O Princípio: Ometeotl e a Gênese Divina
No início de tudo, existia apenas o vazio e o deus
primordial dual Ometeotl, ser andrógino composto por Ometecuhtli
(aspecto masculino) e Omecihuatl (aspecto feminino). Morando no mais
alto dos treze céus, Omeyocan, Ometeotl gerou quatro filhos — os Tezcatlipocas,
cada um ligado a uma cor e direção cardinal:
- Xipe
Totec (Tezcatlipoca Vermelho) – Leste.
- Huitzilopochtli
(Tezcatlipoca Azul) – Sul.
- Quetzalcóatl
(Tezcatlipoca Branco) – Oeste.
- Tezcatlipoca
(Tezcatlipoca Negro) – Norte, o mais poderoso.
A rivalidade entre Quetzalcóatl e Tezcatlipoca desencadeou
as eras cósmicas conhecidas como “Sóis”, cada uma governada por um deus e
encerrada em catástrofes que refletiam a luta pela supremacia divina.
As Cinco Eras Cósmicas
Primeiro Sol – Nahui-Ocelotl (Sol de Jaguar):
Governado por Tezcatlipoca. Habitavam-no gigantes, devorados quando
Quetzalcóatl derrubou o Sol e provocou a fúria do deus-jaguar.
Segundo Sol – Nahui-Ehécatl (Sol do Vento):
Regido por Quetzalcóatl. Ventos colossais destruíram a humanidade, e os
sobreviventes transformaram-se em macacos.
Terceiro Sol – Nahui-Quiahuitl (Sol da Chuva de Fogo):
Sob o comando de Tlaloc. Chamas divinas devastaram a terra e converteram os
homens em pássaros.
Quarto Sol – Nahui-Atl (Sol da Água):
Governado por Chalchiuhtlicue. Uma inundação universal extinguiu a humanidade,
metamorfoseando-a em peixes.
Quinto Sol – Nahui-Ollin (Sol do Movimento):
Os deuses reuniram-se em Teotihuacan para recriar o mundo. O altivo Tecuciztecatl
hesitou diante da fogueira sacrificial, enquanto o humilde Nanahuatzin
lançou-se sem temor, tornando-se o Sol. Por vergonha, o primeiro seguiu-o,
transformando-se na Lua.
Para que o novo Sol se movesse, os demais deuses sacrificaram-se, oferecendo
seu sangue vital. Quetzalcóatl, ao descer ao submundo Mictlan, resgatou
ossos antigos e, com seu próprio sangue, gerou a humanidade atual.
O Valor do Sacrifício e a Ordem Cósmica
A cosmogonia dos Cinco Sóis reflete a crença de que a
sobrevivência do universo depende do sacrifício divino e humano, um
princípio que sustentava os rituais astecas. O mundo é, assim, um delicado
equilíbrio de reciprocidade: os deuses doaram seu sangue para mover o Sol, e os
homens devem, em troca, alimentar o cosmos com oferendas.
Além do aspecto religioso, essa narrativa traduz uma visão filosófica de interdependência e polaridade, em que criação e destruição são forças complementares — ecos do dualismo inscrito na essência de Ometeotl. O universo, para os mexicas, existe apenas enquanto há movimento (Ollin), o ritmo sagrado que mantém a vida.
Leituras Complementares
Para ampliar sua compreensão sobre a cultura e
espiritualidade mesoamericana, leia também:
- O
Calendário Asteca e a Cosmovisão Cíclica do Tempo
- Os
Deuses do Egito Antigo: Mito e Simbolismo — Rá
- Quipus
e Chasquis: A Genial Rede de Comunicação do Império Inca
- Museo Nacional de Antropología –
México
- Encyclopaedia
Britannica – Aztec Religion
- MéxicoLore
– Aztec Gods and Cosmology
Referências Bibliográficas
LEÓN-PORTILLA, Miguel. A filosofia nahuatl: estudo da sua
fonte. Tradução de L. G. de Carvalho. Lisboa: Edições 70, 1981.
SOUSTELLE, Jacques. A civilização asteca. Tradução de
Maria Júlia Goldwasser. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1987.
TAUBE, Karl. Mitos astecas e maias. Tradução de
Cássio de Arantes Leite. São Paulo: Net-Trade, 1997.

Nenhum comentário:
Postar um comentário