Francisco do Monte Alverne (1784–1858),
conhecido popularmente como Padre Perereca, foi um dos mais notáveis pensadores
brasileiros da primeira metade do século XIX. Frade franciscano, orador sacro,
teólogo e filósofo, Monte Alverne teve papel fundamental no debate entre a
escolástica e o pensamento moderno no Brasil, representando uma ponte entre a
tradição religiosa e a filosofia ilustrada.
Nascido na então cidade de Rio de Janeiro, no ano de 1784, Monte Alverne
ingressou muito jovem na Ordem dos Frades Menores (franciscanos). Recebeu
sólida formação religiosa e filosófica, destacando-se ainda como exímio
pregador. Foi ordenado padre e logo ganhou notoriedade por seus sermões
eloquentes e cheios de erudição, o que lhe rendeu o apelido de "Padre Perereca"
— termo usado com certa irreverência devido à sua pequena estatura e movimentos
ágeis no púlpito.
Atuação Intelectual e Política
Monte Alverne foi um dos maiores defensores
do iluminismo católico no Brasil, buscando conciliar a fé com a razão. Em um
período de transição entre o Brasil colônia e o Império, suas ideias ganharam
relevância, sobretudo ao abordar a necessidade de reformas no ensino e no
pensamento filosófico nacional.
Seu livro mais importante, Compêndio de Filosofia, publicado em 1859, após sua
morte, representa uma tentativa de atualizar os estudos filosóficos no Brasil,
abandonando o aristotelismo escolástico e adotando o ecletismo espiritualista
francês, influenciado por pensadores como Victor Cousin. O Compêndio teve papel
relevante na difusão de uma nova mentalidade no país, especialmente entre os
jovens intelectuais da época.
Monte Alverne também se opôs firmemente ao empirismo de John Locke e ao
materialismo, que considerava incompatíveis com os princípios cristãos. Ao
mesmo tempo, defendia a racionalidade como instrumento legítimo para a
compreensão da fé, o que o tornava um representante do racionalismo moderado
católico.
O Orador do Império
Além de filósofo, Padre Perereca era tido
como um dos maiores oradores do Brasil Império. Pregou sermões memoráveis,
inclusive na presença da família imperial. Seu estilo eloquente, aliado à
profunda erudição, o transformou em uma referência no púlpito e fora dele. Foi
também confessor da família real, o que o colocou em uma posição de prestígio
político e religioso.
Legado e Reconhecimento
Embora menos lembrado no debate público
atual, Francisco do Monte Alverne foi uma figura decisiva na construção do
pensamento filosófico e religioso brasileiro no século XIX. Sua obra representa
um momento de inflexão entre a tradição colonial e as influências modernas que
chegavam da Europa.
Além disso, ele abriu caminhos para a secularização parcial do pensamento
filosófico no país, influenciando nomes como Tobias Barreto e Silvio Romero,
que, mesmo discordando de Monte Alverne, o reconheceram como precursor do
pensamento filosófico brasileiro.
Referências Bibliográficas
- MONTE ALVERNE, Francisco do. Compêndio de
Filosofia. Rio de Janeiro: Typographia Universal Laemmert, 1859.
- CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
- CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade Temporã. São Paulo: Cortez, 1980.
- CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: o Imaginário da República no
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
- HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
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