A Estrutura Dual do Calendário Asteca
O sistema calendárico asteca possuía duas engrenagens
principais que funcionavam em conjunto:
Xiuhpōhualli – O Calendário Solar (365 dias)
Chamado também de “contagem dos anos”, era o calendário
civil e agrícola. Organizado em 18 "meses" (veintenas) de
20 dias cada, totalizando 360 dias, mais 5 dias adicionais chamados nemontemi.
Esses dias extras eram considerados de mau agouro, um tempo de reclusão,
em que se evitavam atividades importantes, pois acreditava-se que o portal
entre o mundo humano e o divino permanecia aberto.
Tonalpōhualli – O Calendário Ritual (260 dias)
O calendário sagrado era o coração espiritual da
sociedade asteca. Funcionava como um oráculo do destino, determinando
dias propícios para nascimentos, coroações, casamentos, batalhas e rituais.
Sua estrutura combinava 20 símbolos (ou selos) — como vento, jaguar,
serpente, morte — com 13 numerais, formando 260 dias distintos, cada
um com uma energia e divindade próprias.
A Roda Calendárica e o Ciclo de 52 Anos
A interação entre o Xiuhpōhualli e o Tonalpōhualli
criava um ciclo maior, chamado de Roda Calendárica, que se completava a
cada 52 anos solares.
Este período marcava o fechamento de uma era temporal, e era acompanhado
por temor e esperança: acreditava-se que o universo poderia ser destruído
se os deuses não concedessem um novo ciclo.
Durante a cerimônia do Fogo Novo (Xiuhmolpilli),
todos os fogos eram apagados e o império mergulhava em escuridão. No topo de
uma montanha, os sacerdotes realizavam um sacrifício humano e, no peito
da vítima, tentavam acender uma nova chama.
Se o fogo surgisse, era o sinal de que os deuses haviam renovado o mundo
por mais 52 anos. Essa chama era então distribuída por todo o império,
representando a renovação da vida e do tempo.
O Tempo que Vive, Morre e Renasce
Para os astecas, o tempo era um ser vivo, não uma
linha reta. Ele nascia, morria e renascia em ciclos infinitos. Cada dia,
mês e ciclo era carregado de significados divinos, e o calendário
funcionava como ponte entre os deuses, os humanos e a natureza.
Essa visão contrasta com a concepção linear ocidental,
oferecendo uma poderosa metáfora sobre renovação, equilíbrio e harmonia
cósmica — valores ainda inspiradores na atualidade.
Linha do Tempo Essencial
1808 → Início das grandes reorganizações culturais e
filosóficas mesoamericanas redescobertas por arqueólogos.
1813 → Primeiros estudos modernos sobre o calendário pré-colombiano.
1832 → Redescoberta e tradução dos códices astecas que revelam o
funcionamento completo da Roda Calendárica.
Leitura Complementar
- Museu Nacional de Antropologia do
México – Calendário Asteca (INAH)
- UNESCO – Patrimônio Cultural
Mesoamericano
- Enciclopédia
Britânica – Aztec Calendar
Referências Bibliográficas
AVENI, Anthony F. Empires of Time: Calendars, Clocks, and
Cultures. Boulder: University Press of Colorado, 2002.
CARRASCO, Davíd. The Aztecs: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford
University Press, 2012.
GRAULICH, Michel. Le Sacrifice Humain chez les Aztèques. Paris: Fayard,
2005.
LEÓN-PORTILLA, Miguel. A Visão dos Vencidos: a tragédia da conquista narrada
pelos astecas. Porto Alegre: L&PM Editores, 2014.
SOUSTELLE, Jacques. La Vie Quotidienne des Aztèques à la Veille de la
Conquête Espagnole. Paris: Hachette, 1955.

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