A Tributação como Pilar do Poder
O motor da economia imperial era um vasto sistema de
tributação. As cidades-estado conquistadas (altepetl) eram obrigadas a
pagar tributos regulares a Tenochtitlan, a capital do império. Esses pagamentos
não eram feitos em moeda, mas em produtos que refletiam a especialização
econômica de cada região: milho, feijão, plumas de aves exóticas, ouro, pedras
preciosas, tecidos de algodão e até mesmo guerreiros para o exército. Essa
riqueza era usada para sustentar a nobreza, os sacerdotes, os militares e os
funcionários públicos, além de financiar obras grandiosas e abastecer os
armazéns estatais para tempos de escassez. O controle sobre esse fluxo de bens
era a principal manifestação do poder asteca sobre seus vizinhos.
Mercados, Comércio e a Ausência de Moeda
Paralelamente ao sistema tributário, existia uma vibrante
rede de mercados (tianquiztli). O mais famoso, o de Tlatelolco, chegava
a reunir dezenas de milhares de pessoas diariamente, oferecendo uma variedade
impressionante de mercadorias. O comércio era baseado principalmente no escambo
(troca direta). No entanto, para facilitar as transações, certos itens
funcionavam como uma "quase-moeda" com valores padronizados, como
sementes de cacau, mantas de algodão (quachtli) e pequenas lâminas de
cobre. Os comerciantes de longa distância, conhecidos como pochteca,
formavam uma classe social à parte, arriscando-se em expedições perigosas para
trazer bens de luxo de terras distantes, atuando também como espiões para o
imperador.
A Economia do Sagrado: Oferendas e Sacrifícios
A dimensão mais singular da economia asteca era sua fusão
com a religião. Para os astecas, o universo operava em um ciclo de dívida e
pagamento com os deuses. Acreditava-se que os deuses haviam se sacrificado para
criar o mundo e o sol, e a humanidade, por sua vez, devia
"alimentá-los" com oferendas para garantir que o sol continuasse a
nascer, as chuvas viessem e as colheitas fossem férteis. Essas oferendas
variavam de alimentos e incenso a bens preciosos e, no seu ápice, sacrifícios
humanos. Essa "economia divina" justificava a guerra — para capturar
prisioneiros para o sacrifício — e a própria tributação, já que muitos dos bens
coletados eram utilizados nos complexos rituais que reafirmavam a ordem cósmica
e o poder do Estado como seu principal intermediário.
O Declínio: O Impacto da Conquista
Este sofisticado sistema econômico, embora robusto
internamente, era vulnerável a choques externos. A chegada dos espanhóis no
início do século XVI provocou o seu colapso. A conquista militar desmantelou a
estrutura de poder que garantia a cobrança de tributos. As doenças trazidas
pelos europeus dizimaram a população, destruindo a força de trabalho agrícola e
artesanal. Mais importante, a imposição do cristianismo e de um modelo
econômico europeu baseado na monetização e na exploração direta (como a encomienda)
erradicou a base ideológica da economia asteca. Os mercados foram
transformados, o sistema de tributo em bens foi substituído por impostos em
metal, e a economia do sagrado, que dava sentido a todo o sistema, foi
violentamente suprimida.
Referências
Sahagún, B. de. (1979). Florentine Codex: General History
of the Things of New Spain. (Traduzido e editado por Arthur J. O. Anderson
e Charles E. Dibble). University of Utah Press. (Originalmente escrito no
século XVI).
Smith, M. E. (2012). The Aztecs (3rd ed.).
Wiley-Blackwell.
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