Introdução
O processo de independência do Brasil foi marcado pela
atuação de personagens que associavam formação intelectual sólida com
experiências administrativas. Entre eles, destaca-se Martim Francisco Ribeiro
de Andrada, cuja contribuição, embora ofuscada pela notoriedade do irmão José
Bonifácio, foi igualmente essencial. Este estudo pretende lançar luz sobre sua
atuação política e sua importância para a consolidação do Estado imperial
brasileiro.
Formação e Influências Intelectuais
Martim Francisco nasceu em Santos (SP) em 1775. Estudou na
Universidade de Coimbra, onde se graduou em Filosofia e Ciências Naturais,
sendo fortemente influenciado pelas reformas pombalinas e pelo Iluminismo
português (SCHWARCZ, 1998). Essa formação refletiu-se em sua atuação política,
voltada à racionalização administrativa e ao fortalecimento da economia
nacional.
Atuação Política e Administrativa
Ministro da Fazenda (1822–1823)
Como ministro da Fazenda de Dom Pedro I, Martim Francisco
teve como missão reorganizar a economia brasileira após a ruptura com Portugal.
Implantou uma política de austeridade, buscando racionalizar os gastos públicos
e criar mecanismos fiscais de controle (LYNCH, 2012). Também foi responsável
pela criação de um orçamento público nacional, algo inédito até então.
Defesa da Autonomia Administrativa
Martim defendia uma monarquia constitucional nos moldes
britânicos, com equilíbrio entre poderes e descentralização política. Em
oposição ao absolutismo e à centralização portuguesa, propôs reformas que
visavam à autonomia das províncias (NEVES, 2003).
Pensamento Político
Martim Francisco adotava um liberalismo moderado. Para ele,
a liberdade devia estar aliada à ordem, e a economia deveria ser fortalecida
pela iniciativa privada com regulação estatal mínima. Rejeitava tanto o
absolutismo lusitano quanto os excessos revolucionários republicanos (MATTOS,
1987). Seu pensamento contribuiu para a formulação de um projeto nacional de
Estado liberal monárquico.
Relação com José Bonifácio e o Partido Brasileiro
Embora próximo do irmão, Martim Francisco divergiu em
algumas estratégias políticas, principalmente quanto à condução da Constituinte
de 1823. Ambos, no entanto, foram fundadores do chamado "Partido
Brasileiro", grupo que articulava a independência e a organização de um
Estado nacional autônomo e soberano (BARMAN, 1999).
Legado e Contribuição Histórica
Martim Francisco foi um dos primeiros a formular políticas
fiscais brasileiras com racionalidade econômica. Participou de um momento
decisivo da história nacional e legou uma tradição de pensamento político
baseado na razão, na liberdade com responsabilidade e na defesa dos interesses
nacionais frente à antiga metrópole.
Conclusão
Apesar de menos celebrado que José Bonifácio, Martim
Francisco Ribeiro de Andrada foi um arquiteto essencial do nascente Estado
brasileiro. Sua atuação como ministro da Fazenda, suas ideias políticas e sua
contribuição institucional revelam um homem profundamente comprometido com a
construção de um Brasil moderno e soberano.
Referências Bibliográficas
- BARMAN,
Roderick J. Brazil: The Forging of a Nation, 1798-1852. Stanford
University Press, 1999.
- LYNCH,
Christian Edward Cyril. O pensamento político brasileiro (1808–1870).
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2012.
- MATTOS,
Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema: A formação do Estado Imperial.
São Paulo: Hucitec, 1987.
- NEVES,
Lúcia Maria Bastos Pereira das. Corcundas e constitucionais: a cultura
política da independência (1820–1822). São Paulo: Hucitec, 2003.
- SCHWARCZ,
Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos
trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
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