Radio Evangélica

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Inflação Oficial de Outubro Fica em 0,09%: Menor Índice para o Mês Desde 1998 Indica Desaceleração dos Preços

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — considerado o indicador oficial da inflação no Brasil — registrou alta de apenas 0,09% em outubro de 2025, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da menor variação para o mês desde 1998, impulsionada principalmente pela queda nas tarifas de energia elétrica.

No acumulado dos últimos 12 meses, o índice chega a 4,68%, abaixo dos 4,82% registrados no período anterior, mas ainda acima do teto da meta de inflação do governo, que é de 4,5% para 2025, dentro de uma meta central de 3%.

Energia Elétrica Puxa Queda da Inflação

O principal destaque do mês foi a redução de 2,39% na energia elétrica residencial, resultado da mudança da bandeira tarifária vermelha patamar 2 para o patamar 1. Essa alteração reduziu a cobrança extra nas contas de luz para R$ 4,46 a cada 100 kWh consumidos, impactando o IPCA negativamente em –0,10 ponto percentual.

Além disso, os grupos habitação (–0,30%), artigos de residência (–0,34%) e comunicação (–0,16%) também contribuíram para conter o avanço do índice.

Alimentação e Bebidas Ficam Estáveis Após Quedas Consecutivas

Após quatro meses de recuo, o grupo alimentação e bebidas apresentou estabilidade (0,01%), registrando a menor variação para outubro desde 2017.
Os preços do arroz (–2,49%) e do leite longa vida (–1,88%) caíram, enquanto itens como batata-inglesa (+8,56%) e óleo de soja (+4,64%) tiveram alta.

Entre os 377 produtos e serviços pesquisados, as maiores altas foram observadas em aluguel residencial (+0,93%) e passagem aérea (+4,48%), ambos com impacto de 0,03 ponto percentual no índice.

Inflação de Serviços Ainda Pressiona

Embora o IPCA geral tenha desacelerado, a inflação de serviços — indicador que reflete custos de mão de obra e demanda interna — subiu 0,41% em outubro e acumula alta de 6,20% em 12 meses.
Já os preços monitorados (como energia e combustíveis) caíram 0,16% no mês, mas ainda acumulam alta de 4,20% em 12 meses.

Resumo por Grupos de Produtos e Serviços

Grupo

Variação (%) outubro

Impacto (p.p.) outubro

Alimentação e bebidas

0,01

0,00

Habitação

-0,30

-0,05

Artigos de residência

-0,34

-0,01

Vestuário

0,51

0,02

Transportes

0,11

0,02

Saúde e cuidados pessoais

0,41

0,06

Despesas pessoais

0,45

0,05

Educação

0,06

0,00

Comunicação

-0,16

0,00

Fonte: IBGE (2025).

Projeções e Política Monetária: Selic Segue em Nível Histórico

De acordo com o Boletim Focus do Banco Central, o mercado financeiro projeta inflação de 4,55% em 2025, ligeiramente acima do teto da meta. Para 2026, a expectativa é de 4,2%, e para 2027, de 3,8%.

Para conter a pressão inflacionária, o Comitê de Política Monetária (Copom) mantém a taxa Selic em 15% ao ano — o maior patamar desde 2006.
A política de juros elevados busca desacelerar o consumo e reduzir o crédito, funcionando como freio para a inflação, mas também afeta investimentos e o crescimento econômico.

Perspectivas: Sinais de Alívio, Mas Meta Ainda Distante

Especialistas avaliam que o IPCA de outubro reflete uma tendência de desaceleração da inflação, especialmente diante da redução dos custos de energia e da estabilidade dos alimentos.
No entanto, o índice ainda está acima do limite da meta do governo, o que mantém o cenário de cautela no mercado financeiro.

O comportamento dos preços administrados e o efeito defasado da alta dos juros devem ser determinantes para o desempenho da inflação nos próximos meses. Caso a desaceleração persista, o índice pode encerrar 2025 dentro do intervalo de tolerância, apontando para um cenário de estabilidade gradual.

O IPCA é calculado pelo IBGE e mede a variação de preços de um conjunto de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos, abrangendo 11 regiões metropolitanas do país.

Referências

AGÊNCIA BRASIL. Inflação oficial de outubro fica em 0,09%, menor para o mês desde 1998. Brasília: EBC, 2025. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-11/inflacao-oficial-de-outubro-fica-em-009-menor-para-o-mes-desde-1998. Acesso em: 11 nov. 2025.

IBGE. Inflação. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/inflacao.php. Acesso em: 11 nov. 2025.

EXAME. IPCA de outubro desacelera e fecha em 0,09%. São Paulo, 2025. Disponível em: https://exame.com/economia/ipca-de-outubro-desacelera-e-fecha-em-009-apos-alta-em-setembro/.

G1. IPCA recua para 0,09% em outubro, menor taxa para o mês. Rio de Janeiro, 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/11/11/ipca-precos-sobem-009percent-em-outubro-diz-ibge.ghtml.

CORREIO BRAZILIENSE. Mercado mantém expectativa de inflação acima do teto da meta em 2025. Brasília, 2025. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2025/11/7289122-mercado-mantem-expectativa-de-inflacao-para-acima-do-teto-da-meta-em-2025.html.

Indústria Brasileira Recua em Setembro, com Queda em 6 dos 15 Locais Pesquisados

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a produção industrial nacional teve uma variação negativa de 0,4% em setembro de 2025, na comparação com o mês anterior.

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A produção industrial no Brasil registrou uma queda de 0,4% em setembro de 2025, conforme dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) divulgados pelo IBGE. O resultado negativo foi acompanhado por 6 dos 15 locais analisados, com as retrações mais significativas observadas no Paraná (-6,9%), Bahia (-4,7%) e Rio de Janeiro (-4,3%).

Apesar do cenário de queda em parte do país, outros estados apresentaram um crescimento robusto. Os destaques positivos foram o Amazonas, com uma expansão de 9,0%, o Rio Grande do Sul, com 4,8%, e o Espírito Santo, que cresceu 4,6%.

Análise dos Indicadores

Na análise da média móvel trimestral, o trimestre encerrado em setembro de 2025 teve uma leve variação positiva de 0,1% em relação ao mês anterior, indicando uma tendência de estabilização. Os maiores avanços nesse indicador foram registrados no Rio Grande do Sul (3,5%) e no Espírito Santo (2,6%).

Já na comparação com setembro de 2024, o setor industrial demonstrou um crescimento de 2,0%. Nessa base de comparação, 14 dos 18 locais pesquisados tiveram resultados positivos. As altas mais expressivas foram no Espírito Santo (19,2%), Rio Grande do Norte (19,0%) e Rio Grande do Sul (10,6%).

Desempenho Acumulado

No acumulado de janeiro a setembro de 2025, a indústria nacional expandiu 1,0%. Dez dos 18 locais pesquisados mostraram crescimento, com destaque para Espírito Santo (7,5%), Pará (4,9%) e Rio de Janeiro (4,1%). Em contrapartida, o Rio Grande do Norte (-13,1%) e o Mato Grosso (-7,1%) registraram os piores desempenhos no período.

Custo da Construção Civil Desacelera em Outubro, Aponta IBGE

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O Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (11), registrou uma variação de 0,27% em outubro. O resultado representa uma desaceleração no ritmo de alta dos custos do setor, ficando 0,23 ponto percentual abaixo da taxa de 0,50% observada em setembro.

Com o resultado, o custo nacional da construção por metro quadrado alcançou R$ 1.877,29, uma leve alta em relação aos R$ 1.872,24 de setembro. Deste total, R$ 1.071,42 são referentes aos materiais e R$ 805,87 à mão de obra. No acumulado dos últimos 12 meses, o índice atingiu 5,30%, mostrando uma ligeira queda em comparação com os 5,58% registrados no período de 12 meses imediatamente anterior.

Análise dos Componentes do Custo

A desaceleração do índice geral foi influenciada pelo comportamento de seus dois principais componentes: materiais e mão de obra.

A parcela dos materiais apresentou uma variação de 0,31%, um arrefecimento em relação tanto ao mês anterior (0,38%) quanto a outubro de 2024 (0,79%).

Por outro lado, o custo da mão de obra teve uma variação significativamente menor, de 0,22%, puxada pela menor quantidade de acordos coletivos firmados no período. A taxa representa uma queda expressiva de 0,43 ponto percentual em relação a setembro (0,65%), mas uma leve alta quando comparada a outubro do ano passado (0,16%).

No acumulado de janeiro a outubro, os materiais subiram 3,52%, enquanto a mão de obra acumulou alta de 6,65%.

Destaques Regionais

A Região Norte se destacou com a maior variação mensal do país, atingindo 0,95%. A alta foi impulsionada principalmente por um acordo coletivo firmado nas categorias profissionais do Pará, que fez o estado registrar a maior taxa individual do Brasil: 1,84%.

As demais regiões apresentaram os seguintes resultados:

  • Nordeste: 0,27%
  • Sudeste: 0,15%
  • Sul: 0,20%
  • Centro-Oeste: 0,21%

O Sinapi, calculado pelo IBGE em parceria com a Caixa Econômica Federal, é um indicador fundamental para o setor da construção, servindo como referência para orçamentos, contratos e análises de custos em todo o país.

O Futuro na Estrada: Lançamentos de Veículos 2025 e as Tendências que Moldam a Mobilidade

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O ano de 2025 projeta-se como um marco na indústria automotiva nacional e mundial. A transição energética e o avanço tecnológico aceleram a chegada de inovações que vão redefinir o deslocamento urbano. O mercado brasileiro prepara-se para receber uma safra de veículos elétricos e híbridos com mais autonomia, alta tecnologia embarcada e demandas de sustentabilidade — alinhados ao perfil de um consumidor mais consciente e ao endurecimento das normas ambientais.

Montadoras como BYD, Volkswagen, Kia, Renault e Chevrolet intensificam investimentos em pesquisa para atender essas novas exigências, tornando o mercado cada vez mais competitivo e diversificado.
Saiba mais: O Novo Cenário Imobiliário em 2025: Tecnologia, Sustentabilidade e Consumo Consciente

Principais Lançamentos Elétricos de 2025

  • BYD Sealion 05 EV – SUV compacto lançado em março, com autonomia de até 520 km e design moderno, reforçando o papel da China no mercado nacional.
  • Volkswagen ID.4 – SUV médio 100% elétrico, com autonomia superior a 400 km e alta conectividade, ampliando o portfólio da VW em eletrificação.
  • Ford Mustang Mach-E – SUV esportivo elétrico que acelera de 0 a 100 km/h em menos de 5 segundos, unindo desempenho e sustentabilidade.
  • Kia EV9 – SUV de sete lugares com autonomia de até 500 km, voltado para famílias que buscam conforto e inovação.
  • Renault Kwid E-Tech – O elétrico mais acessível do mercado, redesenhado e com novos recursos de conectividade.
  • Zeekr 7X – SUV premium da Geely, chegando ao Brasil com 423 km de autonomia para disputar o segmento de luxo.

Ascensão dos Híbridos

Os veículos híbridos continuam sendo fundamentais para a transição sustentável. O mercado brasileiro de eletrificados cresceu cerca de 21% na primeira metade de 2025, refletindo a busca por eficiência e economia.
Entre os destaques: Toyota Yaris Cross, Chevrolet Tracker Híbrido, Caoa Chery Tiggo 7 e 8 PHEV, Fiat Pulse T200 Hybrid, Mitsubishi Outlander PHEV e Jeep Compass Hybrid, todos representando uma nova fase na mobilidade verde nacional.

Tendências Tecnológicas

A inovação automotiva de 2025 se baseia em quatro pilares principais:

  • Carregamento ultrarrápido – Modelos como o BYD Sealion 07 recarregam de 10% a 80% em apenas 25 minutos.
  • Conectividade e IoT – Veículos integrados ao ecossistema digital, com atualizações OTA e telemetria em tempo real.
  • Sistemas ADAS – Recursos como frenagem de emergência e controle adaptativo de cruzeiro tornam-se padrão nos lançamentos.
  • Cibersegurança veicular – A conectividade traz novos desafios de proteção digital e exigências de criptografia automotiva.

Sustentabilidade em Foco

A redução das emissões e o uso de energias renováveis estão no centro das estratégias automotivas. Montadoras adotam reciclagem de baterias, materiais sustentáveis e motores elétricos mais eficientes, mostrando que a inovação pode caminhar lado a lado com a preservação ambiental.

Conclusão

O ano de 2025 promete redefinir o mercado automotivo brasileiro, consolidando a eletrificação e a conectividade como pilares do futuro. Além de uma oferta mais diversificada, a mobilidade passa a ser mais sustentável, digital e inteligente — refletindo o avanço da tecnologia automotiva e a mudança de comportamento dos consumidores.

Referências Bibliográficas 

AUTOFAVE. 2025: O Ano dos Carros Híbridos e Elétricos no Brasil. Disponível em: https://autofave.com.br/2025-o-ano-dos-carros-hibridos-e-eletricos-no-brasil. Acesso em: 9 nov. 2025.

GRENV. Lançamentos de carros elétricos e híbridos no Brasil programados para 2025. Disponível em: https://www.greenv.com.br/blog/lancamentos-de-carros-eletricos-e-hibridos-no-brasil-programados-para-2025/. Acesso em: 9 nov. 2025.

MOBIAUTO. 23 Carros elétricos que serão lançados no Brasil em 2025. Disponível em: https://www.mobiauto.com.br/noticias/23-carros-eletricos-que-serao-lancados-no-brasil-em-2025/6432. Acesso em: 9 nov. 2025.

WEBMOTORS. 5 carros elétricos mais baratos do Brasil em 2025. Disponível em: https://www.webmotors.com.br/noticias/carros-eletricos-mais-baratos-do-brasil-2025. Acesso em: 9 nov. 2025.

CNN BRASIL. Confira os 10 carros que ainda serão lançados no Brasil em 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/auto/confira-os-10-carros-que-ainda-serao-lancados-no-brasil-em-2025/. Acesso em: 9 nov. 2025.

ICARROS. Carros híbridos mais vendidos no Brasil em 2025. Disponível em: https://www.icarros.com.br/noticias/carros-hibridos-mais-vendidos-brasil-2025. Acesso em: 9 nov. 2025.

AGAZETA. Veja quais são os 10 carros elétricos mais baratos do Brasil em 2025. Disponível em: https://www.agazeta.com.br/economia/carros-eletricos-mais-baratos-do-brasil-em-2025-1025. Acesso em: 9 nov. 2025.

BLOG SUPERBID. Conheça os 10 carros elétricos que chegam ao Brasil em 2024. Disponível em: https://blog.superbid.net/conheca-os-10-carros-eletricos-que-chegam-ao-brasil-em-2024/. Acesso em: 9 nov. 2025.

Tributos e Domínio sobre Povos Conquistados: O Caso do Império Asteca

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O Império Asteca, florescendo no final do período Pós-Clássico da Mesoamérica (c. 1325–1521 d.C.), representou uma das mais complexas e poderosas formações políticas da história pré-colombiana. Centrado na cidade de Tenochtitlan, o império foi, na verdade, uma confederação hegemônica conhecida como Tripla Aliança, formada por Tenochtitlan, Texcoco e Tlacopan.

Embora essa aliança operasse com certa autonomia em suas respectivas esferas de influência, Tenochtitlan emergiu como a força dominante, estabelecendo um vasto império que controlava um mosaico de povos e cidades-estado através de um sofisticado, mas opressor, sistema de tributação.

Estrutura Administrativa do Sistema Tributário

O sistema tributário asteca era sustentado por uma estrutura administrativa elaborada. O império estava dividido em cerca de 38 províncias tributárias (altepeme), cada uma com uma capital como ponto de coleta dos tributos.

A figura central nesta administração era o calpixqui, oficial imperial residente nas capitais provinciais. Suas funções abrangiam garantir a coleta, qualidade e transporte dos tributos até Tenochtitlan, além de servir como braço do poder militar e diplomático asteca.

Muitas vezes, os governantes locais (tlatoani) eram mantidos em seus cargos, desde que cooperassem quanto ao fluxo de tributos. A rede de comunicação e as estradas eram vitais para esse sistema. Os tlamemes (portadores) faziam o transporte das cargas, frequentemente como forma de tributo em trabalho.

Categorias e Tipos de Tributos Cobrados

O Códice Mendoza revela a diversidade dos tributos exigidos, variando conforme os recursos e especialidades de cada região. Os principais grupos incluem:

  • Bens agrícolas: milho, feijão, chia, abóbora, amaranto, cacau, pimentas, frutas exóticas e mel.
  • Manufaturados e artesanato: mantas de algodão, penachos de aves tropicais, ferramentas, têxteis, armas como o macuahuitl, objetos de luxo (jade, ouro, obsidiana).
  • Trabalho compulsório (coatequitl): construção de obras públicas, serviço militar, mão de obra doméstica.
  • Tributo humano: oferta de cativos de guerra para sacrifício, fundamental nos rituais religiosos e como instrumento de subordinação política.

A periodicidade dos tributos variava, normalmente de entrega semestral ou anual. O não cumprimento resultava em punições severas, como expedições militares e aumento da tributação.


Mecanismos de Controle e Arrecadação

A presença de calpixque era pilar do controle asteca, garantindo a fiscalização local e reporte direto ao huey tlatoani (imperador). O processo de arrecadação seguia um calendário rígido, alinhado aos ciclos agrícolas e festividades religiosas.

O transporte dos tributos demandava logística complexa, envolvendo rotas e postos de descanso para os tlamemes. Alianças e acordos também eram empregados, tornando alguns povos aliados tributários em termos mais favoráveis.

Sistemas de Contabilização e Registro

O rigor administrativo asteca se distinguia pelo uso de registros pictográficos. Os tlacuilos registravam quotas, bens e localidades usando um sistema elaborado de glifos, como visto no Códice Mendoza. Esses registros serviam para auditoria, planejamento econômico e registro histórico do império, demonstrando sofisticação no controle e na manutenção do poder centralizado.

Impactos Sociais e Políticos

O sistema tributário asteca trouxe prosperidade a Tenochtitlan, sustentando obras públicas e uma elite poderosa, além de consolidar a centralização política. Para os povos conquistados, contudo, gerou opressão econômica, perda de soberania, exploração do trabalho e reorganização social — fatores que facilitaram a queda do império diante da aliança entre espanhóis e povos como os tlaxcaltecas.

Resistência e Revoltas

A opressão tributária fomentou resistências de diversas formas, desde a recusa e atraso no pagamento até revoltas armadas. As punições astecas alimentaram um ciclo de tensões, criando um corpo de inimigos internos que, quando surgiu a oportunidade histórica, colaboraram com a conquista espanhola.

CONCLUSÃO

O sistema tributário foi o motor do Império Asteca, garantindo riqueza e poder, mas também semeando os germes de sua derrocada. Sua sofisticação administrativa e coerção militar mantiveram o domínio sobre inúmeros povos, ao custo de profundas inimizades. O estudo dessas dinâmicas revela como o equilíbrio entre dominação e resistência moldou as civilizações da Mesoamérica.

Referências Bibliográficas

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BERDAN, Frances F.; ANNA, Timothy E. The Essential Codex Mendoza. Berkeley: University of California Press, 1997.

CARRASCO, Pedro. The Tenochca Empire of Ancient Mexico: The Triple Alliance of Tenochtitlan, Texcoco, and Tlacopan. Norman: University of Oklahoma Press, 1999.

CASTILLO, Cristóbal del. Fragmentos de la Obra General sobre Historia de los Mexicanos. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2001.

CLAVIJERO, Francisco Javier. Historia Antigua de México. 11. ed. México: Porrúa, 2012.

DURÁN, Diego. The History of the Indies of New Spain. Tradução e edição de Doris Heyden. Norman: University of Oklahoma Press, 1994.

HASSIG, Ross. Aztec Warfare: Imperial Expansion and Political Control. Norman: University of Oklahoma Press, 1988.

HASSIG, Ross. Trade, Tribute, and Transportation: The Sixteenth-Century Political Economy of the Valley of Mexico. Norman: University of Oklahoma Press, 1985.

LEÓN-PORTILLA, Miguel. A visão dos vencidos: a conquista do México segundo textos astecas. Tradução de Jorge de Sena. Porto Alegre: L&PM, 1984.

LÓPEZ AUSTIN, Alfredo; LÓPEZ LUJÁN, Leonardo. Mexico's Indigenous Past. Norman: University of Oklahoma Press, 2001.

SAHAGÚN, Bernardino de. Historia General de las Cosas de Nueva España. Madrid: Alianza Editorial, 1988.

SMITH, Michael E. The Aztecs. 3. ed. Malden: Blackwell Publishing, 2012.

SMITH, Michael E. City size, settlement hierarchy, and population of Aztec provincial capitals. Latin American Antiquity, v. 13, n. 4, p. 453-465, dez. 2002.

TEIXEIRA, Cristina Regina. O códice Mendoza e a administração imperial asteca: um estudo das províncias tributárias. 2008. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

TOWNSEND, Richard F. The Aztecs. 3. ed. Londres: Thames & Hudson, 2009.

Imperatriz Leopoldina: A Rainha Estrategista nos Bastidores do Brasil

Imagem: Joseph Kreutzinger, 1815
A história do Brasil é um tecido complexo, tramado com a bravura de heróis e o sacrifício de figuras muitas vezes relegadas às sombras dos grandes eventos. Entre essas figuras, destaca-se Maria Leopoldina da Áustria, uma mulher cuja inteligência, cultura e notável perspicácia política foram pilares fundamentais para a consolidação de nossa independência. Longe de ser apenas a consorte de Dom Pedro I, Leopoldina foi uma verdadeira estrategista, uma voz ativa e decisiva nos bastidores do poder, cujas ações moldaram o destino de uma nação. Este artigo inaugura uma série dedicada a mulheres poderosas na história do Brasil, explorando a fascinante dualidade entre seu poder político e o drama pessoal que marcou sua existência.

Uma mente brilhante a serviço de uma nação emergente

Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo-Lorena nasceu em Viena em 1797, filha do imperador Francisco I da Áustria e de Maria Teresa de Bourbon‑Duas Sicílias. Sua educação de corte privilegiada foi marcada por um rigor intelectual notável. Fluente em vários idiomas, apaixonada por ciências naturais — especialmente botânica e mineralogia — e conhecedora de história, política e artes, Leopoldina destacava-se por sua curiosidade científica. Entre seus mestres estavam o botânico Heinrich Wilhelm Schott e o mineralogista Karl Franz Anton von Schreibers, que estimularam seu olhar crítico e racional sobre o mundo.

Ao chegar ao Brasil em 1817 para casar-se com o príncipe Dom Pedro, Leopoldina já era uma mulher de ampla visão política. Sua correspondência com a família, inclusive com Klemens Wenzel von Metternich, chanceler austríaco, revela seu profundo entendimento das tensões entre a colônia e a metrópole e sua percepção da inevitável ruptura com Portugal. Essa lucidez fez dela peça essencial na construção do futuro Império.

O grito ignorado: a reunião do Conselho de Estado e o papel decisivo de Leopoldina

Entre 1821 e 1822, o clima político se agravava. As Cortes de Lisboa exigiam o retorno de Dom Pedro e tentavam limitar a autonomia do Brasil. Com o príncipe ausente, a regência recaiu sobre Leopoldina, que convocou, em 16 de agosto de 1822, uma reunião extraordinária do Conselho de Estado do Brasil. Diante de ordens que ameaçavam o poder do governo brasileiro, contou com o apoio decisivo de José Bonifácio de Andrada e Silva.

Demonstrando coragem e discernimento, Leopoldina sancionou o decreto que autorizava o governo brasileiro a permanecer independente da metrópole. Sua ação foi o impulso político e emocional que preparou o caminho para o Grito do Ipiranga.

A influência estratégica na consolidação da independência

A liderança de Leopoldina prolongou-se nos primeiros anos do Império. Sua rede diplomática na Europa buscou reconhecimento internacional para o Brasil independente, articulando-se com figuras poderosas como o imperador Francisco I e a imperatriz da França. Simultaneamente, exerceu papel administrativo como regente, presidindo conselhos e fortalecendo instituições culturais. Incentivou a Missão Artística Francesa e colaborou na criação do Museu Nacional (Brasil) e da Academia Imperial de Belas Artes, consolidando o esboço de uma identidade nacional guiada pela ciência e pela arte.

O drama pessoal: amor, desilusão e infidelidade

No plano íntimo, entretanto, Leopoldina enfrentou sofrimento devastador. Casada com um homem de temperamento volúvel, viu-se humilhada pelas infidelidades públicas de Dom Pedro e pelo relacionamento escandaloso com Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos. Suas cartas à família austríaca registram dor, solidão e resignação. A imperatriz, mãe dedicada e mulher culta, viu sua saúde física e emocional se deteriorar, acentuando o contraste entre sua força política e o abatimento íntimo.

Entre a estrategista e a mártir silenciosa

A dualidade de Leopoldina — a rainha estrategista e a mulher abandonada — dá profundidade trágica à sua trajetória. Mesmo dilacerada, manteve a dignidade do cargo e a dedicação ao Brasil, separando as dores pessoais das responsabilidades públicas. Serviu como contraponto moral e político à impulsividade de Dom Pedro, sustentando, com serenidade, a estabilidade de um Império nascente.

O legado de uma imperatriz

Maria Leopoldina faleceu em dezembro de 1826, aos 29 anos, provavelmente em decorrência de uma infecção uterina agravada por fragilidade física e emocional. Sua morte foi lamentada como a perda de uma figura essencial à causa da independência. Sua memória persiste como símbolo de inteligência política, força moral e sacrifício pessoal. A rainha estrategista foi também a mulher que, mesmo ferida pela solidão, escolheu servir a um país em transformação.

Referências Bibliográficas

CALMON, Pedro. História de D. Pedro I. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.

DEL PRIORE, Mary. O Império da carne: a construção do corpo e da sexualidade no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2016.

KOCH, Glaucia; SANTOS, Ana Lúcia Machado; ROCHA, Lígia Regina da. Dona Leopoldina: uma Habsburgo e a Independência do Brasil. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SOUSA, Octávio Tarquínio de. A vida de D. Pedro I. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972.

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Banco Central regulamenta o mercado de ativos virtuais e define regras para novas instituições financeiras digitais

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O Banco Central do Brasil (BCB) publicou nesta segunda-feira (10) três resoluções que marcam uma nova etapa da regulação do mercado de ativos virtuais no país. As normas — Resoluções BCB nº 519, 520 e 521 — estabelecem parâmetros para autorização de prestadores de serviços, funcionamento de instituições específicas do setor e integração das transações virtuais ao sistema de câmbio e capitais internacionais.

As medidas resultam de consultas públicas realizadas entre 2023 e 2024, que reuniram contribuições de empresas do mercado de criptoativos, associações, escritórios jurídicos e entidades estrangeiras. O objetivo é trazer segurança jurídica, transparência e alinhamento às melhores práticas internacionais na negociação e custódia de ativos digitais.

Estrutura e funcionamento das SPSAVs

A Resolução BCB nº 519 define a criação das Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (SPSAVs), que poderão atuar em três categorias: intermediárias, custodiante e corretoras. Essas instituições estarão sujeitas às regras já aplicáveis a outras entidades supervisionadas pelo Banco Central, abrangendo temas como governança corporativa, prevenção à lavagem de dinheiro, segurança cibernética e transparência nas relações com clientes.

A norma também determina que apenas instituições financeiras autorizadas ou SPSAVs especialmente constituídas poderão oferecer tais serviços no país. A Resolução entra em vigor em 2 de fevereiro de 2026.

Regras de autorização e transição

A Resolução BCB nº 520 regulamenta o processo de autorização de funcionamento das SPSAVs, além de atualizar procedimentos para segmentos já supervisionados, como corretoras de câmbio e distribuidoras de títulos. O texto prevê regras gerais para o credenciamento, assegurando uma transição gradual e controlada para o novo modelo regulatório, além de prazos específicos para que empresas que já operam com ativos virtuais se adequem às novas exigências.

Assim como a Resolução anterior, esta também passa a valer a partir de 2 de fevereiro de 2026.

Ativos virtuais no câmbio e capitais internacionais

A Resolução BCB nº 521 amplia o enquadramento regulatório dos ativos virtuais em operações de câmbio e capitais estrangeiros, introduzindo regras inéditas para transações internacionais com criptoativos. Entre as atividades que passam a ser consideradas operações de câmbio estão: pagamentos e transferências internacionais com ativos virtuais, trocas em moeda fiduciária e movimentações envolvendo carteiras autocustodiadas.

As SPSAVs e demais instituições autorizadas poderão atuar nesse mercado, desde que observem limites financeiros compatíveis com as regras de câmbio tradicionais. As transações internacionais realizadas com ativos virtuais ficam limitadas a US$ 100 mil quando envolverem contraparte não autorizada a operar no mercado cambial.

Além disso, o Banco Central incluiu normas para o uso de ativos virtuais em operações de crédito externo e investimento estrangeiro direto, com foco em aumentar a eficiência operacional e evitar arbitragens regulatórias. A obrigatoriedade de prestação de informações sobre essas operações passa a vigorar em 4 de maio de 2026.

Com esse novo arcabouço normativo, o Banco Central dá um passo significativo na consolidação do ecossistema financeiro digital brasileiro, buscando equilibrar inovação tecnológica, integridade do sistema e proteção do consumidor.

Boletim Focus Mantém Estabilidade nas Projeções Econômicas e Reforça Cautela do Mercado

Foto: Agência Brasil
O mais recente Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (10), manteve estáveis as expectativas do mercado financeiro para os principais indicadores da economia brasileira. As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB), inflação e taxa Selic não sofreram alterações, refletindo um cenário de cautela diante das incertezas externas e da política monetária dos Estados Unidos.

PIB Deve Crescer 2,16% em 2025

De acordo com o levantamento, o mercado prevê crescimento de 2,16% para o PIB em 2025, mesma taxa estimada nas últimas semanas. Para os anos seguintes, as projeções indicam leve desaceleração: 1,78% em 2026, 1,88% em 2027 e 2% em 2028.

Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a economia brasileira cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2025, impulsionada pelos setores de serviços e indústria. No acumulado dos quatro trimestres anteriores, o avanço foi de 3,2%.
O governo federal, por sua vez, trabalha com uma estimativa um pouco mais otimista, projetando alta de 2,5% para o PIB deste ano.

Inflação Segue Acima do Teto da Meta

A expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — a inflação oficial — permaneceu em 4,55% em 2025, acima do teto da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 4,5%. A meta central, de 3%, permite variação de até 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Nos últimos 12 meses, o IPCA acumulou alta de 5,17%, influenciada principalmente pelo aumento da energia elétrica em setembro, quando o índice avançou 0,48%. Para os próximos anos, o mercado espera desaceleração gradual da inflação: 4,2% em 2026, 3,8% em 2027 e 3,5% em 2028.

Selic Deve Permanecer em 15% Até o Fim do Ano

Com o objetivo de conter as pressões inflacionárias, o Banco Central mantém a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano — patamar que deve ser preservado até o final de 2025.
Os analistas esperam que o ciclo de redução dos juros comece a partir de 2026, quando a Selic deve cair para 12,25%, seguida por 10,5% em 2027 e 10% em 2028.

O BC justifica o nível elevado dos juros pela persistência da inflação acima do centro da meta, apesar dos sinais de desaceleração da atividade econômica.

Dólar e Ambiente Externo Mantêm Pressão

A expectativa para o câmbio também se manteve estável. O mercado projeta o dólar a R$ 5,41 no final de 2025 e R$ 5,50 em 2026.
O Banco Central reforça que as decisões de política monetária nos Estados Unidos continuam influenciando o cenário brasileiro, especialmente por meio do impacto sobre as condições financeiras globais e o fluxo de capitais.

Mercado Reage com Cautela e Foco no Controle da Inflação

O panorama apresentado pelo Focus indica que o Banco Central deve adotar uma postura conservadora nos próximos meses, mantendo juros altos por mais tempo para garantir o controle da inflação.
Essa política, no entanto, preocupa o setor produtivo, que teme desaceleração da economia e encarecimento do crédito — fatores que podem desestimular investimentos e consumo.

Referências

AGÊNCIA BRASIL. Estimativas do mercado para inflação e PIB permanecem estáveis. Brasília, 2025. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-11/estimativas-do-mercado-para-inflacao-e-pib-permanecem-estaveis. Acesso em: 10 nov. 2025.

CNN BRASIL. Focus: Mercado mantém projeções para taxa Selic e inflação. São Paulo, 2025. Disponível em: https://cnnbrasil.com.br/economia/focus-mercado-mantem-projecoes-para-taxa-selic-e-inflacao/. Acesso em: 10 nov. 2025.

CORREIO BRAZILIENSE. Mercado mantém expectativa de inflação para acima do teto da meta em 2025. Brasília, 2025. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2025/11/7289122-mercado-mantem-expectativa-de-inflacao-para-acima-do-teto-da-meta-em-2025.html. Acesso em: 10 nov. 2025.

EXAME. Boletim Focus: Mercado mantém expectativa do IPCA em 2025, 2026, 2027 e 2028. São Paulo, 2025. Disponível em: https://exame.com/economia/boletim-focus-mercado-mantem-expectativa-do-ipca-em-2025-2026-2027-e-2028/. Acesso em: 10 nov. 2025.

IBGE. PIB varia 0,4% no segundo trimestre de 2025. Rio de Janeiro, 2025. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/economia/pib-varia-04-no-segundo-trimestre-de-2025. Acesso em: 10 nov. 2025.

INFOMONEY. Boletim Focus: inflação esperada para 2025 para de cair e fica em 4,55%. São Paulo, 2025. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/economia/boletim-focus-inflacao-esperada-para-2025-para-de-cair-e-fica-em-455/. Acesso em: 10 nov. 2025.

VEJA. Mercado mantém projeção de inflação acima do teto da meta. São Paulo, 2025. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/mercado-mantem-projecao-de-inflacao-acima-do-teto-da-meta. Acesso em: 10 nov. 2025.

O Eco de 1930: Uma Imersão na Revolução que Moldou o Brasil

Um Marco na História Brasileira

O livro “1930: Águas da Revolução”, de Juremir Machado da Silva, é muito mais que uma obra histórica. Ele é uma viagem intensa pelas águas revoltas que moldaram o Brasil moderno. Com uma narrativa envolvente e uma análise profunda, o autor revisita a Revolução de 1930, evento que redesenhou as estruturas políticas e sociais do país e marcou o início da era Getúlio Vargas.

A Revolução de 1930: Quando o Brasil Mudou de Rumo

A obra mergulha nas origens do movimento revolucionário que encerrou a chamada Política do Café com Leite, responsável por alternar o poder entre as elites de São Paulo e Minas Gerais. Em meio a esse cenário de insatisfação, Juremir Machado da Silva revela o nascimento de uma nova consciência nacional.
O autor descreve um Brasil em ebulição, com reformas militares, tensões sociais e um clamor popular por renovação. O resultado foi o levante que levou Getúlio Vargas ao poder, inaugurando um novo ciclo político.

Os Protagonistas da Mudança

A força do livro está na forma como o autor retrata os personagens históricos. Getúlio Vargas aparece não apenas como líder, mas como um estrategista habilidoso, guiado por ambição e visão.
Outras figuras ganham destaque, como João Neves da Fontoura, articulador essencial da Aliança Liberal, e os tenentes, jovens militares reformistas que lutaram por um Brasil mais justo.
A narrativa vai além dos nomes: ela apresenta as alianças, traições e ideais que transformaram o país e expõe as complexas relações de poder da época.

Entre o Poder, a Amizade e a Traição

O autor vai fundo nas motivações humanas por trás dos eventos. Ele mostra como amizade, lealdade e traição caminharam lado a lado durante a revolução.
A busca pelo poder político revelou o melhor e o pior dos homens. As tensões entre ideais e interesses particulares criaram rupturas e alianças improváveis.
Essa dimensão emocional torna a obra mais do que um registro histórico — é um retrato vívido da natureza humana diante da mudança.

O Contexto Histórico e o Brasil em Transformação

Com precisão, Juremir Machado da Silva contextualiza a revolução dentro de uma conjuntura global.
O Brasil dos anos 1920 enfrentava crises econômicas, desigualdade social e descontentamento político. A Crise de 1929 agravou esse cenário, abalando o modelo agroexportador e acelerando o colapso das oligarquias.
O autor também destaca o papel da Coluna Prestes, símbolo da resistência e da esperança em um país novo, e a influência do Tenentismo, que questionava o atraso político e clamava por modernização.

Estilo e Linguagem: A História como Reportagem Viva

Um dos grandes méritos da obra é seu estilo narrativo. A escrita de Juremir é clara, fluida e repleta de ritmo. Ele combina rigor histórico com uma linguagem acessível, criando uma leitura envolvente, capaz de transformar fatos em emoção.
Seu texto tem a força de uma grande reportagem. Cada capítulo revela o entrelaçamento entre os bastidores do poder e as ruas fervilhantes de um país à beira da transformação.
Essa abordagem torna o livro ideal tanto para acadêmicos quanto para leitores curiosos que buscam compreender o Brasil sob uma nova perspectiva.

Para Quem é Indicado

“1930: Águas da Revolução” é leitura indispensável para professores, estudantes, jornalistas e cientistas políticos. Também é indicado para todos que desejam entender as origens da modernização brasileira e a gênese do populismo nacional.
O livro é um convite a refletir sobre as contradições sociais e os dilemas de poder que ainda ecoam em nossa política contemporânea.

Conclusão: Um Espelho do Passado para o Presente

Mais do que revisitar o passado, Juremir Machado da Silva nos leva a refletir sobre o presente.
“1930: Águas da Revolução” é uma obra que inspira, questiona e esclarece. Mostra que as revoluções não acontecem apenas nas ruas, mas também nas ideias.
Ler este livro é compreender as raízes de um Brasil que ainda busca equilíbrio entre tradição e mudança.

 

Se você deseja mergulhar nessa jornada e entender como 1930 moldou o destino do país, adquira seu exemplar de “1930: Águas da Revolução” pela Amazon e descubra a história que transformou o Brasil.


Anos 1960–1980: Reformulações e Proteção Social Ampliada

Imagem desenvolvida por IA
O período entre 1960 e 1980 foi um dos mais complexos e contraditórios para o direito do trabalho e a proteção social no Brasil. Sob a égide do regime militar (1964-1985), o país vivenciou um projeto de modernização autoritária e desenvolvimentista que impactou diretamente as relações de capital e trabalho. Se, por um lado, houve a supressão da autonomia sindical e a flexibilização de direitos consolidados, por outro, o Estado expandiu seu aparato burocrático para criar e unificar novos mecanismos de proteção social, embora sob uma lógica centralizadora e controladora.

A Substituição da Estabilidade Decenal pelo FGTS

A mudança mais emblemática do período foi, sem dúvida, o fim da estabilidade decenal. Instituída na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de 1943, a estabilidade garantia ao empregado, após dez anos de serviço na mesma empresa, o direito de não ser dispensado, salvo por falta grave ou força maior. Esse mecanismo, embora protegesse o trabalhador antigo, era visto pelo governo e pelo setor empresarial como um entrave à flexibilidade da mão de obra e um desestímulo à contratação formal.

Para substituí-la, a Lei nº 5.107/1966 criou o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O novo regime, inicialmente opcional, transformou a lógica da rescisão contratual. Em vez da segurança no emprego, o trabalhador passou a ter uma garantia patrimonial. O FGTS consistia em depósitos mensais feitos pelo empregador em uma conta vinculada ao empregado, correspondentes a uma porcentagem de seu salário. Em caso de demissão sem justa causa, o trabalhador poderia sacar o saldo acumulado, acrescido de uma multa rescisória.

Essa transição serviu a um duplo propósito no projeto desenvolvimentista:

  1. Flexibilizou o Mercado de Trabalho: Facilitou a demissão de trabalhadores, permitindo que as empresas ajustassem seus quadros com maior agilidade para responder às demandas de um ciclo econômico de rápida industrialização e grandes obras de infraestrutura.
  2. Financiou o Desenvolvimento Urbano: Os recursos do FGTS foram direcionados para o Banco Nacional da Habitação (BNH), financiando a construção de moradias e projetos de saneamento básico, peças-chave do "Milagre Econômico".

Posteriormente, o regime do FGTS foi universalizado e consolidado pela Lei nº 8.036/1990, tornando-se o sistema geral de desligamento no país.

Constituição de 1967 e o Foco Desenvolvimentista

A Constituição de 1967, outorgada pelo regime militar e aprofundada pela Emenda Constitucional nº 1, de 1969, deu o arcabouço jurídico para esse modelo. Em matéria trabalhista, ela manteve a estrutura corporativista herdada da Era Vargas — com o sindicato único por categoria e o imposto sindical —, mas esvaziou seu poder político. O direito de greve foi severamente limitado, e as lideranças sindicais foram submetidas a um forte controle estatal. O foco não era a negociação autônoma entre patrões e empregados, mas o alinhamento das relações de trabalho aos objetivos de crescimento econômico definidos pelo governo central.

Consolidação de Benefícios e a Segurança e Medicina do Trabalho

Paradoxalmente, foi nesse período de restrição política que o aparato de proteção social estatal se expandiu tecnicamente. O Estado buscou unificar e racionalizar benefícios. Um marco foi a criação do Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) em 1966, que unificou os antigos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs).

No final dos anos 1970, a preocupação com as altas taxas de acidentes de trabalho, resultantes da industrialização acelerada, levou a uma importante reforma na CLT. A Lei nº 6.514, de 1977, alterou o capítulo sobre segurança e medicina do trabalho, e a Portaria nº 3.214, de 1978, aprovou as Normas Regulamentadoras (NRs). Essas normas estabeleceram, pela primeira vez, um conjunto detalhado e abrangente de padrões obrigatórios para a proteção da saúde e da integridade física dos trabalhadores em diversos setores, como o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), a constituição da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e a definição de atividades insalubres e perigosas.

Expansão da Justiça do Trabalho e do Contencioso

A crescente complexidade das leis trabalhistas e o aumento do número de trabalhadores urbanos formalizados resultaram em uma maior judicialização dos conflitos. A Justiça do Trabalho expandiu sua estrutura para dar conta da crescente demanda por resolução de litígios individuais (reclamações trabalhistas) e coletivos (dissídios), embora estes últimos estivessem sob forte tutela do Estado. A própria criação do FGTS gerou um vasto contencioso sobre depósitos, saques e correções monetárias.

Em suma, os anos 1960 a 1980 redesenharam o cenário trabalhista brasileiro, substituindo um modelo de estabilidade por um de flexibilidade compensada, ao mesmo tempo em que o Estado, de forma autoritária e tecnocrática, ampliava seu papel como regulador da segurança no trabalho e gestor da previdência social.

Referências Bibliográficas

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 19ª ed. São Paulo: LTr, 2020. (Capítulos sobre história do direito do trabalho e FGTS).

ROMITA, Arion Sayão. Direitos Fundamentais nas Relações de Trabalho. 4ª ed. São Paulo: LTr, 2011.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 14ª ed. São Paulo: Edusp, 2012. (Contextualização do período do regime militar e o "Milagre Econômico").

VIANNA, Luiz Werneck. Liberalismo e Sindicato no Brasil. 4ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. (Análise sobre a estrutura sindical e as políticas trabalhistas).

GOMES, Angela de Castro; D'ARAÚJO, Maria Celina (Orgs.). Getulismo e Trabalhismo: tensões e dimensões. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2015. (Contém análises sobre a longa duração das estruturas trabalhistas no Brasil).