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As instituições republicanas
No lugar do rei, a República instituiu dois cônsules,
eleitos anualmente, com poderes executivos e militares. Para equilibrar o poder
e evitar abusos, os cônsules deviam agir em consenso. Ao lado deles, o Senado —
inicialmente composto apenas por patrícios — manteve-se como órgão consultivo,
mas com grande influência sobre a política externa e as finanças. As
assembleias populares (com destaque para a Assembleia Centuriata e a Assembleia
Tribal) representavam os cidadãos e tinham poder de eleger magistrados e
aprovar leis, ainda que o peso do voto fosse desigual, favorecendo os mais
ricos (LÍVIO, 2014).
A luta dos plebeus
A desigualdade entre patrícios e plebeus levou a uma série
de conflitos sociais, conhecidos como "Conflitos da Ordem" (ou Conflictus
Ordinum). Os plebeus, essenciais nas campanhas militares, começaram a
exigir direitos políticos e proteção contra abusos, como a escravidão por
dívidas. Um marco dessa luta foi a secessão da plebe em 494 a.C., quando os
plebeus se retiraram para o Monte Sagrado e se recusaram a servir no exército,
forçando os patrícios a negociar (OGILVIE, 1976).
Como resultado, foi criada a magistratura dos tribunos da
plebe, com poder de veto sobre decisões dos magistrados e do Senado. Aos
poucos, os plebeus conquistaram mais direitos, como o acesso aos cargos
públicos (Lei Canuleia de 445 a.C.) e à igualdade jurídica com os patrícios,
culminando com a Lei das Doze Tábuas, em 451–450 a.C., o primeiro código legal
romano escrito e publicado (CARANDINI, 2003).
A expansão territorial e a organização militar
Ao mesmo tempo em que enfrentava disputas internas, Roma
expandia seu controle sobre o Lácio e as regiões vizinhas. A República
desenvolveu uma máquina militar eficiente e disciplinada, baseada no serviço
obrigatório dos cidadãos. Essa estrutura militar, aliada à construção de
estradas e ao estabelecimento de colônias, permitiu a consolidação do poder
romano na península Itálica até o século III a.C. (CORNELL, 1995).
A experiência da guerra e da conquista também fortaleceu a
unidade interna, ao mesmo tempo em que criava novas contradições sociais, como
o aumento da desigualdade e o acúmulo de terras pelos patrícios, em detrimento
dos pequenos proprietários plebeus.
Considerações finais
O período republicano inicial revela um momento de intensa
transformação social e política em Roma. A substituição da monarquia por um
sistema republicano não eliminou os privilégios da elite patrícia, mas abriu
espaço para a mobilização popular e a conquista gradual de direitos pelos
plebeus. Esse processo não foi linear nem pacífico, mas resultou em uma
estrutura política flexível e resiliente, capaz de integrar diferentes
interesses e sustentar a expansão de Roma como potência regional.
A consolidação das instituições republicanas, aliada à
habilidade diplomática e militar dos romanos, lançou as bases para o futuro
império. Ao analisar esse período, compreendemos como a República romana foi
não apenas uma forma de governo, mas uma experiência histórica singular de
negociação entre tradição, conflito e inovação.
Referências Bibliográficas
CARANDINI, Andrea. Roma: Il primo giorno. Torino:
Giulio Einaudi, 2003.
CORNELL, T. J. The Beginnings of Rome: Italy and Rome from the Bronze Age to
the Punic Wars (c. 1000–264 BC). London: Routledge, 1995.
LÍVIO, Tito. História de Roma desde a sua fundação. São Paulo: Edipro,
2014.
OGILVIE, R. M. Early Rome and the Etruscans. London: Fontana Press,
1976.
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