As Forças por Trás da Mudança de Regime
A obra se aprofunda nos múltiplos fatores que levaram ao
colapso da Monarquia. O autor argumenta que a República foi mais resultado do
"esgotamento da Monarquia do que do vigor dos ideais e da campanha
republicanos" (Introdução).
1. O Imperador Cansado e a Miragem do Império: O Capítulo
5, "Dom Pedro II", e o Capítulo 14, "O Imperador
Cansado", oferecem um retrato de um monarca culto e dedicado, mas
fragilizado pela idade e pela doença. Sua apatia diante das conspirações
iminentes e sua crença ingênua de que "isso não vai dar em nada"
contribuíram para a inércia do governo. O Capítulo 4, "A Miragem",
discute a contradição entre a imagem idealizada de um "Império
tropical" civilizado e europeizado e a realidade de um país agrário,
escravocrata, analfabeto e profundamente desigual. As leis e rituais do
Império, muitas vezes importados, não se alinhavam à realidade nacional, o que
gerava uma instabilidade latente. A Monarquia, vista como um "gigante de
pés de barro" (Introdução), não conseguia mais sustentar essa
fachada.
2. A Questão Militar e o Ascenso do Positivismo:
Laurentino Gomes dedica capítulos cruciais, como o Capítulo 8, "A
Mocidade Militar", e o Capítulo 9, "A Chama nos Quartéis",
à "Questão Militar". Esta série de conflitos entre o Exército e o
governo imperial expôs a fragilidade da autoridade monárquica sobre os
quartéis. O autor explora como o sentimento de "desprestígio" e
"mal-recompensa" entre os militares, muitos deles veteranos da Guerra
do Paraguai, criou um terreno fértil para a insubordinação. Nesse contexto, o
positivismo de Auguste Comte, trazido por figuras como o "professor"
e tenente-coronel Benjamin Constant (analisado em profundidade no Capítulo
11), ofereceu uma nova ideologia para a "mocidade militar". A
busca por "ordem e progresso", a ideia de uma ditadura republicana
liderada por uma elite esclarecida, e o desprezo pelas "becas"
(civis) foram pilares que moldaram a mentalidade golpista.
3. Os Republicanos Civis e a Ação dos Abolicionistas:
O Capítulo 7, "Os Republicanos", revela a diversidade e as
contradições do movimento republicano civil. De radicais como Antônio da Silva
Jardim, que pregava a execução da família imperial, a moderados que esperavam a
morte de Dom Pedro II, a falta de unidade e a fraqueza eleitoral dos
republicanos civis são evidentes. Eles, no entanto, souberam usar a imprensa e
a retórica para instigar os militares. O Capítulo 12, "Os
Abolicionistas", e o Capítulo 13, "A Redentora",
destacam o papel crucial da abolição da escravatura. A Lei Áurea, assinada pela
Princesa Isabel, embora popular entre a massa, alienou a poderosa aristocracia
rural, especialmente os barões do café, que se sentiram traídos e migraram em
massa para a causa republicana. A imagem da "Redentora", apesar de
honrosa para Isabel, também a tornou um alvo das críticas republicanas, que a
viam como excessivamente religiosa e submissa ao marido, o Conde d'Eu.
Os Protagonistas e o Momento do Golpe
Laurentino Gomes humaniza os personagens centrais,
desmistificando-os. O "marechal vaidoso", Deodoro da Fonseca (Capítulo
10), é retratado em sua relutância inicial em derrubar a Monarquia, sua
saúde debilitada e sua eventual adesão à República mais por ressentimento
pessoal contra o governo imperial – especialmente a indicação de Gaspar
Silveira Martins – do que por convicção ideológica. A cena em que Deodoro, em
seu leito de doente, é convencido a liderar o golpe, revela a fragilidade do
processo.
O autor também narra com detalhes o famoso Baile da Ilha
Fiscal (Capítulo 15), um evento de grande simbolismo. Essa última grande
festa da Monarquia, com sua opulência e despreocupação, serviu como cenário
irônico para a conspiração militar que se desenrolava simultaneamente. A
desorganização e a superficialidade da corte, contrastando com a determinação
dos conspiradores, são ressaltadas.
O Capítulo 16, "A Queda", descreve a falta
de resistência por parte do governo imperial, a incredulidade de Dom Pedro II e
a rapidez com que o poder foi tomado. O Brasil, de repente, encontrou-se em um
vácuo político, sem monarquia e ainda sem uma República consolidada. O Capítulo
17, "O Adeus", relata a melancólica partida da família imperial
para o exílio, um momento de dignidade e tristeza que encerrou um capítulo de
quase sete décadas da história brasileira.
O Início Turbulento e as Marcas Duradouras
Os Capítulos 19 ("Ordem e Progresso") e 20
("O Difícil Começo") mostram os esforços do novo regime para
consolidar-se e criar uma nova identidade nacional, rebatizando ruas e heróis,
elevando Tiradentes à condição de mártir republicano. No entanto, o otimismo
inicial deu lugar a um período de grande instabilidade. O
"Encilhamento" (Capítulo 21), uma bolha especulativa fomentada
pelas políticas financeiras de Rui Barbosa, causou caos econômico e inflação,
expondo a ingenuidade dos novos líderes.
O "Marechal de Ferro", Floriano Peixoto (Capítulo
22), emerge como a figura central da consolidação republicana. Sua postura
autoritária, sua perseguição implacável a opositores e a violência das guerras
civis (como a Revolução Federalista, detalhada no Capítulo 23, "Paixão
e Morte", com suas brutais "degolas") revelam o alto preço
pago pela estabilização do regime. A "República da Espada" impôs a
ordem à força, distanciando-se do ideal democrático e popular.
Finalmente, o Capítulo 24, "O Desafio",
aborda a transição para o governo civil com Prudente de Morais. A obra conclui
que, apesar das promessas e do ideal de uma República inclusiva, o regime
consolidado na "República Velha" manteve muitas das características
oligárquicas e excludentes do Império, apenas mudando os nomes dos atores. A
"política dos governadores" e o "coronelismo" perpetuaram
um sistema de poder concentrado e distante do povo. Laurentino Gomes deixa o
leitor com a reflexão de que a verdadeira "República do povo" só
começaria a tomar forma muito tempo depois, com movimentos como as
"Diretas Já", um desafio que os brasileiros ainda enfrentam.
Considerações Finais
"1889" é uma obra-prima de narrativa histórica.
Laurentino Gomes demonstra maestria em tecer uma tapeçaria rica em detalhes,
utilizando uma vasta gama de fontes primárias e secundárias, muitas das quais
são referenciadas na sua extensa bibliografia (com citações de 300 a 402
no seu material). Sua capacidade de apresentar múltiplas perspectivas,
desconstruir mitos e expor as complexidades e contradições do período torna a
leitura instigante. O estilo jornalístico, com anedotas e descrições vívidas,
cativa o leitor sem comprometer a profundidade da análise.
Para quem busca expandir seus conhecimentos e ter acesso a
análises aprofundadas sobre a história do Brasil, a leitura de "1889"
é especialmente valiosa. Ela oferece uma perspectiva aprofundada sobre as
raízes de nossa formação, abordando temas que ressoam diretamente com o cenário
político e social atual. A obra é um convite à reflexão crítica sobre o passado
para melhor compreender o presente e, talvez, vislumbrar caminhos para um
futuro mais equitativo. É uma jornada histórica que vale a pena ser empreendida.
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