Radio Evangélica

sábado, 29 de março de 2025

Desenvolvimento político e social primitivo de Roma

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Além do mito, as investigações arqueológicas revelam um quadro mais complexo da evolução política e social de Roma em seus primórdios. Durante os séculos VIII e VII a.C., Roma era um conjunto de pequenas aldeias organizadas em torno das colinas do Tibre, especialmente o Monte Palatino. Essas comunidades, compostas por povos latinos, sabinos e etruscos, eventualmente se uniram em uma federação que estabeleceu as bases da futura cidade-estado romana.

A formação do sistema político romano teve início com uma monarquia, na qual reis detinham poderes militares, religiosos e judiciais. Segundo a tradição, Rômulo foi o primeiro de sete reis, incluindo figuras semilendárias como Numa Pompílio e Tarquínio, o Soberbo, cujo reinado terminou com a fundação da República em 509 a.C. (OGILVIE, 1976). A estrutura política durante a monarquia consistia em três pilares principais: o rei, o Senado (formado por anciãos das famílias patrícias) e a Assembleia Curiata, que reunia os cidadãos para ratificar as decisões reais.

A Influência etrusca

A presença e a influência etrusca foram decisivas para a formação de Roma. Os etruscos, um povo sofisticado e culturalmente avançado do norte da Itália, influenciaram profundamente a arquitetura, a religião e as práticas políticas romanas. Artefatos arqueológicos, como túmulos e templos etruscos, evidenciam essa interação (HEURGON, 1973). Entre as inovações etruscas adotadas por Roma estão o uso do arco na arquitetura, a prática dos augúrios (interpretação de sinais divinos) e elementos do cerimonial público, como o triunfo, uma celebração em homenagem a generais vitoriosos.

Além disso, os últimos reis de Roma, incluindo Tarquínio Prisco e Tarquínio, o Soberbo, eram de origem etrusca. Durante seu governo, Roma experimentou um crescimento urbano significativo, com a construção de obras públicas como o sistema de drenagem Cloaca Máxima e o Fórum Romano, que se tornou o coração político e comercial da cidade.

A transição para a república

A queda da monarquia e a transição para a República ocorreram em um contexto de tensões sociais e disputas pelo poder. De acordo com a tradição, a tirania de Tarquínio, o Soberbo, e o abuso de poder da realeza motivaram a revolta liderada por Lúcio Júnio Bruto, que resultou na expulsão dos reis e no estabelecimento de um sistema republicano em 509 a.C.

O novo regime republicano estruturou-se em torno de magistraturas anuais, como os cônsules, que substituíram o poder régio, e de instituições representativas, como o Senado e as assembleias populares. Esse modelo de governo, marcado pela divisão de poderes e pela participação cidadã, consolidou a expansão de Roma e sua hegemonia na península Itálica ao longo dos séculos seguintes.

Considerações finais

A fundação de Roma é um exemplo paradigmático da fusão entre mito e realidade histórica. A lenda de Rômulo e Remo, ao mesmo tempo em que legitimava o poder e a identidade romana, ocultava um processo mais longo e complexo de formação urbana e política. As descobertas arqueológicas confirmam a existência de uma ocupação anterior à data tradicional de 753 a.C., destacando a influência de diferentes povos na construção da cidade.

Esse entrelaçamento de tradição e evidência histórica não apenas enriquece nossa compreensão sobre as origens de Roma, mas também ressalta a importância do mito como ferramenta de coesão social e de afirmação de poder na Antiguidade.

Referências Bibliográficas

CARANDINI, Andrea. Roma: Il primo giorno. Torino: Giulio Einaudi, 2003.

CORNELL, T. J. The Beginnings of Rome: Italy and Rome from the Bronze Age to the Punic Wars (c. 1000–264 BC). London: Routledge, 1995.

HEURGON, Jacques. La Vie quotidienne chez les Étrusques. Paris: Hachette, 1973.

LÍVIO, Tito. História de Roma desde a sua fundação. São Paulo: Edipro, 2014.

OGILVIE, R. M. Early Rome and the Etruscans. London: Fontana Press, 1976.

 

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