Iara – A Mãe-d’Água Encantadora
Talvez a figura feminina mais conhecida do folclore
brasileiro, a Iara é uma sereia de pele morena e cabelos longos que vive
nos rios da Amazônia. Seu canto hipnótico atrai pescadores e viajantes para o
fundo das águas. Ao mesmo tempo sedutora e perigosa, a Iara representa tanto o
fascínio quanto o medo diante da natureza e da feminilidade. Sua lenda mistura
elementos indígenas com visões moralistas trazidas pelos colonizadores.
Cuca – A Bruxa das Canções Infantis
A Cuca, eternizada pelo “Sítio do Picapau Amarelo” de
Monteiro Lobato, é descrita como uma velha bruxa com aparência de jacaré.
Embora cause medo nas crianças, sua figura tem raízes em antigas histórias
ibéricas e africanas, funcionando como uma advertência aos pequenos
desobedientes. Com o tempo, a Cuca se tornou símbolo da vigilância e do
castigo, mas também de uma sabedoria ancestral esquecida.
Maria Caninana – A Mulher Serpente
Proveniente do Norte do Brasil, Maria Caninana é uma
personagem dividida entre o mundo humano e o animal. Segundo a lenda, era uma
mulher que se transformava em cobra para proteger os rios. Essa narrativa pode
ser interpretada como metáfora para o dualismo feminino: instinto e razão,
proteção e perigo. Sua história também ecoa os mitos indígenas sobre os
encantados — seres que vivem entre o visível e o invisível.
Dandara – A Heroína Histórica e Mítica
Embora não seja uma personagem mitológica no sentido
tradicional, Dandara dos Palmares é frequentemente tratada como figura
lendária do folclore afro-brasileiro. Guerreira e companheira de Zumbi, Dandara
representa a resistência negra, a luta pela liberdade e o protagonismo feminino
nas narrativas históricas brasileiras. Sua memória é resgatada como símbolo de
empoderamento e justiça.
O Simbolismo do Feminino no Folclore
As mulheres do folclore brasileiro são, muitas vezes,
retratadas como guardiãs da natureza, seres encantadores ou bruxas punitivas.
Esse imaginário revela tanto a veneração quanto o controle que as sociedades
tradicionais exerceram sobre o feminino. Entretanto, ao revisitarmos essas
histórias sob uma nova ótica, podemos enxergá-las como símbolos de força,
ancestralidade e resistência.
A Importância de Valorizar Essas Narrativas
Em tempos de apagamento cultural e globalização, resgatar os
personagens femininos do folclore é uma forma de dar voz a outras narrativas.
Mulheres que foram mitificadas, temidas ou esquecidas passam a ocupar um espaço
de reconhecimento e reflexão dentro do imaginário nacional.
Referências Bibliográficas
- CASCUDO,
Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 20. ed. São
Paulo: Global Editora, 2012.
- MOURA,
Carlos Eugênio Marcondes de. O Negro Denunciado: o discurso da
negritude nos mitos e lendas afro-brasileiras. São Paulo: Ática, 2001.
- LOPES,
Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. São Paulo: Selo
Negro, 2004.
- MENEZES
BASTOS, Rafael José de. Narrativas Míticas e Rituais Indígenas.
Florianópolis: Editora da UFSC, 2002.
- ALMEIDA,
Maria Geralda de. As Mulheres e o Imaginário Popular: lendas, mitos e
representações. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
- MONTEIRO
LOBATO. O Saci. São Paulo: Brasiliense, 1921.
- SILVA,
Vanda Machado da. O Jogo da Cultura: o folclore na educação infantil.
Salvador: EDUFBA, 2003.
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