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A Páscoa Cristã e o Judaísmo
A Páscoa cristã tem uma conexão direta com a Pessach judaica,
que celebra a libertação dos hebreus da escravidão no Egito. A crucificação e
ressurreição de Jesus ocorreram durante o período da Pessach, e os
primeiros cristãos mantiveram a celebração ligada a esse calendário.
Mas com o tempo, especialmente após o Concílio de Niceia
(325 d.C.), a Igreja estabeleceu uma data móvel para a Páscoa cristã, que
passou a ser celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia depois do
equinócio da primavera no hemisfério norte. Essa escolha de calendário colocou
a festa cristã ainda mais próxima de antigos rituais sazonais.
Ostara: a Deusa da Primavera
Um dos elementos mais mencionados quando se fala em raízes
pagãs da Páscoa é a deusa Ostara (ou Ēostre, em anglo-saxão), uma
divindade germânica associada à primavera, ao renascimento da natureza, à
fertilidade e à luz.
Segundo o monge e historiador inglês Beda, no século VIII, o
mês de abril era chamado Ēosturmonath (mês de Ēostre), e era dedicado a
essa deusa. Quando o cristianismo se espalhou pelas regiões anglo-saxônicas, os
rituais em homenagem a ela foram substituídos pela comemoração da ressurreição
de Cristo — mas o nome “Easter”, ainda usado em inglês, permaneceu.
O Coelho e os Ovos de Páscoa
Dois dos símbolos mais icônicos da Páscoa moderna, o coelho
e os ovos, não têm relação direta com os evangelhos cristãos, mas com antigas
tradições de fertilidade.
- O
coelho (ou lebre) era associado a Ostara como um símbolo de
fertilidade extrema, por sua alta taxa de reprodução. Uma lenda popular
conta que a deusa transformou um pássaro ferido em lebre para que ele
pudesse sobreviver ao inverno, mas o animal manteve a habilidade de botar
ovos.
- Os
ovos coloridos, por sua vez, são símbolos de renovação e nascimento
desde a Antiguidade. Egípcios, persas e romanos usavam ovos decorados em
festividades ligadas ao ciclo agrícola. Os cristãos do Oriente adotaram o
costume como uma forma simbólica de representar a ressurreição — a vida
saindo de dentro de uma "casca morta".
Com o tempo, essas tradições se fundiram: o "coelho da
Páscoa" que esconde ovos passou a fazer parte do folclore europeu,
especialmente na Alemanha, e foi levado às Américas pelos imigrantes
germânicos.
Conclusão
A Páscoa, como muitas outras festas religiosas, é resultado
de séculos de interações culturais e ressignificações. A presença de símbolos
pagãos como o coelho e os ovos, ou mesmo o nome “Easter”, não diminui seu
significado espiritual para os cristãos, mas mostra como tradições humanas se
entrelaçam ao longo do tempo. O que começou como um culto agrícola à renovação
da natureza foi, aos poucos, adaptado a uma nova narrativa de renascimento
espiritual.
Referências Bibliográficas:
- Bede,
The Venerable. De Temporum Ratione (A Reckoning of Time).
Tradução de Faith Wallis. Liverpool University Press, 1999.
→ Primeira menção à deusa Ēostre e à relação com o calendário anglo-saxão. - Hutton,
Ronald. The Stations of the Sun: A History of the Ritual Year in
Britain. Oxford University Press, 1996.
→ Análise detalhada dos festivais sazonais britânicos e suas origens pagãs, incluindo a Páscoa. - Geller,
Markham J. Easter and its Pagan Origins, em Journal for the
Study of Religion, vol. 20, no. 2, 2010.
→ Explora o sincretismo entre festividades cristãs e rituais antigos. - Monaghan,
Patricia. Encyclopedia of Goddesses and Heroines. New World
Library, 2010.
→ Entrada sobre Ostara e a simbologia da lebre e dos ovos. - Frazer,
James George. The Golden Bough. Oxford University Press, 1890
(diversas edições posteriores).
→ Clássico estudo sobre religiões comparadas e rituais de fertilidade. - Eggeling,
Julius (Trad.). The Satapatha Brahmana. Sacred Books of the
East, 1882.
→ Embora não ocidental, contém registros sobre simbolismos do ovo como elemento sagrado, usados em comparações rituais.
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