Preço dos alimentos e incertezas globais influenciaram decisão
A alta do preço dos alimentos e da energia e as
incertezas em torno da economia global fizeram o Banco Central (BC) aumentar
mais uma vez os juros. Por unanimidade, o Comitê de Política
Monetária (Copom) aumentou a taxa
Selic, juros básicos da economia, em 1 ponto percentual, para 14,25% ao
ano. PixaBay
Em comunicado, o Copom afirmou que as incertezas
externas, principalmente pela política comercial do país, suscitam dúvidas
sobre a postura do Federal Reserve (Fed, Banco Central
norte-americano). Em relação ao Brasil, o texto informa que a economia
brasileira está aquecida, apesar de sinais de moderação no crescimento.
Segundo o Copom, a inflação cheia e os núcleos (medida que
exclui preços mais voláteis, como alimentos e energia) continuam em alta. O
órgão alertou que existe o risco de que a inflação de serviços continue
alta e informou que continuará a monitorar a política econômica do
governo.
“O comitê segue acompanhando com atenção como os
desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos
financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a
sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de
ativos e as expectativas dos agentes.”, destacou o comunicado.
Em relação às próximas reuniões, o Copom informou
que elevará a Selic “em menor magnitude” na reunião de maio e não
deixou pistas para o que acontecerá depois disso.
“Para além da próxima reunião [a partir de junho], o Comitê
reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo
firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da
dinâmica da inflação”, ressaltou.
Além de esperada pelo mercado financeiro, a elevação em 1
ponto havia sido anunciada pelo Banco Central na reunião de janeiro.
Essa foi a quinta alta seguida da Selic. A taxa
está no maior nível desde outubro de 2016, quando também estava em 14,25% ao
ano. A alta consolida um ciclo de contração na política monetária.
Após chegar a 10,5% ao ano de junho a agosto do ano passado,
a taxa começou a ser elevada em setembro do ano passado, com uma alta de 0,25
ponto, uma de 0,5 ponto e duas de 1 ponto percentual.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para
manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial, ficou em 1,48%. Segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), o fim do bônus de Itaipu sobre a conta de luz e
o preço de alguns alimentos contribuíram para o índice.
Com o resultado, o indicador acumula alta de 4,87%
em 12 meses, acima
do teto da meta do ano passado. Pelo novo sistema de meta contínua em
vigor a partir deste mês, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC,
definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3%, com intervalo de tolerância
de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é
1,5% e o superior é 4,5%.
No modelo de meta contínua, a meta passa ser apurada mês a
mês, considerando a inflação acumulada em 12 meses. Em março de 2025, a
inflação desde abril de 2024 é comparada com a meta e o intervalo de
tolerância. Em abril, o procedimento se repete, com apuração a partir de maio
de 2024. Dessa forma, a verificação se desloca ao longo do tempo, não ficando
mais restrita ao índice fechado de dezembro de cada ano.
No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de
dezembro pelo Banco Central, a autoridade monetária manteve a previsão
de que o IPCA termine 2025 em 4,5%, mas a estimativa pode ser revista,
dependendo do comportamento do dólar e da inflação. O próximo relatório será
divulgado no fim de março.
As previsões do mercado estão mais pessimistas. De acordo
com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras
divulgada pelo BC, a inflação
oficial deverá fechar o ano em 5,66%, mais de 1 ponto acima do teto da
meta. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 5,6%.
O comunicado do Copom trouxe as expectativas atualizadas do
Banco Central sobre a inflação. A autoridade monetária prevê que o IPCA
chegará a 5,1% em 2025 (acima do teto da meta) e 3,9% no acumulado em
12 meses no fim do terceiro trimestre em 2026. Isso porque o Banco Central
trabalha com o que chama de “horizonte ampliado”, considerando o cenário para a
inflação em até 18 meses.
O Banco Central aumentou as estimativas de inflação. Na
reunião anterior, de janeiro, o Copom previa IPCA de 5,2% em 2025 e de 4% em 12
meses no fim do terceiro trimestre de 2026.
Crédito mais caro
O aumento da taxa Selic ajuda a conter a inflação. Isso
porque juros mais altos encarecem o crédito e desestimulam a produção e o
consumo. Por outro lado, taxas maiores dificultam o crescimento econômico.
No último Relatório de Inflação, o Banco
Central elevou para 2,1% a projeção de crescimento para
a economia em 2025.
O mercado projeta crescimento um pouco menor. Segundo
a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos
preveem expansão de 1,99% do PIB em 2025.
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos
públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de
referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima,
o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque
juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e
incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para
cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços
estão sob controle e não correm risco de subir.
Fonte: Agência Brasil
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