Radio Evangélica

sábado, 19 de julho de 2025

A Fundação de Roma: Entre Lendas, Descobertas e o Sangue que Moldou um Império

A história de Roma é, por si só, um épico. Mas a sua origem, envolta em um fascinante véu de mitos e descobertas arqueológicas, é um dos capítulos mais intrigantes. Como a pequena vila às margens do rio Tibre se tornou a capital de um dos maiores impérios da Antiguidade? Vamos mergulhar nessa jornada!

O Conto que Conhecemos: Rômulo, Remo e a Loba Lendária

Qualquer conversa sobre a fundação de Roma invariavelmente começa com eles: Rômulo e Remo. Filhos de Reia Sílvia e do deus da guerra Marte, os gêmeos foram abandonados no rio Tibre, resgatados e amamentados por uma loba (a famosa lupa) e criados por um pastor.

Ao crescerem, eles não só recuperaram o trono de seu avô, Numitor, mas também decidiram fundar uma nova cidade. Onde? A decisão gerou uma briga. Quem lideraria? A discórdia culminou na morte de Remo pelas mãos de Rômulo, que se tornou o primeiro rei e deu nome à cidade: Roma.

O ano? A tradição aponta para 21 de abril de 753 a.C., uma data estabelecida séculos depois pelo erudito romano Varrão. Mas, por trás da grandiosidade do mito, há um significado profundo. O fratricídio, a violência fundadora e a origem semidivina refletem a coragem, a força militar e a brutalidade inerente à construção do poder romano.

Desvendando o Passado: O Que a Arqueologia Nos Diz?

Apesar da beleza da lenda, a ciência nos convida a olhar além. As escavações arqueológicas contam uma história diferente, porém não menos rica. Elas revelam que o local onde Roma surgiu já era habitado por comunidades agrícolas desde o século X a.C.

No Palatino, uma das famosas sete colinas de Roma, foram encontrados vestígios de cabanas, sepultamentos e muralhas que datam de antes do século VIII a.C. Isso sugere que Roma não nasceu de um único ato, mas sim da gradual fusão de pequenas aldeias latinas e sabinas que se estabeleceram nas colinas férteis e estrategicamente localizadas às margens do Tibre. A posição, com fácil acesso ao mar e a um ponto de travessia do rio, era ideal para o comércio e a defesa.

Mais Que História: Um Poderoso Instrumento Político

A narrativa da fundação de Roma não era apenas um conto para dormir; era uma poderosa ferramenta ideológica. Ela servia para:

  • Justificar a supremacia de Roma na península Itálica e no mundo conhecido.
  • Reforçar a ideia de uma origem nobre e quase divina para a cidade.
  • Legitimar o poder de seus líderes, associando-os aos fundadores lendários.

Imperadores, como Augusto, souberam usar o mito a seu favor. Ele não só restaurou o Lupercal (a gruta da loba) como também reforçou sua própria linhagem a Enéias, o herói troiano da Eneida de Virgílio. Essa conexão com Troia não só engrandecia a origem de Roma, mas também a ligava a uma tradição heroica e a um destino "manifesto" de dominar o mundo.

O Legado Duradouro de um Mito

A fundação de Roma é um exemplo brilhante de como mito, religião e política se entrelaçam. Rômulo e Remo podem não ter sido figuras históricas, mas suas histórias moldaram a identidade de um império que dominaria o Mediterrâneo por séculos. A capacidade de Roma de assimilar e adaptar diferentes tradições, incluindo as lendárias, foi crucial para sua longevidade e imensa influência cultural.

Afinal, a história da origem de Roma é, ao mesmo tempo, um símbolo de seu poder inabalável e um espelho da fascinante mentalidade romana.

Referências Bibliográficas

  • CARANDINI, Andrea. Roma: Il primo giorno. Torino: Einaudi, 2007.
  • GRANT, Michael. The History of Rome. London: Faber & Faber, 1993.
  • LÍVIO, Tito. Ab Urbe Condita – Desde a Fundação da Cidade. São Paulo: Editora Odysseus, 2004.
  • MOMMSEN, Theodor. História de Roma. Brasília: Editora UnB, 1995.
  • PLUTARCO. Vidas Paralelas: Rômulo. Lisboa: Gulbenkian, 2006.
  • VIRGÍLIO. Eneida. São Paulo: Ed. 34, 2000.

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