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terça-feira, 22 de abril de 2025

Dom Pedro de Almeida Portugal, Marquês de Alorna

Entre a Guerra, a Diplomacia e o Iluminismo Tardio Luso-Brasileiro

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Dom Pedro de Almeida Portugal, conhecido como o Marquês de Alorna, foi uma das figuras mais importantes da elite política e militar portuguesa no século XVIII. Atuou como vice-rei da Índia, militar de alto escalão e também diplomata, destacando-se por sua habilidade estratégica durante guerras e por seu envolvimento na administração do Império português. Este artigo busca analisar sua trajetória sob a ótica da história política e diplomática luso-brasileira, ressaltando sua influência nas estruturas de poder e sua posição ambivalente diante das reformas ilustradas promovidas por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal.

Introdução

O século XVIII em Portugal foi marcado por reformas centralizadoras, expansão imperial e mudanças provocadas pelo Iluminismo europeu. Nesse contexto, surge a figura de Dom Pedro de Almeida Portugal (1713–1761), 3.º Marquês de Alorna e 4.º Conde de Assumar, que desempenhou papéis de destaque no exército português, na diplomacia e na administração colonial. Sua atuação revela tanto a continuidade da nobreza tradicional quanto sua adaptação ao novo cenário político reformista.

Formação e Ascensão Militar

Nascido em Lisboa, Dom Pedro pertencia a uma das mais prestigiadas famílias da alta nobreza. Destacou-se como militar já na juventude, ascendendo ao posto de general por mérito próprio e por influência familiar. Sua principal atuação militar foi durante a Guerra da Sucessão Austríaca (1740–1748), onde comandou tropas portuguesas e demonstrou talento tático. A reputação adquirida nessas campanhas foi crucial para sua posterior nomeação como Vice-rei da Índia Portuguesa em 1744.

Vice-reinado na Índia e Estratégia Colonial

Durante sua administração como vice-rei da Índia (1744–1750), Dom Pedro de Almeida enfrentou desafios diplomáticos e militares intensos. Com recursos escassos e sob pressão do expansionismo britânico e francês no subcontinente indiano, buscou consolidar os domínios portugueses e firmar alianças locais. Sua gestão é vista por historiadores como prudente, conservadora e diplomática, numa tentativa de preservar a influência lusa num contexto de decadência.

Segundo Serrão (1981), o Marquês de Alorna soube manobrar politicamente diante de pressões internas e externas, adotando uma postura de equilíbrio que evitou grandes perdas territoriais.

Relação com o Marquês de Pombal e a Corte de Dom José I

A relação entre Dom Pedro e o poderoso primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) foi, no mínimo, ambígua. Ambos pertenciam a esferas distintas de poder: Pombal era o símbolo do Iluminismo reformador, enquanto Alorna representava a nobreza tradicionalista, ainda que letrada e sofisticada.

A tensão entre esses dois polos políticos se intensificou após a acusação de envolvimento da família Alorna na suposta conspiração dos Távoras (1758), evento que marcou a repressão pombalina contra a alta nobreza. O filho de Dom Pedro, Dom João de Almeida Portugal, foi preso e sua filha, Leonor de Almeida, futura marquesa de Alorna (poetisa), foi enclausurada num convento por anos. Apesar de Dom Pedro ter falecido em 1761, sua família continuou a sofrer perseguições políticas.

Legado e Influência

O Marquês de Alorna deixou um legado ambivalente: de um lado, representava a continuidade das tradições militares e aristocráticas portuguesas; de outro, foi um articulador político eficaz no cenário de transição entre o absolutismo e as reformas ilustradas. Sua atuação na Índia e na corte portuguesa antecipou debates que mais tarde influenciariam o período joanino no Brasil e o projeto imperial português no século XIX.

Considerações Finais

Dom Pedro de Almeida Portugal não foi apenas um nobre influente, mas também um agente estratégico num período de profundas transformações. Sua vida e atuação permitem compreender melhor as complexidades da política imperial portuguesa, as tensões entre tradição e reforma, e os embates entre o poder aristocrático e as novas forças ilustradas que moldaram o mundo luso-brasileiro.

Referências Bibliográficas

  • BOXER, Charles R. O Império Marítimo Português 1415–1825. Lisboa: Edições 70, 2002.
  • SERRÃO, Joel. Dicionário de História de Portugal. Porto: Livraria Figueirinhas, 1981.
  • OLIVEIRA, Manuel de. Vice-Reis e Governadores da Índia. Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1990.
  • MAXWELL, Kenneth. Pombal: Paradox of the Enlightenment. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
  • SOUSA, António Caetano de. História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1735–1749.
  • MATTOSO, José (Org.). História de Portugal. Vol. 5. Lisboa: Círculo de Leitores, 1993.
  • TENGARRINHA, José. História da Imprensa Periódica em Portugal. Lisboa: Vega, 1989.

 

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