Somados,
projeção do Governo e oposição sobre total de votos de cada lado ultrapassa
número de deputados da Casa
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Deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Mariana Fonseca (PSDB-RO)
durante os debates do impeachment.
(Foto: UESLEI MARCELINO REUTERS)
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A Câmara dos Deputados do Brasil tem 513 deputados. São
eles que definirão o futuro da presidenta Dilma neste domingo. Para aprovar o
impeachment, é necessário o voto de 342 deles, ou dois terços da Casa. Para
derrubar o processo, o Governo precisa reunir 171 votos. Mas, a poucas horas da
votação aberta que começa na parte da tarde, os dois lados trabalham com
números que ultrapassam a realidade. Os apoiadores do impeachment alegam ter
368 deputados ao seu lado, enquanto os governistas garantem que tem 200 contra
o processo
de impedimento de Dilma Rousseff. A soma de placares propagandeados até
agora ultrapassa em 55 a quantidade de parlamentares que podem votar sobre a
questão.
A oposição a Dilma diz que os governistas contam com 126
votos, o que representaria uma vitória folgada para os pró-impeachment. Nem por
isso eles descuidaram um minuto de fazer corpo a corpo para evitar traições de
última hora. O mesmo vale para os pró-Dilma. Nos corredores, desde
quinta-feira, era comum ver deputados petistas abordando colegas de outras
legendas que ainda estavam indecisos e perguntarem: "o que você precisa
para votar com a gente?". Da mesma forma, representantes de movimentos
pró-impeachment pressionavam esses parlamentares a declararem logo seus votos.
Os procedimentos para a votação na Câmara do impeachment
de Dilma começaram na manhã de sexta-feira em clima de euforia para a oposição
e de derrota para os governistas. O deputado Carlos Marun (PMDB-MS) projetava
ao EL PAÍS 380 votos pelo impedimento no domingo. Ele teve de enfrentar uma
longa fila para se inscrever como orador favorável ao impeachment neste sábado,
e conseguiu apenas o 90º lugar numa lista de 170. Do outro lado, não havia a
mesma disputa para se inscrever entre os 79 que pretendem defender Dilma da
tribuna. Mas o clima mudou ao longo do dia.
Apesar da confiança ostentada por opositores do Governo
como o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), que já falava na tarde de sexta sobre
as prioridades de um futuro Governo Michel Temer, as informações de que a
atuação de governadores como Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, e do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silvacomeçavam a mudar votos acendeu um alerta na bancada do
impeachment.
As principais perdas nas contas de quem é a favor do
impeachment foram os votos deWaldir
Maranhão (PP-MA) e de Clarissa Garotinho (PP-RJ). Maranhão atendeu a
um pedido de sua base e decidiu votar contra o impeachment. No caso dele o que
pesou foi a política local. Adversário da família Sarney, o deputado disse que
não poderia estar do mesmo lado que ele nesta luta – Roseana Sarney,
ex-governadora do Estado, e filha do ex-presidente José Sarney, faz campanha
pela queda de Dilma. Já Clarissa, que também é a favor do impeachment, teve de
tirar uma licença médica. Por conta do estágio avançado de sua gravidez, ela
foi proibida pelo seu médico de viajar do Rio de Janeiro para Brasília.
Decidido a permanecer em São Paulo durante a votação de
domingo, Temer mudou de ideia e voltou a Brasília. "Não falei com ele, mas
houve uns ataques muito grandes e ele voltou para reagir", disse na manhã
deste sábado o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). As negociações
para Temer regressar à capital federal aconteceram até durante a madrugada.
Enquanto um grupo de deputados discursava na tribuna, outros pediam para se
reunir pessoalmente com o vice-presidente assim que fosse possível. A romaria
ao Palácio do Jaburu, a residência oficial do vice, voltou a ocorrer no sábado.
O pretexto da sua vinda seria também uma contraofensiva
ao discurso de Dilma que o atacou frontalmente. Num vídeo divulgado no perfil da presidenta no Facebook Dilma diz que
"o que está em jogo são as conquistas sociais e os direitos dos
brasileiros". "Vejam quem está liderando esse processo e o que
propõem para o futuro do Brasil. Os golpistas já disseram que, se conseguiram
usurpar o poder, será necessário impor sacrifícios à população
brasileira", diz a presidenta no vídeo, aludindo ao áudio
vazado de Temer. Inicialmente, o Planalto iria ocupar a rede nacional de
rádio e televisão para veicular defesa da presidenta Dilma Rousseff, mas
abortou a ideia temendo implicações legais.
Neste sábado, Temer foi ao Twitter se defender:
"Leio hoje nos jornais as acusações de que acabarei com o bolsa família.
Falso. Mentira rasteira. Manterei todos os programas sociais". O
vice-presidente da República aproveitou para passar outras mensagens, como a
defesa da Lava Jato e a unificação dos brasileiros. “Só sairemos da crise se
todos trabalharem pelo Brasil, não pelos seus interesses pessoais",
escreveu.
Enquanto emissários de Temer e Dilma articulavam, os
boatos seguiam. Estaria Eduardo Cunha pensando em adiar a votação de domingo
para evitar a derrota do impeachment que os governistas preveem? Em resposta às
especulações, o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) atravessou o plenário da
Câmara neste sábado alardeando que o movimento Vem pra Rua já contava 345 votos
pelo impeachment, três a mais do que o necessário para abrir o processo de
impeachment que então seguirá para o Senado, caso consiga a votação necessária.
Como lembrou, contudo, o chefe do Gabinete pessoal de Dilma, Jaques Wagner,
"não existe vitória antecipada" na política. É por isso que os dois
lados seguem atuando. E espalhando boatos.
El País
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