tradicionalmente dividida
em três grandes períodos. Sua origem remonta ao Período Pré-Clássico (c.
2000 a.C. – 250 d.C.).
Inicialmente, a região era habitada por pequenas aldeias de
caçadores-coletores. Por volta de 2000 a.C., a agricultura, com base na
"tríade mesoamericana" — milho, feijão e abóbora —, tornou-se
a base da subsistência. Esse desenvolvimento permitiu a sedentarização e o
crescimento populacional.
Uma influência crucial nesse período inicial veio da civilização
Olmeca, frequentemente chamada de "cultura-mãe" da Mesoamérica.
Os olmecas, localizados na costa do Golfo do México, transmitiram aos primeiros
maias elementos culturais fundamentais, como a construção de pirâmides, o jogo
de bola ritualístico, práticas de governo centralizado e as bases do calendário
e da escrita.
A partir de 1000 a.C., os assentamentos maias começaram a se
transformar em centros urbanos complexos. No Pré-Clássico Tardio (c. 400 a.C. –
250 d.C.), surgiram as primeiras grandes cidades nas Terras Baixas, como El
Mirador e Nakbé, na Guatemala. Elas já exibiam uma arquitetura
monumental, com complexos de templos e pirâmides de proporções colossais,
indicando a existência de uma elite governante capaz de mobilizar grandes
contingentes de mão de obra. Foi nesse período que os pilares da identidade
maia — organização política em cidades-estado, religião complexa e calendários
precisos — foram solidificados, preparando o terreno para o apogeu do Período
Clássico.
2. As Principais Cidades Maias
A civilização maia nunca foi um império unificado, mas uma
rede de cidades-estado independentes que competiam, comerciavam e guerreavam
entre si. Cada cidade era um centro político, religioso e econômico. As mais
influentes surgiram durante o Período Clássico (c. 250 d.C. – 900 d.C.).
Cidades do Período Clássico:
- Tikal
(Guatemala): Uma das mais poderosas e extensas cidades-estado.
Localizada na bacia de Petén, dominou a política e a economia da região
por séculos. É famosa por suas imponentes pirâmides-templo, como o Templo
do Grande Jaguar (Templo I), que serviu de tumba para o governante Jasaw
Chan K'awiil I. Tikal manteve uma rivalidade histórica com Calakmul.
- Calakmul
(México): A grande rival de Tikal e centro da poderosa dinastia Kaanul
(Reino da Serpente). É uma das maiores cidades maias já descobertas, com
mais de 6.500 estruturas identificadas e o maior número de estelas
(monumentos de pedra com inscrições) encontradas em um único sítio, que
narram sua história dinástica e suas alianças militares.
- Palenque
(México): Situada nas encostas das montanhas de Chiapas, Palenque é
célebre pela elegância e detalhamento de sua arquitetura e esculturas. Seu
monumento mais famoso é o Templo das Inscrições, que abriga a tumba de um
de seus mais importantes reis, K'inich Janaab' Pakal (Pakal, o Grande).
- Copán
(Honduras): Localizada no extremo sudeste do mundo maia, Copán era um
centro artístico e intelectual. É mundialmente famosa pela Escadaria
Hieroglífica, que contém o mais longo texto maia conhecido, e por suas
estelas tridimensionais, consideradas o ápice da escultura maia.
Cidades proeminentes do Período Pós-Clássico (c. 900 d.C.
– 1524 d.C.):
Após o chamado "colapso" das cidades das Terras
Baixas do Sul, o poder e a população se concentraram nas Terras Baixas do Norte
(Península de Yucatán).
- Chichén
Itzá (México): Uma cidade que floresceu na transição do Clássico para
o Pós-Clássico. É conhecida por sua fusão de estilos arquitetônicos maias
e toltecas (um povo do centro do México). Sua estrutura mais icônica é a
Pirâmide de Kukulcán (El Castillo), um monumental calendário de pedra.
- Mayapán
(México): Após o declínio de Chichén Itzá, Mayapán se tornou a capital
política da Península de Yucatán por mais de 200 anos. Era uma cidade
murada, refletindo o clima de instabilidade e guerra do período.
- Tulum
(México): Uma cidade portuária fortificada, estrategicamente
localizada em um penhasco com vista para o Mar do Caribe. Foi um
importante centro de comércio marítimo na fase final da civilização maia,
conectando rotas comerciais que se estendiam por toda a costa.
Conclusão
A civilização maia não surgiu de um único ponto, mas de um
longo e complexo processo de desenvolvimento cultural e social em uma geografia
diversificada. Alimentada pela agricultura e influenciada por seus
predecessores olmecas, ela evoluiu de pequenas aldeias para uma rede de
poderosas cidades-estado que dominaram a Mesoamérica por séculos. Cidades como
Tikal, Palenque e Chichén Itzá não são apenas ruínas impressionantes, mas
testemunhos de uma sociedade com profundos conhecimentos em diversas áreas, cujo
legado continua a fascinar o mundo moderno.
Referências Bibliográficas
COE, Michael D.; HOUSTON, Stephen. The Maya. 9ª ed.
Londres: Thames & Hudson, 2015.
MARTIN, Simon; GRUBE, Nikolai. Chronicle of the Maya
Kings and Queens: Deciphering the Dynasties of the Ancient Maya. 2ª ed.
Londres: Thames & Hudson, 2008.
SHARER, Robert J.; TRAXLER, Loa P. The Ancient Maya.
6ª ed. Stanford: Stanford University Press, 2006.
MCKILLOP, Heather. The Ancient Maya: New Perspectives.
Santa Barbara: ABC-CLIO, 2004.
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