Será que a esquerda realmente tem o monopólio sobre a
narrativa hoje? No filme Obvious Child, Jenny Slate interpreta Donna Stern, uma
comediante de stand-up, que é especializada em fazer piadas sobre suas partes
íntimas, com a incursão ocasional no humor flatulento. Ela está prestes a
entrar no palco. Sua amiga lhe oferece algum incentivo: “Você vai acabar com
tudo lá em cima!”
Donna responde: “Na verdade, tenho uma consulta marcada
para fazer isso amanhã.”
Donna está falando sobre sua consulta agendada para fazer
um aborto.
Entendeu? É engraçado porque é verdade. Ou, se você é
como eu, você não acha graça porque é verdade.
Muitos críticos acham que é engraçado. Um afirmou que “de
longe está é a comédia pró-aborto mais premiada de todos os tempos.” Claro que,
como gênero artístico, a coisa está nivelada por baixo, seria algo como fazer o
melhor sushi de posto de gasolina do estado de Oklahoma.
Desde a estréia, no mês passado, o filme arrecadou menos
de US$ 2 milhões. Compare isso a Juno,
um filme brilhante [de 2007] amplamente visto como pró-vida (pelo menos entre
os pró-vida), ou Knocked
Up, uma comédia romântica vulgar também aclamada por adversários do aborto,
os quais arrecadaram mais de US$ 140 milhões no mercado interno. Portanto, Obvious
Child está mais para um filme mal-sucedido do que para um divisor de águas
cultural que seus apologistas e detratores o fazem parecer.
Isso é digno de nota dado que a escritora e diretora do
filme, Gillian Robespierre, foi motivada em parte porque filmes como Juno e Knocked
Up “esfregaram [na cara dela] a má escolha feita.”
Dinesh D’Souza teve uma motivação semelhante ao fazer America:
Imagine the World Without Her, um documentário que é uma carta de amor ao
seu país adotivo. Ele é muitas vezes descrito como o Michael Moore da direita,
mas ele possui um objetivo maior, na esperança de um dia competir com Steven
Spielberg e Oliver Stone na produção de longa-metragens. Ele diz a National
Review que “a esquerda conhece o poder de contar uma história.” Stone e
Spielberg são “muito maiores do que Michael Moore. Eles não fazem filmes de
esquerda – eles apenas fazem filmes, e eles têm um ponto de vista. Eu quero
fazer filmes com um ponto de vista diferente.”
D’Souza está absolutamente certo sobre Spielberg (embora
tenha sido muito gentil com Stone). Uma das minhas maiores queixas sobre o
conservadorismo contemporâneo – dentro e fora da política – é que ele perdeu de
vista a importância de contar histórias.
Meu falecido amigo Andrew Breitbart gostava de dizer que a política está
abaixo da cultura, o que significa que qualquer reviravolta política
verdadeiramente bem-sucedida precisa começar por mudar as atitudes populares.
Adam Bellow, um célebre editor de livros conservadores, tem uma convicção
semelhante e está tentando iniciar uma revolta conservadora no mundo da ficção.
Desejo-lhes grande sucesso. Ainda assim, eu acho que há
algo faltando nessa conversa antiga à direita (conservadores têm usado tais
argumentos desde 1950 — se não foi a partir da década de 1450, com a publicação
da Bíblia de Gutenberg). Os conservadores se recusam a celebrar, ou mesmo
perceber, o quanto da cultura popular está do seu lado.
Claro, Hollywood geralmente é muito esquerdista, mas a
América não é. A julgar por suas campanhas de doação, os esquerdistas de
Hollywood são muito favoráveis ao aborto. Mas há uma razão pela qual os
seriados desde Maude não possuírem um monte de episódios sobre o
aborto. Na verdade, quase todas as personagens grávidas de TV tratam o feto
como um ser humano.
A esquerda pode ser anti-militarismo, mas esses filmes
tendem a fracassar, sendo este o motivo pelo qual vemos mais filmes
pró-militarismo. Da mesma forma, é uma aposta segura que os esquerdistas de
Hollywood detestam armas. Mas você não saberia por meio daquilo que produzem.
Não são muitos os astros de filmes de ação a salvar o dia por ter recitado um
poema. A maioria dos esquerdistas de Hollywood, provavelmente, opoẽm-se à pena
de morte, mas eles fazem um monte de filmes onde o bandido encontra uma morte
horrenda sob os aplausos do público. A esquerda tem nojo dos “valores
familiares,” mas estes são a essência da maioria das comédias e dramas de
sucesso.
Uma explicação é que, embora seja verdade que a cultura
está acima da política, eu diria que a realidade e o senso moral estão acima da
cultura. Boas histórias devem alinhar-se com a realidade e um senso de justiça.
Elas podem se passar no espaço ou na terra média, mas se não condizem com algo
real sobre a condição humana, serão um fracasso. Como Margaret Thatcher
costumava dizer: “Os fatos da vida são conservadores.”
A confirmação do que digo, penso eu, pode ser vista no
fracasso do esquerdismo de Hollywood em ser tão esquerdista como gostaria de
ser. E isso é de fato engraçado porque é verdade.
Escrito por Dominik Armentano
para o site Mídia sem Máscara
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