O Pensamento Político e as Ações de um Estadista Luso-Brasileiro no Século XVIII
Este artigo analisa a atuação política e intelectual de Dom Rodrigo de Sousa Coutinho, visconde de Balsemão, uma das figuras mais relevantes do reformismo ilustrado português no final do século XVIII. Como estadista e diplomata, Dom Rodrigo teve papel fundamental na tentativa de modernização do Império Português, principalmente durante seu período como secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos. Sua trajetória está intrinsecamente ligada às transformações ocorridas em Portugal e no Brasil no contexto do Antigo Regime, iluminismo e expansão imperial.Introdução
Dom Rodrigo de Sousa Coutinho (1755–1812), visconde de
Balsemão, foi uma das mais influentes personalidades do período do reformismo
ilustrado em Portugal. Diplomata, administrador e intelectual, ocupou cargos de
grande relevância no Estado português, especialmente durante a regência de D.
João VI. Sua atuação foi marcada por uma visão progressista inspirada nos
ideais iluministas europeus, que buscavam conciliar o fortalecimento do Estado
com reformas econômicas e administrativas nos domínios ultramarinos, em
especial no Brasil.
Formação Intelectual e Início da Carreira
Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, Dom Rodrigo
foi profundamente influenciado pela renovação pedagógica promovida pelo Marquês
de Pombal. Sua passagem pela diplomacia europeia, notadamente na Embaixada de
Portugal em Turim, permitiu-lhe contato com ideias ilustradas e experiências de
modernização de outros estados europeus (Costa, 2006).
Essas experiências moldaram seu pensamento reformista,
voltado à centralização do poder régio, reorganização administrativa e
dinamização da economia colonial. Desde cedo, defendeu uma visão estratégica do
Império Português baseada na valorização do Brasil como centro dinâmico do
poder atlântico lusitano (Hespanha, 1993).
Reformismo e Administração Colonial
Como Secretário de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinos
(1796–1801), Dom Rodrigo tentou implementar um conjunto de reformas
administrativas e econômicas nas colônias, especialmente no Brasil. Propôs a
ampliação da liberdade econômica, a racionalização da administração colonial e
a promoção de manufaturas locais, visando a diminuição da dependência externa
(Fragoso, 2013).
Defendeu também a transferência da Corte portuguesa para o
Brasil, ideia que viria a se concretizar anos depois, em 1808. Considerava o
território brasileiro essencial para a sobrevivência do Império face às ameaças
da Europa napoleônica (Silva, 2008).
Pensamento Político e Legado
O pensamento de Dom Rodrigo era influenciado por autores
como Montesquieu, Adam Smith e os fisiocratas franceses, mas sempre adaptado ao
contexto lusitano. Ele acreditava na necessidade de um Estado forte, reformista
e paternalista, capaz de guiar a sociedade para o progresso econômico e moral,
sem romper com a estrutura monárquica tradicional (Maxwell, 1995).
Seu legado pode ser percebido nas bases da administração
pública luso-brasileira do início do século XIX e na centralidade que o Brasil
passou a ocupar nas estratégias imperiais portuguesas.
Considerações Finais
Dom Rodrigo de Sousa Coutinho representa a síntese entre
tradição e modernidade no contexto do final do Antigo Regime português. Sua
atuação foi crucial para a formulação de políticas que influenciaram o processo
de transição do Brasil de colônia a centro do Império. Sua obra e pensamento
continuam sendo objeto de estudo para a compreensão das origens da modernidade
política e administrativa no mundo lusófono.
Referências Bibliográficas
- Costa,
F. A. (2006). O Despotismo Ilustrado em Portugal e na América.
Lisboa: Edições Colibri.
- Fragoso,
J. (2013). Homens de grossa aventura: acumulação e hierarquia na praça
mercantil do Rio de Janeiro. São Paulo: Hucitec.
- Hespanha,
A. M. (1993). As vésperas do Leviathan: instituições e poder político.
Portugal - século XVII. Coimbra: Almedina.
- Maxwell,
K. (1995). Pombal: Paradox of the Enlightenment. Cambridge:
Cambridge University Press.
- Silva,
A. M. R. (2008). “Dom Rodrigo de Sousa Coutinho e a reconfiguração do
Império Português”. Revista Brasileira de História, 28(55), 63-89.
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