Laurentino reconstrói os acontecimentos de forma cronológica e didática, desde
a fuga dramática da família real em Lisboa até o impacto profundo que essa
mudança teve na estrutura social, econômica e política do Brasil. Com uma
linguagem acessível e capítulos curtos, o autor atrai tanto leitores iniciantes
quanto estudiosos curiosos sobre esse momento-chave da história
luso-brasileira.
Um aspecto importante abordado pelo autor é o cotidiano da sociedade colonial,
incluindo a vida dos escravizados. Apesar da condição brutal e desumana em que
viviam, Laurentino aponta que, por convenções e costumes locais, os escravos
geralmente tinham o domingo como dia de folga — o que permitia, por exemplo, o
comércio de quitutes nas ruas, a participação em irmandades religiosas negras e
até mesmo uma incipiente forma de organização comunitária. No entanto, o autor
não romantiza essa realidade e deixa claro que esse "direito" não era
uma regra fixa, mas uma concessão variável segundo o senhor de escravos e o
contexto da época.
O papel da família imperial, especialmente de D. João VI, é amplamente
discutido ao longo da obra. A chegada da corte ao Brasil, com cerca de 15 mil
pessoas, transformou o Rio de Janeiro em uma cidade com funções de capital de
um império ultramarino. Uma das decisões mais estratégicas de D. João foi a
abertura dos portos às nações amigas, em 1808, medida que rompeu com o antigo
pacto colonial e lançou as bases do capitalismo comercial no Brasil. Ao mesmo
tempo, o rei alimentava um projeto ambicioso: transformar o Brasil na nova sede
do Império Português, criando o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, com
capital no Rio de Janeiro.
Esse projeto não apenas elevou o status político do Brasil, como também
possibilitou a vinda de missões artísticas, a criação de instituições públicas
(como o Banco do Brasil, a Imprensa Régia e a Biblioteca Real) e o incentivo à
educação e cultura. No entanto, Laurentino não deixa de criticar a estrutura de
privilégios da corte e o caráter improvisado das reformas, mostrando como
muitos avanços foram feitos sob pressão ou em resposta a ameaças externas.
Conclusão
1808 é mais do que um relato sobre a fuga da corte portuguesa — é uma análise
instigante de como um evento forçado pela guerra acabou tendo consequências
profundas na história do Brasil. A obra mostra que, apesar de marcada por
desigualdades, a chegada da família real abriu caminhos para a formação do
Estado brasileiro, mesmo que ainda sob o peso da escravidão e dos interesses da
elite colonial. Leitura essencial para compreender as raízes políticas e
sociais do país.
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