Radio Evangélica

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Mulheres Míticas do Folclore Brasileiro: Força, Mistério e Simbolismo

Dando sequência à nossa série sobre o folclore brasileiro, exploraremos agora as figuras femininas que habitam o imaginário popular. Essas personagens, envoltas em mistério, beleza e poder, refletem não apenas o enraizamento cultural de diversos povos, mas também os papéis simbólicos atribuídos às mulheres ao longo da história. Muitas dessas lendas possuem origens indígenas ou africanas, ressignificadas pela tradição oral e pela religiosidade popular.

Iara – A Mãe-d’Água Encantadora

Talvez a figura feminina mais conhecida do folclore brasileiro, a Iara é uma sereia de pele morena e cabelos longos que vive nos rios da Amazônia. Seu canto hipnótico atrai pescadores e viajantes para o fundo das águas. Ao mesmo tempo sedutora e perigosa, a Iara representa tanto o fascínio quanto o medo diante da natureza e da feminilidade. Sua lenda mistura elementos indígenas com visões moralistas trazidas pelos colonizadores.

Cuca – A Bruxa das Canções Infantis

A Cuca, eternizada pelo “Sítio do Picapau Amarelo” de Monteiro Lobato, é descrita como uma velha bruxa com aparência de jacaré. Embora cause medo nas crianças, sua figura tem raízes em antigas histórias ibéricas e africanas, funcionando como uma advertência aos pequenos desobedientes. Com o tempo, a Cuca se tornou símbolo da vigilância e do castigo, mas também de uma sabedoria ancestral esquecida.

Maria Caninana – A Mulher Serpente

Proveniente do Norte do Brasil, Maria Caninana é uma personagem dividida entre o mundo humano e o animal. Segundo a lenda, era uma mulher que se transformava em cobra para proteger os rios. Essa narrativa pode ser interpretada como metáfora para o dualismo feminino: instinto e razão, proteção e perigo. Sua história também ecoa os mitos indígenas sobre os encantados — seres que vivem entre o visível e o invisível.

Dandara – A Heroína Histórica e Mítica

Embora não seja uma personagem mitológica no sentido tradicional, Dandara dos Palmares é frequentemente tratada como figura lendária do folclore afro-brasileiro. Guerreira e companheira de Zumbi, Dandara representa a resistência negra, a luta pela liberdade e o protagonismo feminino nas narrativas históricas brasileiras. Sua memória é resgatada como símbolo de empoderamento e justiça.

O Simbolismo do Feminino no Folclore

As mulheres do folclore brasileiro são, muitas vezes, retratadas como guardiãs da natureza, seres encantadores ou bruxas punitivas. Esse imaginário revela tanto a veneração quanto o controle que as sociedades tradicionais exerceram sobre o feminino. Entretanto, ao revisitarmos essas histórias sob uma nova ótica, podemos enxergá-las como símbolos de força, ancestralidade e resistência.

A Importância de Valorizar Essas Narrativas

Em tempos de apagamento cultural e globalização, resgatar os personagens femininos do folclore é uma forma de dar voz a outras narrativas. Mulheres que foram mitificadas, temidas ou esquecidas passam a ocupar um espaço de reconhecimento e reflexão dentro do imaginário nacional.

Referências Bibliográficas

  • CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 20. ed. São Paulo: Global Editora, 2012.
  • MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. O Negro Denunciado: o discurso da negritude nos mitos e lendas afro-brasileiras. São Paulo: Ática, 2001.
  • LOPES, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. São Paulo: Selo Negro, 2004.
  • MENEZES BASTOS, Rafael José de. Narrativas Míticas e Rituais Indígenas. Florianópolis: Editora da UFSC, 2002.
  • ALMEIDA, Maria Geralda de. As Mulheres e o Imaginário Popular: lendas, mitos e representações. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
  • MONTEIRO LOBATO. O Saci. São Paulo: Brasiliense, 1921.
  • SILVA, Vanda Machado da. O Jogo da Cultura: o folclore na educação infantil. Salvador: EDUFBA, 2003.

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