A hipótese mais robusta e amplamente aceita centra-se em
mudanças climáticas severas, notadamente uma série de secas prolongadas e
intensas. Estudos de paleoclimatologia, baseados em análises de sedimentos de
lagos e espeleotemas (formações em cavernas), revelaram evidências de uma
significativa redução pluviométrica na região entre 800 e 950 d.C. (KENNETT et
al., 2012). As cidades-estado maias eram altamente dependentes de um
sofisticado sistema de agricultura intensiva e gestão de água, incluindo reservatórios
e canais, para sustentar suas grandes populações. A falha das chuvas sazonais
teria levado ao esgotamento das reservas de água, quebras de safra, fome
generalizada e, consequentemente, à desestabilização da base econômica que
sustentava a elite governante.
Este estresse ambiental foi exacerbado por práticas humanas
insustentáveis. Para construir seus monumentais templos e produzir o estuque
que os revestia, os maias praticaram um desmatamento em larga escala. A queima
de vastas quantidades de madeira para a produção de cal não só devastou a
floresta tropical, mas também contribuiu para a erosão do solo e a alteração do
microclima local, potencialmente intensificando os efeitos da seca. Assim, a
própria grandiosidade arquitetônica maia pode ter semeado as sementes de sua
vulnerabilidade ecológica.
Paralelamente, o cenário político do Período Clássico Tardio
era de instabilidade crônica. A paisagem mesoamericana era dominada por
cidades-estado rivais, governadas por uma linhagem de reis-divinos (k'uhul
ajaw) cuja legitimidade estava intrinsecamente ligada à sua capacidade de
garantir a prosperidade através de rituais e do sucesso militar. No final do
século VIII, a frequência e a intensidade das guerras entre cidades como Tikal
e Calakmul aumentaram drasticamente, conforme evidenciado por inscrições em
estelas e monumentos (DEMAREST, 2004). Essa guerra endêmica não apenas ceifou
vidas, mas também desviou recursos da produção agrícola, interrompeu rotas
comerciais vitais e minou a cooperação regional, tornando o sistema político
ainda mais frágil e incapaz de responder coletivamente às crises ambientais.
A confluência desses fatores — seca, fome e guerra —
culminou em um colapso social e ideológico. A população, afligida pela escassez
e pela violência, provavelmente perdeu a fé em seus governantes divinos, que se
mostraram incapazes de interceder junto aos deuses para restaurar a ordem
cósmica e a chuva. Essa quebra do contrato social entre governantes e
governados teria resultado em revoltas internas, no abandono da autoridade
central e, finalmente, na decisão das pessoas de "votar com os pés",
deixando os centros urbanos em busca de sobrevivência em assentamentos rurais
menores e mais sustentáveis.
Portanto, o abandono de Tikal e Copán não foi o resultado de
uma invasão alienígena ou de uma praga misteriosa, mas de uma falha sistêmica.
Uma sociedade complexa, com um sistema político fragmentado e práticas
ambientais no limite da sustentabilidade, foi empurrada para o abismo por uma
mudança climática severa. O colapso maia serve como uma poderosa lição
histórica sobre a delicada interação entre meio ambiente, estrutura social e
resiliência política.
Referências
DEMAREST, Arthur A. Ancient Maya: The Rise and Fall of a
Rainforest Civilization. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.
DIAMOND, Jared. Colapso: Como as sociedades escolhem o
fracasso ou o sucesso. 7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2011.
KENNETT, Douglas J. et al. Development and Disintegration of
Maya Political Systems in Response to Climate Change. Science,
Washington, v. 338, n. 6108, p. 788-791, nov. 2012.
WEBSTER, David L. The Fall of the Ancient Maya: Solving
the Puzzle of the Classic Collapse. London: Thames & Hudson, 2002.
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