Radio Evangélica

sábado, 21 de junho de 2025

Luiz Gama: O Abolicionista Que Libertou Mais de 500 Escravizados

Wikimedia Commons
No dia 21 de junho de 1830, nascia Luiz Gonzaga Pinto da Gama, um dos maiores heróis da história do Brasil, cuja trajetória de vida se confunde com a própria luta contra a escravidão. Advogado autodidata, jornalista, poeta e abolicionista, Luiz Gama se tornou símbolo da resistência negra e da luta por justiça em um país profundamente marcado pela escravidão.

Hoje, ao celebrarmos seu aniversário, é essencial lembrar e honrar seu legado, que ultrapassa gerações e continua inspirando movimentos sociais, juristas, historiadores e todos aqueles comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Quem Foi Luiz Gama?

Luiz Gama nasceu em Salvador (BA), filho de uma mulher negra livre, Luiza Mahin, ativista que participou das revoltas escravas na Bahia. Seu pai era um homem branco português. Ainda criança, aos 10 anos, foi vendido como escravizado pelo próprio pai para pagar dívidas de jogo, sendo trazido para São Paulo.

A partir daí, iniciou-se uma vida de luta e resistência. Mesmo escravizado, Luiz Gama aprendeu a ler e a escrever por meio de amigos e colegas. Aos 17 anos, provou judicialmente que era livre, com base na ilegalidade de sua própria condição, já que filhos de mulher livre não poderiam ser escravizados.

O Advogado dos Escravizados

Sem nunca ter frequentado formalmente uma faculdade, Luiz Gama tornou-se um advogado prático — figura possível na época —, profundamente conhecedor das leis brasileiras. Com sua inteligência e domínio do Direito, atuou em centenas de processos, libertando mais de 500 pessoas escravizadas.

Ele usava os próprios instrumentos legais da época, como a Lei de 1831 (que proibia o tráfico internacional de escravizados, embora fosse amplamente descumprida) e argumentos de liberdade de ventre e ilegalidade de cativeiro, para desmontar a estrutura jurídica que sustentava a escravidão.

Além disso, era um crítico feroz do racismo e da hipocrisia da elite brasileira, que dizia prezar pela civilização enquanto sustentava a escravidão.

Jornalista e Intelectual

Luiz Gama também foi jornalista, poeta e um dos poucos escritores negros do século XIX. Escreveu para diversos jornais, sempre denunciando as injustiças sociais, raciais e políticas. Seu livro mais famoso, publicado em 1859, chama-se “Primeiras Trovas Burlescas de Getulino”, obra que usava a sátira e o humor para criticar a sociedade escravocrata.

Legado e Reconhecimento

Luiz Gama faleceu em 24 de agosto de 1882, poucos anos antes da assinatura da Lei Áurea, que pôs fim oficial à escravidão no Brasil. Apesar disso, seu trabalho foi determinante para acelerar esse processo.

Por décadas, seu nome foi pouco lembrado. No entanto, nas últimas décadas, movimentos negros, acadêmicos e juristas vêm resgatando sua importância.

Em 2015, Luiz Gama recebeu, postumamente, o título de advogado, concedido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), reparando uma injustiça histórica.

Hoje, Luiz Gama é reconhecido como Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil e símbolo maior da luta antirracista.

Conclusão

No dia de hoje, 21 de junho, em que celebramos o nascimento de Luiz Gama, é impossível não refletir sobre sua coragem, inteligência e resistência. Seu legado permanece vivo, especialmente em um país que ainda carrega marcas profundas do racismo estrutural.

Falar sobre Luiz Gama não é apenas revisitar o passado — é também um convite urgente para refletirmos sobre o presente e construirmos um futuro onde a justiça social e a igualdade racial sejam mais do que ideais: sejam realidade.

Referências Bibliográficas

• LIMA, Ligia Fonseca Ferreira. Luiz Gama: Poeta, jornalista e advogado dos escravizados. São Paulo: Selo Negro, 2011.
• GAMA, Luiz. Primeiras Trovas Burlescas de Getulino. São Paulo: Typographia Imparcial, 1859.
• FERREIRA, Ligia Fonseca. Com a palavra, Luiz Gama: poesia, literatura e militância. São Paulo: Selo Negro, 2011.
• RAMOS, Sidney Chalhoub. A força da escravidão: Ilegalidade e costume no Brasil oitocentista. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
• NOGUEIRA, Oracy. Preconceito de marca: as relações raciais em Itapetininga. São Paulo: EdUSP, 1998.
• Conselho Federal da OAB. OAB concede título póstumo de advogado a Luiz Gama. 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário