Radio Evangélica

sábado, 8 de março de 2025

A verdade oculta sobre o 8 de março

O incêndio que nunca aconteceu e a criação da data por Stalin

Reprodução
O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, é, sem dúvida, uma das datas mais conhecidas e respeitadas no mundo. Porém, você já parou para questionar a origem dessa comemoração? E se eu te dissesse que a famosa história do incêndio de uma fábrica em Nova York, no qual centenas de operárias teriam morrido, simplesmente nunca aconteceu?

Neste artigo, vamos revelar as verdadeiras origens do 8 de março, mostrando como essa data foi construída politicamente e como a figura de Josef Stalin e a União Soviética desempenharam um papel crucial nessa narrativa.

O mito do incêndio de 8 de março

Durante décadas, foi amplamente divulgado que, em 8 de março de 1857, operárias têxteis de Nova York realizaram uma greve por melhores condições de trabalho e salários justos. Como resposta, donos da fábrica teriam trancado as portas e iniciado um incêndio criminoso, matando dezenas de mulheres carbonizadas.

Por mais trágica e impactante que essa história seja, não há registros históricos que comprovem que esse evento tenha acontecido naquela data. Pesquisadores e historiadores que se debruçaram sobre jornais da época, documentos oficiais e arquivos históricos não encontraram evidências que sustentem essa versão.

O que realmente existiu foi o trágico incêndio da fábrica Triangle Shirtwaist, ocorrido em 25 de março de 1911, também em Nova York, que matou 146 trabalhadores, a maioria mulheres imigrantes. Contudo, esse episódio, apesar de real e marcante para a luta trabalhista, não foi a origem do Dia Internacional da Mulher, nem ocorreu em março de 1857, como tantas vezes se repete.

A verdadeira origem do Dia Internacional da Mulher

Para entender a escolha do 8 de março, precisamos viajar até a Rússia e observar o contexto político do início do século XX.

Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário juliano, usado na época na Rússia), milhares de operárias saíram às ruas de Petrogrado exigindo "pão e paz", protestando contra as condições miseráveis de vida e o envolvimento do país na Primeira Guerra Mundial. Essa manifestação foi um estopim que desencadeou a Revolução Russa, resultando na queda do czarismo.

Esse fato concreto motivou, anos depois, o movimento comunista a estabelecer o 8 de março como um dia simbólico da luta das mulheres trabalhadoras, principalmente nas nações socialistas.

Stalin e a propaganda soviética

Foi em 1921, durante a Segunda Conferência Internacional de Mulheres Comunistas, em Moscou, que o 8 de março foi oficializado como a data para celebrar a luta das mulheres, reforçando sua importância na revolução e no movimento socialista.

Com o tempo, a máquina de propaganda soviética, sob o comando de Josef Stalin, ajudou a consolidar e exportar essa celebração para outros países. Como estratégia política, buscou-se uma narrativa universal, que pudesse sensibilizar não só os países comunistas, mas também o Ocidente. É justamente nesse cenário que a lenda do incêndio de 1857 começou a circular como uma justificativa emocional e trágica para reforçar a simbologia do 8 de março.

Mesmo sem fundamentos históricos, essa história pegou. Foi repetida em discursos, jornais, livros e até nos sistemas educacionais, transformando-se em um mito que muitos acreditam até hoje.

O 8 de março e sua consolidação global

Apesar do mito do incêndio, a data foi sendo adotada gradualmente ao redor do mundo. A ONU, em 1977, reconheceu oficialmente o Dia Internacional da Mulher, consolidando a celebração como um momento para refletir sobre as conquistas femininas e os desafios que ainda permanecem.

A partir daí, a data ganhou força não apenas entre movimentos comunistas, mas em todo o mundo, tornando-se símbolo das lutas femininas por igualdade, respeito e direitos trabalhistas e políticos.

Por que é importante conhecer essa história?

Saber que o famoso incêndio de 1857 não aconteceu não diminui a importância do Dia Internacional da Mulher. Pelo contrário: entender a verdadeira história permite reconhecer as reais lutas que deram origem à data e refletir sobre como narrativas podem ser criadas e perpetuadas para atender interesses políticos.

Além disso, valorizar eventos concretos, como as greves femininas, a participação das mulheres nas revoluções e as mobilizações trabalhistas, fortalece ainda mais a data como um símbolo autêntico da luta por direitos.

Conclusão

O 8 de março não nasceu de uma tragédia isolada, mas sim de décadas de mobilização feminina e da articulação política em torno da valorização das mulheres como agentes transformadoras da sociedade.

Embora o mito do incêndio tenha servido como ferramenta de sensibilização, a verdadeira força do Dia Internacional da Mulher está nas histórias reais de resistência, trabalho e coragem de mulheres em todo o mundo.

Referências

  • RAGO, Margareth. Do Cabaré ao Lar: A Utopia da Cidade Disciplinar. São Paulo: Paz e Terra, 1985.
  • SCOTT, Joan Wallach. Gênero e a Política da História. São Paulo: Ed. UNESP, 1995.
  • REIS, Daniel Aarão. A Revolução Russa: Os Fatos e as Interpretações. São Paulo: Brasiliense, 1992.
  • PINSKY, Carla Bassanezi. História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2012.
  • ONU Mulheres. “História do Dia Internacional da Mulher”. Disponível em: https://www.onumulheres.org.br
  • COUTINHO, Afrânio. Enciclopédia de Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1990.
  • VIEIRA, Evaldo. A Construção do Mito do 8 de Março e a Influência Soviética. Revista de História Social, 2015.
  • SEVCENKO, Nicolau. A Revolta dos Modernistas e a Nova Mulher. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

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