Radio Evangélica

domingo, 26 de outubro de 2025

Os Deuses do Egito Antigo: Mito e Simbolismo — Rá

O panteão do Egito Antigo é vasto e fascinante, repleto de divindades que representam forças da natureza, virtudes, e os grandes mistérios da vida e da morte. Entre todas, poucas têm o peso simbólico e espiritual de , o deus do Sol, considerado o criador de todas as coisas e o soberano dos deuses. Rá não era apenas uma figura mítica — era a própria personificação da luz, do calor e da vida.

A Origem e a Criação do Mundo

Nos mitos heliopolitanos, Rá surgiu do oceano primordial do caos, conhecido como Nun, como um ser autogerado. Ao despertar, criou o mundo por meio do poder da palavra. De sua saliva nasceram Shu (o ar) e Tefnut (a umidade). Da união desses dois surgiram Geb (a terra) e Nut (o céu), que geraram os deuses Osíris, Ísis, Set e Néftis, completando a Enéade de Heliópolis — o grupo das nove divindades primordiais.

Assim, Rá tornou-se o ancestral de todos os deuses e da própria humanidade, que, segundo algumas tradições, nasceu de suas lágrimas.

A Jornada Diária do Sol

A cada amanhecer, Rá renascia no leste como Khepri, o deus escaravelho, símbolo do renascimento. Cruzava o céu em sua barca solar, Mandjet, iluminando o mundo. Ao meio-dia, atingia o auge de seu poder.

Ao entardecer, Rá embarcava em sua segunda barca, Mesektet, e atravessava o Duat — o submundo. Durante as doze horas da noite, enfrentava as forças do caos, especialmente a serpente Apep, que tentava engolir o Sol e mergulhar o universo na escuridão eterna. A vitória diária de Rá, auxiliado por deuses como Set, simbolizava o triunfo da ordem (Ma’at) sobre o caos.

Simbolismo e Iconografia

Rá é retratado como um homem com cabeça de falcão, coroado com o disco solar e a Uraeus, a serpente sagrada. O falcão representa o céu e a realeza; o disco solar, sua própria essência; e a serpente, o poder divino que protege o faraó e o mundo.

Outros símbolos associados incluem o obelisco, cuja ponta dourada capturava os primeiros e últimos raios do Sol, e o Olho de Rá, uma força feminina destrutiva e protetora, manifestada em deusas como Sekhmet, Hathor e Bastet.

Sincretismo e Evolução de Rá

Com o passar dos séculos, Rá foi se fundindo com outras divindades — um processo chamado sincretismo. A união mais famosa foi com Amun, formando Amun-Rá, o deus supremo durante o Novo Império Egípcio. Essa fusão uniu o aspecto visível e criador de Rá com a natureza invisível e misteriosa de Amun.

Também surgiram combinações como Atum-Rá (o sol poente) e Rá-Horakhty (“Rá, Hórus dos Dois Horizontes”), reforçando sua ligação com a realeza e o poder solar.

Conclusão

Mais do que um deus solar, Rá representava o princípio da criação e da continuidade. Sua travessia diária pelo céu e pelo submundo simbolizava o ciclo eterno da vida, morte e renascimento. Como mantenedor da Ma’at, a ordem cósmica, Rá permaneceu o centro da espiritualidade egípcia por milênios, lembrando a humanidade de que a luz sempre triunfa sobre as trevas.

Leitura Complementare:

Referências Bibliográficas 

HORNUNG, Erik. Conceptions of God in Ancient Egypt: The One and the Many. Ithaca: Cornell University Press, 1982.
QUIRKE, Stephen. Ancient Egyptian Religion. London: British Museum Press, 1992.
WILKINSON, Richard H. The Complete Gods and Goddesses of Ancient Egypt. London: Thames & Hudson, 2003.
FAULKNER, Raymond O. (trad.). The Ancient Egyptian Book of the Dead. 2. ed. Austin: University of Texas Press, 2015.

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