Entre a Guerra, a Diplomacia e o Iluminismo Tardio Luso-Brasileiro
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Introdução
O século XVIII em Portugal foi marcado por reformas
centralizadoras, expansão imperial e mudanças provocadas pelo Iluminismo
europeu. Nesse contexto, surge a figura de Dom Pedro de Almeida Portugal
(1713–1761), 3.º Marquês de Alorna e 4.º Conde de Assumar, que desempenhou
papéis de destaque no exército português, na diplomacia e na administração
colonial. Sua atuação revela tanto a continuidade da nobreza tradicional quanto
sua adaptação ao novo cenário político reformista.
Formação e Ascensão Militar
Nascido em Lisboa, Dom Pedro pertencia a uma das mais
prestigiadas famílias da alta nobreza. Destacou-se como militar já na
juventude, ascendendo ao posto de general por mérito próprio e por influência
familiar. Sua principal atuação militar foi durante a Guerra da Sucessão
Austríaca (1740–1748), onde comandou tropas portuguesas e demonstrou
talento tático. A reputação adquirida nessas campanhas foi crucial para sua
posterior nomeação como Vice-rei da Índia Portuguesa em 1744.
Vice-reinado na Índia e Estratégia Colonial
Durante sua administração como vice-rei da Índia
(1744–1750), Dom Pedro de Almeida enfrentou desafios diplomáticos e militares
intensos. Com recursos escassos e sob pressão do expansionismo britânico e
francês no subcontinente indiano, buscou consolidar os domínios portugueses e
firmar alianças locais. Sua gestão é vista por historiadores como prudente,
conservadora e diplomática, numa tentativa de preservar a influência lusa
num contexto de decadência.
Segundo Serrão (1981), o Marquês de Alorna soube manobrar
politicamente diante de pressões internas e externas, adotando uma postura de
equilíbrio que evitou grandes perdas territoriais.
Relação com o Marquês de Pombal e a Corte de Dom José I
A relação entre Dom Pedro e o poderoso primeiro-ministro
Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) foi, no mínimo, ambígua.
Ambos pertenciam a esferas distintas de poder: Pombal era o símbolo do
Iluminismo reformador, enquanto Alorna representava a nobreza
tradicionalista, ainda que letrada e sofisticada.
A tensão entre esses dois polos políticos se intensificou
após a acusação de envolvimento da família Alorna na suposta conspiração dos
Távoras (1758), evento que marcou a repressão pombalina contra a alta
nobreza. O filho de Dom Pedro, Dom João de Almeida Portugal, foi preso e
sua filha, Leonor de Almeida, futura marquesa de Alorna (poetisa), foi
enclausurada num convento por anos. Apesar de Dom Pedro ter falecido em 1761,
sua família continuou a sofrer perseguições políticas.
Legado e Influência
O Marquês de Alorna deixou um legado ambivalente: de um
lado, representava a continuidade das tradições militares e aristocráticas
portuguesas; de outro, foi um articulador político eficaz no cenário de
transição entre o absolutismo e as reformas ilustradas. Sua atuação na Índia e
na corte portuguesa antecipou debates que mais tarde influenciariam o período
joanino no Brasil e o projeto imperial português no século XIX.
Considerações Finais
Dom Pedro de Almeida Portugal não foi apenas um nobre
influente, mas também um agente estratégico num período de profundas
transformações. Sua vida e atuação permitem compreender melhor as complexidades
da política imperial portuguesa, as tensões entre tradição e reforma, e os
embates entre o poder aristocrático e as novas forças ilustradas que moldaram o
mundo luso-brasileiro.
Referências Bibliográficas
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Charles R. O Império Marítimo Português 1415–1825. Lisboa: Edições
70, 2002.
- SERRÃO,
Joel. Dicionário de História de Portugal. Porto: Livraria
Figueirinhas, 1981.
- OLIVEIRA,
Manuel de. Vice-Reis e Governadores da Índia. Lisboa: Academia
Portuguesa da História, 1990.
- MAXWELL,
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University Press, 1995.
- SOUSA,
António Caetano de. História Genealógica da Casa Real Portuguesa.
Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1735–1749.
- MATTOSO,
José (Org.). História de Portugal. Vol. 5. Lisboa: Círculo de
Leitores, 1993.
- TENGARRINHA,
José. História da Imprensa Periódica em Portugal. Lisboa: Vega,
1989.
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