Cosmovisão andina e os três mundos
Os incas concebiam o universo em três níveis interligados:
- Hanan
Pacha (o mundo superior): morada dos deuses celestiais, como o sol
(Inti) e a lua (Mama Killa);
- Kay
Pacha (o mundo terreno): onde os seres humanos viviam e interagiam com
a natureza;
- Ukhu
Pacha (o mundo inferior): domínio dos mortos e do inconsciente, ligado
à fertilidade e ao renascimento.
Essa divisão não representava separações rígidas, mas sim
uma harmonia dinâmica entre os planos, que exigia equilíbrio por meio de
rituais e práticas sociais.
Deuses e cultos principais
O panteão inca era vasto e refletia a diversidade cultural
dos Andes. Entre as divindades mais cultuadas estavam:
- Inti,
o deus do Sol: considerado o ancestral do Sapa Inca e protetor do império;
- Viracocha,
o deus criador: responsável pela criação do mundo e da humanidade;
- Pachamama,
a deusa da terra: protetora da agricultura e símbolo da fertilidade;
- Mama
Killa, a deusa da lua: associada ao ciclo feminino e ao calendário
lunar.
Os templos, como o Coricancha em Cusco, eram centros
religiosos ricamente adornados com ouro e prata, onde sacerdotes realizavam
oferendas, leituras dos astros e sacrifícios, inclusive humanos em ocasiões
excepcionais.
Rituais e festas religiosas
As festividades religiosas eram marcadas por música, dança,
oferendas e banquetes comunitários. Um dos rituais mais importantes era o Inti
Raymi, a Festa do Sol, realizada no solstício de inverno. Nessa ocasião,
homenageava-se Inti com procissões e sacrifícios para garantir a fertilidade da
terra e a proteção do império.
Outros rituais incluíam as capacocha, cerimônias que
envolviam o sacrifício de crianças em altares montanhosos como oferenda aos
deuses, especialmente durante catástrofes naturais ou eventos políticos
importantes.
A função política da religião
A religião inca também servia como instrumento de controle e
integração social. O Sapa Inca era visto como filho do Sol, o que legitimava
seu poder absoluto. Ao mesmo tempo, os sacerdotes tinham funções
administrativas, registrando eventos, observando os astros e organizando o
calendário agrícola.
Além disso, os incas incorporavam os deuses locais dos povos
conquistados ao seu panteão, promovendo a assimilação cultural e reduzindo a
resistência. Essa política religiosa contribuiu significativamente para a
coesão do império.
Conclusão
A religião inca era um sistema complexo que transcendia o
culto aos deuses: ela organizava o tempo, orientava a agricultura, justificava
o poder político e promovia a unidade do império. Por meio de suas crenças e
rituais, os incas buscaram manter o equilíbrio entre os mundos, garantir a
prosperidade e perpetuar sua civilização. No próximo artigo, exploraremos as
expressões artísticas e arquitetônicas dos incas, analisando como sua
cosmovisão influenciava a arte, a engenharia e a construção de cidades monumentais
como Machu Picchu.
Referências bibliográficas
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Leslie (org.). História da América Latina: América Latina Colonial.
São Paulo: EdUSP, 1999.
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