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Como nos ensina o mestre Evanildo Bechara em sua Moderna
Gramática Portuguesa, a linguagem se realiza por meio desses atos. Mas o
que isso significa na prática? Vamos mergulhar nesse conceito fascinante.
O Que São Atos Linguísticos? Falar é Agir!
Cada vez que usamos a linguagem — seja para fazer uma
pergunta, dar uma ordem, contar uma história ou simplesmente dizer
"oi" — estamos realizando um ato linguístico. É a manifestação
concreta e individual da nossa capacidade de comunicação.
No entanto, Bechara destaca uma dualidade essencial: embora
o ato de falar seja individual, ele está "indissoluvelmente vinculado a
outro indivíduo". A linguagem, em sua essência, é um diálogo, um
"falar com os outros". Essa dimensão, que ele chama de alteridade,
é o que torna a comunicação possível e significativa.
Essa ideia foi aprofundada por filósofos da linguagem como
John L. Austin e John R. Searle, criadores da Teoria dos Atos de Fala.
Eles argumentaram que, ao falar, não estamos apenas dizendo coisas, mas também
fazendo coisas. Um enunciado pode ter três dimensões simultâneas:
- Ato
Locucionário: O ato de dizer algo, a produção literal de palavras e
frases. (Ex: "Está frio aqui.")
- Ato
Ilocucionário: A intenção por trás do que é dito, a "ação"
que se realiza. (Ex: Um pedido implícito para que alguém feche a janela.)
- Ato
Perlocucionário: O efeito que o enunciado causa no ouvinte. (Ex: O
ouvinte, de fato, se levantar e fechar a janela.)
Portanto, cada ato linguístico é uma ação com propósito e
consequência.
Isoglossas: As Fronteiras Invisíveis da Língua
Se cada pessoa realiza atos linguísticos de maneira única,
como conseguimos nos entender? A resposta está na padronização. Idealmente,
consideramos os atos linguísticos como "mais ou menos idênticos"
dentro de uma comunidade. É essa identidade aparente que permite a comunicação.
O conjunto desses atos linguísticos comuns forma o que a
dialetologia chama de língua. Bechara define uma língua como "um sistema
de isoglossas comprovado numa comunidade linguística".
Mas o que é uma isoglossa? Imagine uma linha
invisível em um mapa que delimita a área onde uma determinada característica
linguística ocorre. Por exemplo, a linha que separa as regiões do Brasil onde
se fala "tu" das que usam predominantemente "você". Essa linha
é uma isoglossa.
Essas "fronteiras" não são apenas geográficas.
Elas podem ser sociais, culturais e até individuais.
Os Muitos "Tamanhos" de uma Língua
Com base no conceito de isoglossas, entendemos que a
"língua" não é uma entidade única e monolítica. Ela existe em
diferentes "escalas", como aponta Bechara:
- Língua
Histórica: O sistema mais amplo, como a "língua portuguesa"
falada por milhões de pessoas em vários continentes.
- Modalidades
Nacionais: As variações de um país para o outro (o "português do
Brasil" e o "português de Portugal").
- Variações
Regionais: As diferenças dentro de um mesmo país (o português falado
no Rio de Janeiro, em São Paulo ou na Bahia). Esse é um campo fértil para
a sociolinguística, que estuda como fatores sociais (região, classe
social, idade, gênero) influenciam a fala.
- Variações
de Grupo: A linguagem de um grupo social ou de um estilo específico (a
gíria dos jovens, o vocabulário de uma profissão, a linguagem literária de
uma época).
- Idioleto:
O sistema linguístico de um único falante, com suas particularidades e seu
estilo único (o português de Machado de Assis ou o seu próprio jeito de
falar).
Conclusão: A Língua Viva
Entender o que são atos linguísticos nos liberta da visão
estática da gramática normativa. A língua não está apenas nos livros; ela pulsa
em cada conversa, em cada texto, em cada piada. É um sistema dinâmico, moldado
pela geografia, pela sociedade e, finalmente, por cada um de nós.
Cada vez que falamos, estamos reafirmando nossa identidade,
construindo relações e agindo sobre o mundo. A linguagem, afinal, é a mais
humana de todas as ações.
Referências Bibliográficas
AUSTIN, John L. How to do things with words. 2. ed.
Cambridge: Harvard University Press, 1975.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37.
ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
SEARLE, John R. Speech acts: an essay in the
philosophy of language. Cambridge: Cambridge University Press, 1969.





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