Introdução
Carlota Joaquina de Bourbon é lembrada na história como uma
figura polêmica, muitas vezes retratada com adjetivos depreciativos como
"ambiciosa" e "conspiradora". Entretanto, novas abordagens
historiográficas apontam para a necessidade de uma reavaliação crítica de sua
trajetória, destacando sua participação ativa na política da época. Neste
artigo, analisamos sua influência política, suas pretensões dinásticas e o
impacto de sua presença na corte portuguesa no Brasil.
Contexto Histórico e Biográfico
Carlota Joaquina nasceu em 25 de abril de 1775, na Espanha.
Aos dez anos foi prometida em casamento a Dom João, então príncipe herdeiro de
Portugal, como parte de uma aliança política entre os reinos ibéricos. Casou-se
oficialmente em 1785, numa união que, desde o início, demonstrou ser
turbulenta, tanto no aspecto pessoal quanto político.
Durante a transferência da corte portuguesa para o Brasil,
em 1808, devido à invasão napoleônica na Península Ibérica, Carlota Joaquina
desempenhou um papel relevante, principalmente ao tentar reivindicar para si o
governo das possessões espanholas na América do Sul, alegando a ilegitimidade
do domínio francês na Espanha.
O Carlotismo: Ambições e Limites
O movimento conhecido como "Carlotismo" refere-se
aos esforços de Carlota Joaquina em assumir o controle sobre territórios
espanhóis na América, utilizando como justificativa sua condição de filha do
rei deposto e esposa do regente de Portugal. Ela tentou legitimar sua pretensão
ao trono do Rio da Prata (atual Argentina, Uruguai e Paraguai), mas encontrou
resistência tanto dos espanhóis quanto dos próprios portugueses e brasileiros,
que temiam envolver-se em conflitos externos.
Embora não tenha obtido sucesso efetivo, o Carlostismo
revelou a disposição política de Carlota Joaquina de atuar além do papel
cerimonial esperado das mulheres da monarquia, inserindo-se nos debates
geopolíticos do início do século XIX.
Carlota Joaquina e o Absolutismo
Carlota Joaquina também é lembrada por sua firme oposição ao
movimento liberal em Portugal. Após a Revolução Liberal do Porto (1820), que
estabeleceu a Constituição de 1822, Carlota posicionou-se ao lado dos setores
mais conservadores, defendendo a restauração do absolutismo. Sua influência foi
crucial durante as tensões políticas que envolveram a volta da corte a Portugal
em 1821 e as disputas internas na família real.
Morte e Legado
Carlota Joaquina morreu em 7 de janeiro de 1830, em Queluz,
Portugal. Após sua morte, sua imagem foi consolidada como a de uma figura
antagônica às transformações políticas que marcaram a transição do Antigo
Regime para o constitucionalismo. Contudo, estudos recentes propõem uma leitura
mais complexa de sua trajetória, reconhecendo-a como uma mulher que soube
articular poder dentro das limitações de seu tempo.
Considerações Finais
Carlota Joaquina de Bourbon ultrapassou os limites
tradicionais do papel feminino na monarquia, agindo como agente político em
momentos decisivos da história luso-brasileira. Ao reavaliar sua atuação sem os
preconceitos consolidados pela historiografia tradicional, podemos compreender
melhor as dinâmicas de poder na corte portuguesa e as relações entre Portugal,
Espanha e Brasil no início do século XIX.
Referências
- ARRUDA,
José Jobson de Andrade. O Brasil no Contexto da América Latina: Século
XIX. São Paulo: Ática, 1993.
- BARMAN,
Roderick J. Brazil: The Forging of a Nation, 1798–1852. Stanford:
Stanford University Press, 1988.
- COSTA,
Fernando Dores. Carlota Joaquina e o Carlostismo: Ambições e Limites.
Revista Brasileira de História, v. 24, n. 47, p. 11-38, 2004.
- LYRA,
Maria de Lourdes Viana. A utopia do poderoso império: Portugal e
Brasil: 1798-1822. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1994.
- SARAIVA,
José Hermano. História Concisa de Portugal. Lisboa: Publicações
Europa-América, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário