Contexto Histórico: República e Construção da Identidade
Estadual
No início do século XX, o Brasil vivia os primeiros anos do
regime republicano instaurado em 1889. Durante esse período, conhecido como
Primeira República (ou República Velha), os estados começaram a adotar seus
próprios símbolos — como bandeiras, hinos e brasões — em consonância com o novo
ideal federativo. A Paraíba, sob o governo de Walfredo Leal (1906–1908), aderiu
a essa tendência nacional com a promulgação da bandeira estadual, visando
afirmar sua identidade dentro da jovem federação brasileira.
O projeto republicano da época exaltava a liberdade, a
autonomia estadual e a ordem institucional. As bandeiras estaduais se tornaram,
portanto, ferramentas políticas de afirmação desses ideais. A da Paraíba
refletia esse espírito ao incorporar elementos que dialogavam tanto com a
história local quanto com os valores republicanos universais.
Descrição e Simbolismo da Primeira Bandeira da Paraíba
A bandeira instituída em 1907 possuía um desenho altamente
simbólico e detalhado. Ela consistia em:
- Nove
faixas horizontais alternadas: cinco verdes e quatro brancas.
▸ As cores verde e branca remetem à natureza e à paz, e, em certo sentido, faziam referência à bandeira nacional, reforçando a integração federativa. - Círculo
amarelo central:
▸ O amarelo simbolizava a riqueza, a luz do sol e o progresso, alinhando-se ao discurso positivista predominante no período. - Brasão
ao centro do círculo:
▸ O brasão continha a inscrição "5 de agosto de 1585", que marcava a fundação oficial da cidade de Nossa Senhora das Neves, posteriormente chamada João Pessoa, e considerada a data de nascimento institucional da Paraíba colonial. - Bordadura
azul com 16 estrelas brancas:
▸ Representavam as comarcas administrativas existentes no estado naquele período, evocando a organização política e a divisão territorial. - Estrela
vermelha com barrete frígio acima do brasão:
▸ O barrete frígio é um símbolo clássico de liberdade, originário da Revolução Francesa, e foi adotado em diversos contextos republicanos como metáfora da emancipação dos povos frente a regimes autoritários.
O conjunto da composição refletia, portanto, não só a
história colonial do estado e sua estrutura administrativa vigente, mas também
os ideais republicanos de liberdade, ordem e progresso.
Abolição da Bandeira e Nova Simbologia
A primeira bandeira da Paraíba permaneceu em vigor até 7 de
novembro de 1922, quando o então governador Sólon de Lucena a aboliu pela Lei
nº 553, substituindo-a por um pavilhão estadual sem símbolos próprios — uma
tentativa de alinhar todos os símbolos estaduais ao modelo da bandeira
nacional, num contexto de crescente centralização política e nacionalismo.
A atual bandeira do estado, adotada posteriormente em 1930,
durante os desdobramentos da Revolução de 30 e a morte do presidente João
Pessoa, passou a carregar significados políticos bem distintos, expressos na
palavra “NEGO” sobre o fundo vermelho e preto, marcando uma ruptura com o
modelo anterior mais institucional e histórico.
Importância Histórica e Memória Cultural
Apesar de ter sido substituída, a primeira bandeira da
Paraíba representa um marco na construção simbólica do estado, refletindo um
momento de organização institucional, valorização da história local e adesão
aos ideais republicanos. Seu esquecimento, muitas vezes, reflete o apagamento
de períodos de estabilidade política em favor de símbolos nascidos de rupturas
e conflitos.
Estudar essa bandeira é resgatar uma fase da história
paraibana em que o estado buscava definir sua imagem dentro da nação, por meio
de uma iconografia carregada de significados locais e universais.
Referências Bibliográficas
- LIMA,
Joaquim Pires Ferreira. História da Paraíba. João Pessoa: A União,
1975.
- PINTO,
José Octávio de Arruda Mello. História da Paraíba. João Pessoa:
Editora Universitária UFPB, 1985.
- COSTA,
Aluízio Bezerra. Símbolos da Paraíba: Bandeira, Hino e Brasão. João
Pessoa: Editora A União, 1990.
- SILVA,
Maria do Socorro Ferreira. Memória e identidade: os símbolos oficiais
da Paraíba. João Pessoa: UFPB, 2002.
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