Radio Evangélica

terça-feira, 21 de outubro de 2025

O Calendário Asteca e a Cosmovisão Cíclica do Tempo

A compreensão do tempo para a civilização asteca (ou mexica) era profundamente entrelaçada com sua cosmologia, religião e vida social. Longe de ser um mero sistema de contagem de dias, o calendário asteca era um complexo mecanismo que refletia a crença em uma existência cíclica, onde o universo era criado e destruído em sucessivas eras, e o destino humano estava intimamente ligado aos movimentos celestes e à vontade dos deuses.

A Estrutura Dual do Calendário Asteca

O sistema calendárico asteca possuía duas engrenagens principais que funcionavam em conjunto:

Xiuhpōhualli – O Calendário Solar (365 dias)

Chamado também de “contagem dos anos”, era o calendário civil e agrícola. Organizado em 18 "meses" (veintenas) de 20 dias cada, totalizando 360 dias, mais 5 dias adicionais chamados nemontemi.
Esses dias extras eram considerados de mau agouro, um tempo de reclusão, em que se evitavam atividades importantes, pois acreditava-se que o portal entre o mundo humano e o divino permanecia aberto.

Tonalpōhualli – O Calendário Ritual (260 dias)

O calendário sagrado era o coração espiritual da sociedade asteca. Funcionava como um oráculo do destino, determinando dias propícios para nascimentos, coroações, casamentos, batalhas e rituais.
Sua estrutura combinava 20 símbolos (ou selos) — como vento, jaguar, serpente, morte — com 13 numerais, formando 260 dias distintos, cada um com uma energia e divindade próprias.

A Roda Calendárica e o Ciclo de 52 Anos

A interação entre o Xiuhpōhualli e o Tonalpōhualli criava um ciclo maior, chamado de Roda Calendárica, que se completava a cada 52 anos solares.
Este período marcava o fechamento de uma era temporal, e era acompanhado por temor e esperança: acreditava-se que o universo poderia ser destruído se os deuses não concedessem um novo ciclo.

Durante a cerimônia do Fogo Novo (Xiuhmolpilli), todos os fogos eram apagados e o império mergulhava em escuridão. No topo de uma montanha, os sacerdotes realizavam um sacrifício humano e, no peito da vítima, tentavam acender uma nova chama.
Se o fogo surgisse, era o sinal de que os deuses haviam renovado o mundo por mais 52 anos. Essa chama era então distribuída por todo o império, representando a renovação da vida e do tempo.

O Tempo que Vive, Morre e Renasce

Para os astecas, o tempo era um ser vivo, não uma linha reta. Ele nascia, morria e renascia em ciclos infinitos. Cada dia, mês e ciclo era carregado de significados divinos, e o calendário funcionava como ponte entre os deuses, os humanos e a natureza.

Essa visão contrasta com a concepção linear ocidental, oferecendo uma poderosa metáfora sobre renovação, equilíbrio e harmonia cósmica — valores ainda inspiradores na atualidade.

Linha do Tempo Essencial

1808 → Início das grandes reorganizações culturais e filosóficas mesoamericanas redescobertas por arqueólogos.
1813 → Primeiros estudos modernos sobre o calendário pré-colombiano.
1832 → Redescoberta e tradução dos códices astecas que revelam o funcionamento completo da Roda Calendárica.

Leitura Complementar

Referências Bibliográficas

AVENI, Anthony F. Empires of Time: Calendars, Clocks, and Cultures. Boulder: University Press of Colorado, 2002.
CARRASCO, Davíd. The Aztecs: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, 2012.
GRAULICH, Michel. Le Sacrifice Humain chez les Aztèques. Paris: Fayard, 2005.
LEÓN-PORTILLA, Miguel. A Visão dos Vencidos: a tragédia da conquista narrada pelos astecas. Porto Alegre: L&PM Editores, 2014.
SOUSTELLE, Jacques. La Vie Quotidienne des Aztèques à la Veille de la Conquête Espagnole. Paris: Hachette, 1955.

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