A História por Trás das Cores e do Triângulo
Para entender a bandeira de Minas, precisamos voltar a 1789.
Naquela época, o Brasil era colônia de Portugal, e a região de Minas Gerais,
rica em ouro e diamantes, sofria com a pesada cobrança de impostos da Coroa,
especialmente a "derrama", que exigia o pagamento de impostos
atrasados sob pena de confisco de bens. Foi nesse contexto de opressão que
surgiu a Inconfidência Mineira, um movimento de caráter separatista e
republicano liderado por intelectuais, militares, poetas e religiosos, entre
eles o mais famoso, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Os inconfidentes sonhavam com uma república independente e,
para isso, conceberam uma bandeira que representasse seus ideais. A proposta
original, atribuída a nomes como Cláudio Manuel da Costa ou Alvarenga Peixoto,
era um pavilhão com um triângulo verde sobre um fundo branco. No entanto, por
sugestão de Joaquim Silvério dos Reis, que mais tarde trairia o
movimento, as cores foram alteradas para o vermelho e branco, com o
triângulo em vermelho. O vermelho simbolizava a revolução, a luta, e o branco,
a paz e a pureza dos ideais (Martins, 1999, p. 78).
A ideia do triângulo, por sua vez, carrega múltiplos
significados. É frequentemente associado à Santíssima Trindade (Pai, Filho e
Espírito Santo), mas também pode representar as três cores primárias ou, ainda,
os três poderes que deveriam reger a futura república: Legislativo, Executivo e
Judiciário (Couto, 2011, p. 45). Outra interpretação é a das serras de Minas,
que formam picos triangulares no horizonte.
"Libertas Quae Sera Tamen": O Lema da Liberdade
No centro do triângulo, a bandeira ostenta a inscrição em
latim "Libertas Quae Sera Tamen". Essa frase, que significa "Liberdade
Ainda Que Tardia", é o verdadeiro coração da bandeira mineira e um dos
lemas mais inspiradores da história brasileira. Ela expressa o desejo ardente
dos inconfidentes por autonomia e a convicção de que, mesmo que a liberdade
demorasse a chegar, ela seria conquistada.
Curiosamente, a origem exata dessa frase é incerta, mas
muitos historiadores a atribuem ao poeta Virgílio, na sua obra Éclogas,
embora com um sentido ligeiramente diferente. A adaptação e o uso pelos
inconfidentes, no entanto, deram-lhe um novo significado de urgência e
esperança revolucionária (Silva, 2008, p. 112).
Apesar de o movimento ter sido sufocado e seus líderes
severamente punidos – Tiradentes foi enforcado e esquartejado –, o ideal de
liberdade permaneceu vivo. A bandeira, que não chegou a ser hasteada
oficialmente na época da Inconfidência, tornou-se um símbolo clandestino de
resistência.
A Oficialização e o Legado
Foi apenas muito tempo depois, em 14 de novembro de 1889,
logo após a Proclamação da República, que o governo provisório de Minas Gerais,
liderado por João Pinheiro da Silva, reconheceu oficialmente a importância
histórica e o significado da bandeira dos inconfidentes. Pelo Decreto nº 1,
ela foi adotada como a bandeira do estado de Minas Gerais, um ato que
finalmente concretizou, simbolicamente, o ideal de liberdade daqueles que
lutaram e morreram por ela (Minas Gerais, 1889).
Hoje, a bandeira de Minas Gerais é um lembrete constante da
coragem de um povo que não se calou diante da opressão. Ela representa não só a
busca pela liberdade, mas também a resiliência e a identidade mineira, que
valoriza suas raízes históricas e o legado de luta por um futuro mais justo. Ao
olhar para o branco da paz e o vermelho da coragem, com o triângulo apontando
para o futuro e o lema ecoando a promessa de liberdade, somos convidados a
refletir sobre os sacrifícios feitos e os ideais que ainda nos guiam.
Referências Bibliográficas
- Couto,
R. J. (2011). Símbolos do Brasil. Nova Alexandria.
- Martins,
H. (1999). A Inconfidência Mineira: Uma Nova Abordagem. Editora
UFMG.
- Minas
Gerais. (1889). Decreto nº 1, de 14 de novembro de 1889.
(Disponível em arquivos históricos do Estado de Minas Gerais).
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