Radio Evangélica

terça-feira, 3 de junho de 2025

Martim Francisco Ribeiro de Andrada: Pensamento Político e Contribuições Administrativas na Formação do Estado Brasileiro

Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1775–1844), irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva, foi uma das figuras centrais na transição do Brasil colônia para o Brasil Império. Como ministro da Fazenda e intelectual influenciado pelos ideais iluministas, Martim Francisco desempenhou papel decisivo na organização econômica e institucional do país em formação. Este artigo examina sua trajetória política, suas ações administrativas e sua influência no pensamento liberal do início do século XIX.

Introdução

O processo de independência do Brasil foi marcado pela atuação de personagens que associavam formação intelectual sólida com experiências administrativas. Entre eles, destaca-se Martim Francisco Ribeiro de Andrada, cuja contribuição, embora ofuscada pela notoriedade do irmão José Bonifácio, foi igualmente essencial. Este estudo pretende lançar luz sobre sua atuação política e sua importância para a consolidação do Estado imperial brasileiro.

Formação e Influências Intelectuais

Martim Francisco nasceu em Santos (SP) em 1775. Estudou na Universidade de Coimbra, onde se graduou em Filosofia e Ciências Naturais, sendo fortemente influenciado pelas reformas pombalinas e pelo Iluminismo português (SCHWARCZ, 1998). Essa formação refletiu-se em sua atuação política, voltada à racionalização administrativa e ao fortalecimento da economia nacional.

Atuação Política e Administrativa

Ministro da Fazenda (1822–1823)

Como ministro da Fazenda de Dom Pedro I, Martim Francisco teve como missão reorganizar a economia brasileira após a ruptura com Portugal. Implantou uma política de austeridade, buscando racionalizar os gastos públicos e criar mecanismos fiscais de controle (LYNCH, 2012). Também foi responsável pela criação de um orçamento público nacional, algo inédito até então.

Defesa da Autonomia Administrativa

Martim defendia uma monarquia constitucional nos moldes britânicos, com equilíbrio entre poderes e descentralização política. Em oposição ao absolutismo e à centralização portuguesa, propôs reformas que visavam à autonomia das províncias (NEVES, 2003).

Pensamento Político

Martim Francisco adotava um liberalismo moderado. Para ele, a liberdade devia estar aliada à ordem, e a economia deveria ser fortalecida pela iniciativa privada com regulação estatal mínima. Rejeitava tanto o absolutismo lusitano quanto os excessos revolucionários republicanos (MATTOS, 1987). Seu pensamento contribuiu para a formulação de um projeto nacional de Estado liberal monárquico.

Relação com José Bonifácio e o Partido Brasileiro

Embora próximo do irmão, Martim Francisco divergiu em algumas estratégias políticas, principalmente quanto à condução da Constituinte de 1823. Ambos, no entanto, foram fundadores do chamado "Partido Brasileiro", grupo que articulava a independência e a organização de um Estado nacional autônomo e soberano (BARMAN, 1999).

Legado e Contribuição Histórica

Martim Francisco foi um dos primeiros a formular políticas fiscais brasileiras com racionalidade econômica. Participou de um momento decisivo da história nacional e legou uma tradição de pensamento político baseado na razão, na liberdade com responsabilidade e na defesa dos interesses nacionais frente à antiga metrópole.

Conclusão

Apesar de menos celebrado que José Bonifácio, Martim Francisco Ribeiro de Andrada foi um arquiteto essencial do nascente Estado brasileiro. Sua atuação como ministro da Fazenda, suas ideias políticas e sua contribuição institucional revelam um homem profundamente comprometido com a construção de um Brasil moderno e soberano.

Referências Bibliográficas

  • BARMAN, Roderick J. Brazil: The Forging of a Nation, 1798-1852. Stanford University Press, 1999.
  • LYNCH, Christian Edward Cyril. O pensamento político brasileiro (1808–1870). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2012.
  • MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema: A formação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec, 1987.
  • NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. Corcundas e constitucionais: a cultura política da independência (1820–1822). São Paulo: Hucitec, 2003.
  • SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário