Solto depois de quase três meses de prisão, Delcídio Amaral (PT-MS)
transformou o retorno ao Senado, aguardado para os próximos dias, em um xadrez
com um objetivo: escapar da cassação.
Antigo líder do governo (E) deixou a carceragem na sexta-feira a noite Foto: Fabio Rodrigues Pozzedom/Agência Brasil |
Ciente de que sua presença no Congresso será um
constrangimento, o antigo líder do governo deixará de lado ameaças. Político de
trânsito entre as bancadas, pretende adotar um tom conciliador, capaz de
viabilizar o corpo a corpo com o qual tentará convencer a Casa de que foi
vítima de uma armação.
— Delcídio sabe que ir para o confronto só vai acelerar a
cassação. O discurso que ele faria na tribuna subiu no telhado. Ele virá com
calma — afiança um petista.
Nesta segunda-feira, o mal-estar pelo regresso iminente
do parlamentar era reconhecido pelos poucos senadores presentes em Brasília.
Incomoda a memória do embaraço vivido em 25 de novembro com a prisão do líder
do governo, acusado de atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato. Em
gravação feita por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, o petista
prometia influenciar o Supremo Tribunal Federal (STF) para permitir a fuga do
ex-diretor da Petrobras do Brasil.
– O melhor seria ele não voltar, tirar uma licença. Por
onde o senador Delcídio passar, haverá repórteres e curiosos. Vai atrapalhar o
funcionamento da Casa – afirma a senadora Vanessa Grazziotin (PC do
B-AM).
A defesa do petista vai insistir que as afirmações na
gravação tratavam-se de bravata e que a conversa não ocorreu no exercício do
mandato, recado já enviado aos caciques do Senado, que aconselharam Delcídio a
voltar na defensiva, preocupados com o dano de imagem à Casa e as críticas de
entidades, como a feita pelo novo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), Claudio Lamachia.
– O retorno do senador é deboche ao cidadão brasileiro e
desrespeito ao próprio parlamento – criticou Lamachia.
Senador
avalia licença de 120 dias
Desde sexta-feira, quando o ministro Teori Zavascki
encerrou sua temporada no cárcere, Delcídio Amaral (PT-MS) discute com
advogados e conselheiros como escapar do processo no Conselho de Ética, que
pode cassar o mandato. O desenho da estratégia, a necessidade de exames médicos
e as dúvidas sobre o horário em que ele está liberado para trabalhar adiaram a
volta ao Senado, prevista para entre segunda e terça-feira.
O parlamentar foi autorizado a cumprir atividades
legislativas durante o dia, com recolhimento domiciliar noturno. No entanto, a
defesa quer saber com exatidão em que momento ele terá de se recolher, pois é
comum que a sessões no Congresso se alonguem pela noite.
– Considero claro que o senador fique até o final das
sessões. Se terminar às 23h, encerra e vai para casa – afirma Gilson Dipp, um
dos advogados do parlamentar.
Delcídio avalia o pedido de afastamento de até 120 dias.
Por ora, seus advogados vislumbram licença mais curta, pois consideram
importante a presença do petista na Casa para procurar os demais senadores na
tentativa de evitar a cassação. Para Paulo Paim (PT-RS), o constrangimento deve
ser do antigo líder do governo.
— Decisão do Supremo a gente cumpre. É o Delcídio quem
tem de explicar para cada senador o que aconteceu — diz.
Já a bancada do PT busca acordo para minimizar os danos
da situação. Líder do partido, Humberto Costa (PE) falou na sextafeira por
telefone com o colega e acertou outra conversa para esta semana, na qual vai
explicar a decisão de substituí-lo na presidência da Comissão de Assuntos
Econômicos (CAE).
A interlocutores, Delcídio admite a possibilidade de
renunciar ao posto, abrindo espaço para Gleisi Hoffmann (PT-PR). A intenção do
parlamentar é evitar pancadaria. Suspenso do PT, ele analisa a possibilidade de
se desfiliar, a fim de evitar o desgaste da expulsão e buscar solidariedade na
cassação. O caso será avaliado na sexta-feira pelo diretório nacional da
legenda.
Por Guilherme Mazui para o Zero Hora
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