O Legado de Segurança e a Comercialização de Edison
Quando Thomas Edison comercializou sua lâmpada em 1880, ele
não apenas introduziu uma nova forma de iluminar, mas também um elemento de
segurança sem precedentes. A eletricidade, ao contrário dos combustíveis
inflamáveis, reduzia drasticamente os riscos de incêndio e explosão, tornando
lares e locais de trabalho muito mais seguros.
No entanto, é crucial reconhecer que Edison, embora um
brilhante empreendedor e inovador que tornou a lâmpada comercialmente viável,
não "inventou" a lâmpada do zero. O princípio básico da lâmpada
elétrica foi demonstrado pela primeira vez pelo cientista britânico Humphry
Davy em 1802 com sua lâmpada de arco. Foram necessários 80 anos de avanços
tecnológicos e no campo da ciência dos materiais para que o conceito de Davy se
tornasse uma realidade prática e duradoura. A lâmpada de Edison, por exemplo,
utilizava um filamento carbonizado e tinha uma vida útil limitada a cerca de 40
horas, um número significativamente inferior ao que seria alcançado
futuramente.
A Busca pela Longevidade: O Exemplo da Lâmpada Mazda
A busca por uma maior durabilidade do filamento era um
desafio constante para os inventores. Experiências com uma variedade de
substâncias – como carbono, platina e outros metais – foram realizadas para
encontrar o material ideal. Um exemplo notável de sucesso na longevidade é a
famosa lâmpada Mazda da General Electric (GE), que utilizava um filamento de
tungstênio de seis espirais.
A impressionante história de uma dessas lâmpadas, instalada
em uma fazenda em Westport, Massachusetts, em 1922, ilustra bem esse avanço.
Ela continuou funcionando ininterruptamente até 1989, um feito de 67 anos! Essa
narrativa real não apenas cativa, mas destaca a evolução extraordinária dos
materiais e da engenharia na indústria da iluminação. A lâmpada Mazda de
tungstênio começou a ser produzida em 1909 pela Shelby Electric Co. e,
posteriormente, pela GE, tornando-se um marco em termos de durabilidade.
Tungsram e a Revolução do Filamento de Tungstênio
A verdadeira guinada na durabilidade e eficiência das
lâmpadas incandescentes veio com a adoção do tungstênio como filamento. O
tungstênio, com seu altíssimo ponto de fusão e resistência, provou ser o
material mais eficaz, superando amplamente outros materiais experimentados.
A primeira lâmpada de tungstênio comercialmente disponível
foi a Tungsram, lançada na Europa em 1904. Seu nome é uma engenhosa
contração dos termos "tungstênio" e "volfrâmio" (o outro
nome do tungstênio, que dá origem ao seu símbolo químico W). Esta inovação foi
resultado do trabalho pioneiro do húngaro Aleksandar Just (1872-1937) e do
croata Franjo Hanaman (1878-1941).
Apesar de ser revolucionário, o filamento da Tungsram foi
ainda mais aprimorado em 1909 por William Coolidge (1873-1975), diretor de
pesquisa da G.E., que inventou o "tungstênio dúctil". Essa invenção
tornou a fabricação de filamentos mais eficiente e, consequentemente, a vida
útil das lâmpadas ainda mais longa e o custo mais acessível, democratizando o
acesso à luz elétrica.
Um Legado de Inovação Contínua
A lâmpada incandescente, em suas diversas formas e
aperfeiçoamentos, não apenas iluminou nossas casas e locais de trabalho, mas
também simbolizou o progresso científico e tecnológico de uma era. De Humphry
Davy, que concebeu o princípio, a Edison, que o comercializou, e aos
visionários Just, Hanaman e Coolidge, que refinaram o filamento de tungstênio,
a história dessa invenção é um testemunho da colaboração, da resiliência e da
busca incessante por soluções melhores que moldaram o mundo moderno. Embora as
lâmpadas incandescentes tenham sido amplamente substituídas por tecnologias
mais eficientes hoje em dia, seu impacto e a lição de inovação que elas
carregam permanecem incandescente em nossa história.
Referências Bibliográficas:
- Chaline,
Erich. 50 máquinas que mudaram o rumo da história. Tradução de
Fabiano Moraes. Rio de Janeiro: Sextante, 2014.
- Friedel,
Robert; Israel, Paul. Edison's Electric Light: The Art of Invention.
Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2010.
- Passer,
Harold C. The Electrical Manufacturers, 1875-1900: A Study in
Competition, Entrepreneurship, Technical Change, and Economic Growth.
Cambridge, MA: Harvard University Press, 1953.
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