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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

A Arquitetura Grega: Estilo Dórico

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A ordem dórica é a mais antiga e, em muitos sentidos, a mais austera das ordens clássicas gregas. Desenvolvida no continente grego e no Peloponeso a partir do período arcaico, consolidou-se como a linguagem arquitetônica de templos monumentais que exprimiam solidez, medida e clareza estrutural. Ao longo dos séculos VI–V a.C., o dórico evoluiu de proporções mais pesadas para soluções mais esbeltas e refinadas, alcançando um ápice técnico e estético em obras como o Parthenon (BEARD, 2002; NEILS, 2005).

Contexto histórico e cultural

O dórico nasce em ambientes dorianos (Peloponeso, Grécia continental) e se expande para as colônias da Magna Grécia (Sicília e sul da Itália), onde ganha versões particularmente massivas (LAWRENCE, 1996).
Em contraste com a ordem jônica, mais delgada e ornamentada, o dórico foi historicamente associado a ideais de sobriedade, disciplina cívica e masculinidade arquitetônica, refletindo valores das pólis que o adotaram (VITRUVIUS, s.d.).

Características formais

Coluna sem base: diferentemente do jônico e do coríntio, a coluna dórica pousa diretamente sobre o estilóbata. O fuste é canelado (geralmente 20 caneluras) e apresenta leve entasis (suave abaulamento) para correção ótica e expressividade estrutural.
Capitel: composto por um equino convexo e um ábaco quadrado, de desenho sintético e proporções contidas.
Entablamento: a arquitrave é lisa; o friso alterna tríglifos e métopas com relevos figurativos; acima, a cornija projeta-se com mútulas e gútulas, reforçando o ritmo tectônico (DINSMOOR, 1973).
Frontão: tímpano triangular frequentemente decorado com escultura, coroado por cimácios e elementos de beiral.
Proporção e ritmo: as primeiras colunas dóricas tendem a ser mais robustas; ao longo do século V a.C., o módulo afina, sem perder legibilidade estrutural.

Técnica construtiva e refinamentos óticos

Materiais: calcário e mármore em blocos aparelhados; colunas montadas por tambores unidos por chavetas metálicas.
Ajustes óticos: obras-primas como o Parthenon introduzem curvaturas sutis no estilóbata e inclinações de colunas para corrigir ilusões visuais à distância (COULTON, 1977).
Problema do canto: o alinhamento entre tríglifos e eixos de colunas levou à “contração de canto”, uma solução engenhosa típica do dórico.

Tipologias e espaço

Planta: pronaos, naos (cella) e opistódomos organizam o programa religioso, com circulação entre colunas perimetrais.
Disposição: templos hexástilos (6 colunas) são comuns; casos octástilos (8 colunas) indicam prestígio (DINSMOOR, 1973).
Escultura arquitetônica: as métopas e frontões integram narrativa e culto, fazendo do templo um organismo visual e simbólico.

 

Variações regionais e evolução

Magna Grécia: colunas mais espessas e entablamentos altos (Paestum, Selinunte, Agrigento).
Ática e Peloponeso: progressiva esbeltez e precisão ótica.
Época romana: o dórico romano ganha base e proporções padronizadas (SUMMERSON, 1980).

Obras exemplares

  • Templo de Hera I, Paestum (séc. VI a.C.)
  • Templo de Apolo, Corinto (séc. VI a.C.)
  • Templo de Afaia, Égina (transição arcaico–clássico)
  • Templo de Zeus, Olímpia (séc. V a.C.)
  • Parthenon, Atenas (séc. V a.C.)
  • Hephaísteion (Teseion), Atenas (séc. V a.C.)

Legado

A ordem dórica cristalizou uma gramática em que estrutura, proporção e significado convergem.
Seu vocabulário — colunas caneladas sem base, capitel de equino e ábaco, friso de tríglifos e métopas — tornou-se referência duradoura para o classicismo e segue inspirando arquitetos contemporâneos.

Referências Bibliográfica

BEARD, Mary. The Parthenon. London: Profile Books, 2002.

COULTON, J. J. Ancient Greek Architects at Work: Problems of Structure and Design. Ithaca: Cornell University Press, 1977.

DINSMOOR, William Bell. The Architecture of Ancient Greece: An Account of Its Historic Development. New York: W. W. Norton, 1973.

LAWRENCE, A. W. Greek Architecture. Rev. R. A. Tomlinson. London: Penguin Books, 1996.
NEILS, Jenifer (ed.). The Parthenon: From Antiquity to the Present. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.

SUMMERSON, John. The Classical Language of Architecture. London: Thames & Hudson, 1980.
VITRUVIUS. De Architectura. Traduções e edições diversas.

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