Aliados do peemedebista no Conselho de Ética recebem série de promessas
Vagas em comissões parlamentares. Relatoria de projetos
relevantes. Promessas de apoio em eleição de líderes de bancadas. Essas são
algumas das propostas feitas a deputados da tropa de choque de Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
para que seu processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados seja
arquivado. Oficialmente, nenhum dos possíveis beneficiados admite as trocas de
favores. Mas as mudanças de membros dentro do conselho e as movimentações de
bastidores mostram que, mesmo fragilizado, Cunha ainda articula intensamente
para se manter na cadeira de presidente e, claro, também na de deputado.
Há quatro meses, ou 52 dias úteis nas regras do
Legislativo, tramita no conselho um processo por quebra de decoro parlamentar
contra o peemedebista. A representação não
chegou a ser admitida, ou seja, Cunha ainda está longe de ter qualquer
pedido de punição analisado, porque uma série de manobras (por parte de seus
aliados) e de erros grotescos cometidos pela presidência do Conselho de Ética
só conseguiram atrasar o processo.
Enquanto isso, a tropa de choque do peemedebista e seus
opositores contam votos. Há uma clara divisão no órgão, formado por 21
conselheiros titulares. São dez votos para cada lado e o de minerva para o
presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PSD-BA). A maioria dos dez
parlamentares que já sinalizou votar a favor de Cunha, e contra a abertura do
processo, recebeu algum tipo de promessa, conforme o EL PAÍS apurou com
deputados que transitam tanto entre a tropa de choque do peemedebista quanto
entre seus opositores.
É comum um presidente da Câmara influenciar na decisão
sobre quem deve ocupar cada função nas comissões. “Estar em um cargo como
presidente ou relator de comissão ou ainda relator de projeto representa ter
mais trabalho, mas também muito mais poder e destaque para o parlamentar. É ele
quem conversa com os diversos setores da sociedade e do Governo para discutir
os detalhes das futuras leis, por exemplo”, explicou Yuri Carajelescov, mestre
em ciências jurídico-políticas e professor da Fundação Getúlio Vargas.
Um dos casos entre os apoiadores de Cunha é o da deputada
Jozi Araújo (PTB-AP). Ela teria recebido a garantia de permanecer em comissões
que a interessam enquanto representante da Federação das Indústrias do Amapá,
como a de Trabalho e a Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A parlamentar é
neófita no conselho e assumiu, neste mês, a vaga de Arnaldo Faria de Sá
(PTB-SP) que renunciou ao cargo de conselheiro a pedido da liderança de seu
partido e sob a promessa de presidir a comissão de Trabalho da Câmara. A
assessoria de Araújo disse que ela não recebeu nenhuma proposta.
Outros casos envolvem dois parlamentares que são cotados
para assumir cargos de presidente ou relator na CPI
do CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), que está
prestes a ser instalada e será mais uma das que serão usadas para enfraquecer o
Governo Dilma Rousseff (PT), de quem Cunha é adversário. O peemedebista
sinalizou que um de seus dois fieis aliados, João Carlos Bacelar (PR-BA) ou
Wellington Roberto (PR-PB), poderia ter uma das funções. Bacelar era membro
suplente no Conselho e se tornou titular depois de uma manobra do PSD. O
partido aproveitou a renúncia de Sérgio Brito (PSD-BA) por motivos de saúde
para fazer um gesto de serventia a Cunha e indicar um membro de outra legenda
que garantiria a sustentação a ele. Já Wellington Roberto, elaborou um
relatório alternativo em que pede que a investigação contra o peemedebista seja
aceita, mas que a punição seja branda e se inviabilize uma eventual cassação. Procurados
por meio de seus assessores de imprensa, os dois parlamentares não se
pronunciaram. Ainda na bancada do PR há um deputado que apoiou a eleição de
Cunha e, por ser do baixo clero na Casa, teria pouca margem de negociação. Ele
é Vinícius Gurgel (AP).
Entre os dez apoiadores há ainda dois do PP que tiveram
sinalizações de apoios em diferentes momentos. Cacá Leão (PP-BA) tinha recebido
a promessa de que teria o suporte de Cunha para se tornar líder da bancada do
partido na Câmara. Mas o peemedebista recuou de última hora e apoiou outro
parlamentar. Ricardo Barros (PP-PR), que no ano passado relatou
o Orçamento Geral da União, fora sondado por intermédio do antigo líder de
seu partido, Eduardo da Fonte (PP-PE) para receber outros projetos com
relevância semelhante. Leão não se manifestou. Barros disse que relatar
projetos de lei é uma prerrogativa parlamentar e negou veementemente que tenha
recebido qualquer pedido de apoio a Cunha no Conselho.
Segundo Barros, houve uma orientação de seu partido a
votar pelo arquivamento do relatório do deputado Marcos Rogério (PDT-RO), que
pede a admissibilidade do processo, porque ele é frágil, pois só se baseia na
investigação da Lava Jato que ainda não acabou. “Se olharmos a Lava Jato, os
senadores [Antonio] Anastasia e Aécio Neves [ambos
do PSDB-MG] foram citados, mas depois seus nomes foram retirados da
investigação por falta de provas. Quem garante que com o Cunha não ocorrerá o
mesmo?”, disse. Este deputado é um dos apoia o relatório-alternativo elaborado
por Roberto.
O mapeamento entre os apoiadores de Cunha ainda destaca
dois peemedebista, Mauro Lopes (MG) e Washington Reis (RJ), que não votariam
contra um colega de partido. Além dos deputados Erivelton Santana (PSC-BA) e
Wladimir Costa (SD-PA) que sempre são orientados por dois fidelíssimos
escudeiros do presidente da Câmara: André Moura (PSC-SE) e Paulo Pereira da Silva
(SD-SP). Ambos apoiaram Cunha na decisão de abrir o processo de impeachment
contra Rousseff.
Os
opositores
Do lado dos dez opositores, os interesses são distintos.
O relator, Marcos Rogério (PDT-RO), está sob forte pressão interna e tinha de
ao menos concordar com a abertura do processo, conforme dito por pedetistas
ligados a ele. O antigo relator, Fausto Pinato (PRB-SP), diz que foi ameaçado
enquanto era o responsável pelo processo e, por essa razão, teria de se
manifestar favoravelmente à investigação.
Os petistas Léo de Brito (AC), Valmir Prascidelli (SP) e
Zé Geraldo (PA) atendem ao pedido de sua bancada e agem de maneira a retaliar
Cunha por ele ter aberto o processo de impeachment presidencial. Júlio Delgado
(PSB-MG) disputou a eleição de presidência da Câmara contra Cunha, e perdeu.
Desde então é um dos principais críticos dele.
Os tucanos Betinho Gomes (PE) e Nelson Marchezzan Júnior
(RS) foram orientados pelo PSDB a fazerem oposição ao presidente da Câmara,
assim como o DEM orientou Paulo Azi (BA) e o PPS o fez com Sandro Alex (PR). A
mudança de postura ocorreu no fim do ano passado, depois que esses três
partidos de oposição ao Governo Rousseff notaram que estavam sofrendo um
desgaste e suas imagens ao serem apoiadores da gestão Cunha.
Enquanto essa novela não chega ao fim, os atores
envolvidos ganham os holofotes. As luzes serão acessas novamente na próxima
sessão do Conselho, na tarde de terça-feira, na véspera de o Supremo
Tribunal Federal decidir se aceita a denúncia do Ministério Público
Federal e transforma o presidente da Câmara em mais um réu da Lava Jato.
Por Afonso Benites para o El País
Nenhum comentário:
Postar um comentário