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A escrita como elo entre mundos
Desde a antiguidade, a escrita tem sido uma ferramenta
essencial na preservação da memória e da identidade de diversas civilizações.
No mundo maia, a escrita hieroglífica assumia um papel ainda mais elevado: era
uma linguagem sagrada, usada por escribas e sacerdotes em contextos rituais e
administrativos. Escrever era, portanto, um ato de poder espiritual e político.
Origem e estrutura do sistema de escrita
A escrita maia surgiu por volta do século III a.C., com
raízes que remontam à escrita epi-olmeca e a outros sistemas gráficos
mesoamericanos. O sistema maia era logossilábico, combinando elementos
fonéticos (sílabas) com ideogramas (logogramas), totalizando mais de 800 glifos
identificáveis. Esses glifos eram talhados em estelas, pintados em vasos
cerimoniais ou registrados nos códices (Houston, Stuart & Robertson, 2004).
Os códices: livros vivos de uma civilização
Os códices maias eram confeccionados com papel de origem
vegetal (a partir da casca da árvore amate) e dobrados em sanfona. Eram
pintados com tintas minerais e vegetais, e continham informações fundamentais
sobre calendários, astronomia, profecias, mitologia e rituais. Após a invasão
espanhola, quase todos os códices foram destruídos como parte da política de
conversão religiosa. Apenas quatro manuscritos são reconhecidos como
autênticos: Dresden, Madri, Paris e Grolier (Love, 2016).
Escribas: sacerdotes da palavra
Na sociedade maia, os escribas eram figuras centrais e
muitas vezes pertenciam à elite nobre. Recebiam treinamento desde cedo em
templos e palácios, onde aprendiam a dominar os glifos e os rituais de escrita.
Muitos desses símbolos estavam associados a divindades como Itzamná, o deus
criador e senhor do conhecimento, responsável por ter concedido aos humanos o
dom da escrita. Assim, os textos maias não eram meramente descritivos — eles
evocavam os ciclos cósmicos e os mitos da criação (Coe & Van Stone, 2005).
A redescoberta da escrita maia
Durante séculos, o sistema de escrita maia permaneceu
indecifrado. No entanto, no século XX, os estudos do linguista russo Yuri
Knórosov revolucionaram o campo ao provar que os glifos tinham componentes
fonéticos. A partir disso, especialistas como Linda Schele, David Stuart e
outros deram continuidade à decifração. Hoje, cerca de 90% dos glifos
conhecidos já são compreendidos (Martin & Grube, 2008), permitindo que
pesquisadores reconstruam eventos históricos, biografias reais e crenças
religiosas maias.
Um legado imortal
A escrita maia é mais do que uma ferramenta de registro: é
um monumento à genialidade intelectual de um povo que via a linguagem como
manifestação do divino. Seus códices, embora poucos, continuam sendo fontes de
fascínio e aprendizado, guardiões de um tempo em que escrever era um ato
sagrado. Ao estudá-los, mergulhamos em uma cosmovisão rica, onde arte, ciência
e fé caminhavam juntas.
Referências Bibliográficas
- Coe,
M. D., & Van Stone, M. (2005). Reading the Maya Glyphs. Thames
& Hudson.
- Houston,
S., Stuart, D., & Robertson, J. (2004). The Language of Classic
Maya Inscriptions. Current Anthropology, 45(3), 321–356.
- Love,
M. W. (2016). The Grolier Codex: A Maya Book from the Early Postclassic
Period. Ancient Mesoamerica, 27(2), 229–245.
- Martin,
S., & Grube, N. (2008). Chronicle of the Maya Kings and Queens.
Thames & Hudson.
- Knórosov,
Y. V. (1952). The Writing of the Maya Indians. Proceedings of
the Institute of Ethnography, USSR
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