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sexta-feira, 18 de abril de 2025

A Páscoa e suas Raízes Pagãs: Entre o Sagrado e o Simbólico

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A Páscoa é, para os cristãos, uma das datas mais importantes do calendário religioso, marcando a ressurreição de Jesus Cristo. No entanto, muitos dos símbolos associados à celebração — como o coelho, os ovos coloridos e até festas ligadas à fertilidade e à primavera — têm origens muito mais antigas, muitas vezes ligadas a tradições pagãs que foram assimiladas ou reinterpretadas ao longo dos séculos.

A Páscoa Cristã e o Judaísmo

A Páscoa cristã tem uma conexão direta com a Pessach judaica, que celebra a libertação dos hebreus da escravidão no Egito. A crucificação e ressurreição de Jesus ocorreram durante o período da Pessach, e os primeiros cristãos mantiveram a celebração ligada a esse calendário.

Mas com o tempo, especialmente após o Concílio de Niceia (325 d.C.), a Igreja estabeleceu uma data móvel para a Páscoa cristã, que passou a ser celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia depois do equinócio da primavera no hemisfério norte. Essa escolha de calendário colocou a festa cristã ainda mais próxima de antigos rituais sazonais.

Ostara: a Deusa da Primavera

Um dos elementos mais mencionados quando se fala em raízes pagãs da Páscoa é a deusa Ostara (ou Ēostre, em anglo-saxão), uma divindade germânica associada à primavera, ao renascimento da natureza, à fertilidade e à luz.

Segundo o monge e historiador inglês Beda, no século VIII, o mês de abril era chamado Ēosturmonath (mês de Ēostre), e era dedicado a essa deusa. Quando o cristianismo se espalhou pelas regiões anglo-saxônicas, os rituais em homenagem a ela foram substituídos pela comemoração da ressurreição de Cristo — mas o nome “Easter”, ainda usado em inglês, permaneceu.

O Coelho e os Ovos de Páscoa

Dois dos símbolos mais icônicos da Páscoa moderna, o coelho e os ovos, não têm relação direta com os evangelhos cristãos, mas com antigas tradições de fertilidade.

  • O coelho (ou lebre) era associado a Ostara como um símbolo de fertilidade extrema, por sua alta taxa de reprodução. Uma lenda popular conta que a deusa transformou um pássaro ferido em lebre para que ele pudesse sobreviver ao inverno, mas o animal manteve a habilidade de botar ovos.
  • Os ovos coloridos, por sua vez, são símbolos de renovação e nascimento desde a Antiguidade. Egípcios, persas e romanos usavam ovos decorados em festividades ligadas ao ciclo agrícola. Os cristãos do Oriente adotaram o costume como uma forma simbólica de representar a ressurreição — a vida saindo de dentro de uma "casca morta".

Com o tempo, essas tradições se fundiram: o "coelho da Páscoa" que esconde ovos passou a fazer parte do folclore europeu, especialmente na Alemanha, e foi levado às Américas pelos imigrantes germânicos.

Conclusão

A Páscoa, como muitas outras festas religiosas, é resultado de séculos de interações culturais e ressignificações. A presença de símbolos pagãos como o coelho e os ovos, ou mesmo o nome “Easter”, não diminui seu significado espiritual para os cristãos, mas mostra como tradições humanas se entrelaçam ao longo do tempo. O que começou como um culto agrícola à renovação da natureza foi, aos poucos, adaptado a uma nova narrativa de renascimento espiritual.

Referências Bibliográficas:

  • Bede, The Venerable. De Temporum Ratione (A Reckoning of Time). Tradução de Faith Wallis. Liverpool University Press, 1999.
    → Primeira menção à deusa Ēostre e à relação com o calendário anglo-saxão.
  • Hutton, Ronald. The Stations of the Sun: A History of the Ritual Year in Britain. Oxford University Press, 1996.
    → Análise detalhada dos festivais sazonais britânicos e suas origens pagãs, incluindo a Páscoa.
  • Geller, Markham J. Easter and its Pagan Origins, em Journal for the Study of Religion, vol. 20, no. 2, 2010.
    → Explora o sincretismo entre festividades cristãs e rituais antigos.
  • Monaghan, Patricia. Encyclopedia of Goddesses and Heroines. New World Library, 2010.
    → Entrada sobre Ostara e a simbologia da lebre e dos ovos.
  • Frazer, James George. The Golden Bough. Oxford University Press, 1890 (diversas edições posteriores).
    → Clássico estudo sobre religiões comparadas e rituais de fertilidade.
  • Eggeling, Julius (Trad.). The Satapatha Brahmana. Sacred Books of the East, 1882.
    → Embora não ocidental, contém registros sobre simbolismos do ovo como elemento sagrado, usados em comparações rituais.

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