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quinta-feira, 15 de maio de 2025

Escrita e Códices Maias: A Linguagem dos Deuses

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A civilização maia, uma das mais sofisticadas da Mesoamérica pré-colombiana, desenvolveu um sistema de escrita complexo e altamente simbólico, que ainda hoje fascina arqueólogos, linguistas e historiadores. Este artigo apresenta as origens, funções e características da escrita maia, bem como os códices sobreviventes que revelam aspectos essenciais da cosmovisão, religião e ciência desse povo. Para os maias, escrever era mais que registrar informações: era comunicar-se com os deuses.

A escrita como elo entre mundos

Desde a antiguidade, a escrita tem sido uma ferramenta essencial na preservação da memória e da identidade de diversas civilizações. No mundo maia, a escrita hieroglífica assumia um papel ainda mais elevado: era uma linguagem sagrada, usada por escribas e sacerdotes em contextos rituais e administrativos. Escrever era, portanto, um ato de poder espiritual e político.

Origem e estrutura do sistema de escrita

A escrita maia surgiu por volta do século III a.C., com raízes que remontam à escrita epi-olmeca e a outros sistemas gráficos mesoamericanos. O sistema maia era logossilábico, combinando elementos fonéticos (sílabas) com ideogramas (logogramas), totalizando mais de 800 glifos identificáveis. Esses glifos eram talhados em estelas, pintados em vasos cerimoniais ou registrados nos códices (Houston, Stuart & Robertson, 2004).

Os códices: livros vivos de uma civilização

Os códices maias eram confeccionados com papel de origem vegetal (a partir da casca da árvore amate) e dobrados em sanfona. Eram pintados com tintas minerais e vegetais, e continham informações fundamentais sobre calendários, astronomia, profecias, mitologia e rituais. Após a invasão espanhola, quase todos os códices foram destruídos como parte da política de conversão religiosa. Apenas quatro manuscritos são reconhecidos como autênticos: Dresden, Madri, Paris e Grolier (Love, 2016).

Escribas: sacerdotes da palavra

Na sociedade maia, os escribas eram figuras centrais e muitas vezes pertenciam à elite nobre. Recebiam treinamento desde cedo em templos e palácios, onde aprendiam a dominar os glifos e os rituais de escrita. Muitos desses símbolos estavam associados a divindades como Itzamná, o deus criador e senhor do conhecimento, responsável por ter concedido aos humanos o dom da escrita. Assim, os textos maias não eram meramente descritivos — eles evocavam os ciclos cósmicos e os mitos da criação (Coe & Van Stone, 2005).

A redescoberta da escrita maia

Durante séculos, o sistema de escrita maia permaneceu indecifrado. No entanto, no século XX, os estudos do linguista russo Yuri Knórosov revolucionaram o campo ao provar que os glifos tinham componentes fonéticos. A partir disso, especialistas como Linda Schele, David Stuart e outros deram continuidade à decifração. Hoje, cerca de 90% dos glifos conhecidos já são compreendidos (Martin & Grube, 2008), permitindo que pesquisadores reconstruam eventos históricos, biografias reais e crenças religiosas maias.

Um legado imortal

A escrita maia é mais do que uma ferramenta de registro: é um monumento à genialidade intelectual de um povo que via a linguagem como manifestação do divino. Seus códices, embora poucos, continuam sendo fontes de fascínio e aprendizado, guardiões de um tempo em que escrever era um ato sagrado. Ao estudá-los, mergulhamos em uma cosmovisão rica, onde arte, ciência e fé caminhavam juntas.

Referências Bibliográficas

  • Coe, M. D., & Van Stone, M. (2005). Reading the Maya Glyphs. Thames & Hudson.
  • Houston, S., Stuart, D., & Robertson, J. (2004). The Language of Classic Maya Inscriptions. Current Anthropology, 45(3), 321–356.
  • Love, M. W. (2016). The Grolier Codex: A Maya Book from the Early Postclassic Period. Ancient Mesoamerica, 27(2), 229–245.
  • Martin, S., & Grube, N. (2008). Chronicle of the Maya Kings and Queens. Thames & Hudson.
  • Knórosov, Y. V. (1952). The Writing of the Maya Indians. Proceedings of the Institute of Ethnography, USSR

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